Escola vira cemitério de sucata em Riachão do Dantas

Abandonado, prédio está ruindo (Fotos: Cássia Santana/Portal Infonet)

Em Riachão do Dantas, distante 91 km da capital, a Escola Agropecuária de 1º Grau Dr. Nagib Leitune Kalil, administrada pelo município, foi desativada há mais de dez anos e os sucessivos prefeitos nunca mais se interessaram em reativá-la. O prédio está em ruínas e a área se transformou em uma verdadeira lixeira, além de funcionar como um cemitério de sucata. Veículos que pertenciam à frota do município foram totalmente depenados e a sucata está acumulada na parte interna da escola, onde deveriam estar crianças e adultos aperfeiçoando conhecimentos.

A escola, segundo a comunidade, já proporcionou a formação profissional de vários cidadãos e também tinha espaço suficiente para abrigar projetos sociais, a exemplo do Programa de Enfrentamento ao Trabalho Infantil (Peti) e do Baú de Leitura, que funcionavam com incentivos do governo federal para combater a exploração do trabalho infantil e para incentivar crianças e adolescentes a criar o hábito pela leitura.

Sucatas tomam conta da grande área da escola

Atualmente, todo o espaço foi transformado em verdadeira lixeira. Todo o lixo recolhido pela prefeitura é depositado no pátio da escola. A estrutura física foi depredada e muito material foi roubado. A reportagem do Portal Infonet localizou professores que atuaram na escola, ex-alunos, pais de ex-alunos e até um dos vigilantes. Todos são unânimes em lamentar o fechamento da escola e em apelar em defesa da reabertura do estabelecimento de ensino. “Ah! Aqui estudava muita gente vindo de fora, vinha gente de Boquim, Lagarto… e até de Aracaju, mas o prefeito abandonou e até hoje nada foi feito”, lamenta o adolescente João José Santos Silva, 17, um ex-aluno.

O catador de reciclagem José Renato Gois dos Santos, 41, também lamenta por ter sido obrigado a transferir o filho para outra escola. “Foi um desperdício de dinheiro público, é uma pena”, lamenta. “Aqui tinha tudo, o ensino era bom e tinha até animais e muita gente estudava, o ensino era muito bom”, considera Renato Gois.

José Nascimento: recordações

O vigilante José Nascimento dos Santos, 59, que trabalhou na escola durante o período em que ela funcionou regularmente, não esconde a tristeza com a transformação. “Aqui, os alunos chegavam na segunda-feira e ficavam aqui estudando, internos, até a sexta. Na sexta-feira, às 3 da tarde, eles iam para casa para passar o fim de semana com a família e retornavam na segunda”, lembra. “Tinha gente de tudo quanto é canto: Tobias Barreto, Boquim, Pedrinhas, Arauá e daqui mesmo de Riachão”, informa.

Mea culpa

O ex-prefeito José Lopes revela que idealizou o empreendimento e confessa que contribuiu para fechar as portas. “Consegui recursos e inaugurei a escola, fiz convênio com a escola agrícola, coloquei ônibus…”, diz o ex-prefeito. Zé Lopes, como é conhecido na região, diz que na época em que a escola foi inaugurada, nos anos 90, foram realizados investimentos na ordem de R$ 4 milhões, com recursos repassados pelo Governo Federal.

Renato Gois, pai de aluno, cata lixo na área onde o filho estudou

Mas ele mesmo admite que não teve fôlego para manter o empreendimento em funcionamento. “Aí os alunos começaram a evaporar porque não tinha o segundo grau e, com a opção de outras escolas, foi faltando aluno porque a juventude daqui não tem aptidão para a agricultura”, ressalta.

Mesmo admitindo falta de fôlego para dar continuidade às atividades da escola, Zé Lopes responsabiliza o ex-prefeito Laelson Menezes pelo abandono. “Para pegar manchete, ele (Laelson) quando assumiu a prefeitura de Riachão juntou tudo quanto foi de carro velho e fez uma exposição na praça e depois jogou tudo lá e não deu manutenção à escola”, conta Lopes.

O Portal Infonet tentou localizar Laelson Menezes, mas não obteve êxito. O Portal continua disponível para o ex-prefeito apresentar as observações que considerar necessárias.

Centro Administrativo

Salas de aulas: depósito de pneus velhos

No dia 22 de março de 2010, de forma unânime, o Tribunal Regional Eleitoral de Sergipe (TRE/SE) cassou o mandato de Laelson Menezes, por abuso de poder econômico ocorrido nas eleições de 2008. Com o resultado, o vice José Almeida Fontes também perdeu o mandato e, no dia 18 de julho do mesmo ano, foi realizada eleição suplementar, que deu vitória ao atual prefeito Ivanildo Macedo.

Ivanildo Macedo é ex-aluno da escola Nagib Leitune Kalil, onde estudou por um período de dois anos, conforme confessou ao Portal Infonet. No entanto, ele não pensa em reativar o empreendimento enquanto escola pública. “Não vejo possibilidade do local voltar a ser escola porque já fechou antes por falta de aluno”, diz. Ele pretende aproveitar a área para erguer o centro administrativo da cidade, onde funcionará todos os órgãos da prefeitura. Sua pretensão é inaugurá-lo até o final deste ano, mas, como adverte, dependerá de recursos públicos.

Lixo da cidade é transportado para o terreno da escola

O projeto que o atual prefeito idealiza prevê a manutenção da lixeira na área, em um local cercado, na parte dos fundos. Devendo a lixeira ser transferida, segundo o prefeito, para o aterro sanitário que será construído futuramente por meio de consórcio, juntamente com outros municípios. “Eu acabei com três lixões no município e levei tudo pra lá [para os fundos da antiga escola] e agora estou buscando recursos para não deixar o prédio cair”, diz o prefeito. 

Resistência

O projeto do prefeito também encontra resistência entre a classe docente. O professor Eduardo Roza, que lecionou matemática durante quatro anos naquela escola, defende a revitalização do prédio para fazer funcionar uma nova escola naquele espaço. “Há possibilidade sim da escola ser reativada. Já existe a parte física, falta só a parte burocrática. Uma escola atenderia a toda a comunidade”, diz. “Não foi por falta de alunos. A escola fechou por falta de gestão, por falta de projeto pedagógico. A direção não tinha competência para tal envergadura. Por isso, veio o descaso e o fechamento da escola”, revela o professor.

Cadeiras quebradas também têm espaço nas salas de aula

O professor Eduardo Roza tem saudades das atividades que eram realizadas na escola. “Os alunos colhiam a produção e levavam para a família e havia grandes festas”, relembra. “Hoje, vejo um reduto de salteadores e o espaço usado para pastagem de animais”, lamenta.

O prefeito Ivanildo Macedo diz que, para restabelecer o empreendimento enquanto escola pública, o município teria que contar com apoio do Governo Federal. “A prefeitura não tem condições de manter a escola”, descarta.

Em 2008, o presidente da Federação das Associações das Micro e Pequenas Empresas do Estado de Sergipe, Nelson Araújo, fez um dossiê sobre o abandono da escola e encaminhou para deputados federais, Ministério da Educação e também para o Governo do Estado solicitando providências no sentido de revitalizar a escola técnica do município de Riachão. Mas não obteve sucesso.

Frota da prefeitura é depenada e jogada no pátio da escola

O empresário persiste na cobrança. No dia 25 de março deste ano, Nelson Araújo voltou a cobrar providência e enviou novo dossiê à presidente Dilma Rousseff. “Vossa Excelência é a nossa última esperança, a minha e a dos jovens do município de Riachão do Dantas”, alerta o empresário no documento enviado à presidente. “Finalizo, enviando toda a documentação da cruzada que venho fazendo em prol da recuperação e funcionamento desta escola”, conclui o empresário na correspondência.

Além da correspondência, Araújo anexou cópia de outros ofícios enviados a várias autoridades, desde o ano de 2003, fotografias antigas e recentes e um abaixo assinado com mais de 300 assinaturas de cidadãos de Riachão do Dantas que querem a revitalização da escola. Até o momento, o empresário não recebeu resposta da presidente. 

Por Cássia Santana

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