Escolas especiais: necessidade ou segmentação?

As escolas especiais são muitas vezes associadas a um ensino isolado, muito diferente do que se vê nas escolas tradicionais. No entanto, Edileuba Santos de Melo, diretora da Escola de Educação Especial João Cardoso Nascimento Júnior, ressalta que a didática de ensino e aprendizagem utilizada em ambos os setores é a mesma, variando apenas de acordo com as necessidades de cada aluno.

“É preciso ressaltar que as escolas especiais não foram criadas a fim de segmentar os alunos. A proposta é auxiliá-los a superar suas limitações e dar-lhes suporte para uma inclusão social. Os processos de aprendizagem são os mesmos pelos quais passam uma criança sem qualquer tipo de deficiência: estimulação, coordenação motora, leitura, dinâmica de grupo etc. O que fazemos é associar esse trabalho às necessidades de cada aluno”, explica a diretora da escola.

Entretanto, ela afirma que, infelizmente, a inclusão social não é para todos. “Ainda vivemos numa sociedade bastante preconceituosa, que julga o outro pelas limitações que apresenta e não por sua capacidade real de exercer seus ofícios. Por conta disso, acredito que a inclusão, infelizmente, ainda não é para todos. As deficiências física, visual ou auditiva podem ser superadas facilmente se trabalhadas da maneira correta, mas os portadores de deficiência intelectual e os que sofrem de paralisia cerebral dificilmente serão inseridos ativamente na sociedade, uma vez que suas limitações não atendem às necessidades cada vez mais rápidas do mundo globalizado e seletivo. Mas isso não quer dizer, em momento algum, que essas pessoas são incapazes, pois há muito o que aprender no universo dessas pessoas encantadoras”, completa Edileuba.

Saiba um pouco mais sobre cada deficiência e o que pode ser feito para incluir seus portadores no universo social.

Um universo sem cores

Geovânio faz atividades de coordenação motora
Desde muito cedo, Geovânio demonstrou ter dificuldades para enxergar os objetos ao seu redor. Preocupada com a limitação do filho, Rosivanda Santos procurou um oftalmologista e soube que o garoto era portador de deficiência visual. “Ele só enxergava se a gente ficasse bem perto dele e, mesmo assim, era bem pouco. Ele já fez cirurgia, mas não melhorou muito não. O médico disse ao meu marido que não tinha jeito, mas Geovânio ainda enxerga bem pouco. Se Deus quis dessa for,a deve ter sido por algum motivo”, disse a mãe do garoto.

Ivonildes de Souza trabalha com portadores de deficiência visual há mais de 12 anos e diz que, se comparada a outras deficiências, essa é a mais fácil de lidar. “É muito difícil para quem enxerga tentar entender como funciona um mundo sem cores porque tudo que vemos está ligado a isso. A cor do céu, do mar, de uma planta, enfim tudo está diretamente associado à visão. No entanto, as pessoas que não enxergam ou enxergam bem pouco, têm os outros sentidos bastante aguçados, refletindo significativamente em seu

Ivonildes diz que deficiência é superada pelos outros sentidos
aprendizado, fazendo com que a limitação seja reduzida ao máximo se comparada a outras deficiências. Costumo dizer que a dificuldade do deficiente visual é mais perceptível para os outros que para ele mesmo, pois eles não enxergam a discriminação”, completa.

Ela explica ainda que a maior tarefa dos portadores de deficiência visual é a noção de espaço e de limite. “As atividades desenvolvidas com essas crianças são as mesmas das escolas tradicionais. A diferença é que colocamos limites (relevos) em todas as atividades de coordenação. Nesse sentido, acredito que as autoridades deveriam investir mais em sinalizadores e em ofertas de cursos de Braille na cidade para facilitar a inserção dessas pessoas na sociade”, finaliza Ivonildes.

A ausência do som como forma de comunicação

Houve um tempo em que era muito comum ouvir que os surdos não se comunicavam, o que não é verdade, pois eles se utilizam de uma linguagem própria capaz de ser entendida por todos que a conhecem. Daí a derrubada da denominação surdo-mudo, atualmente classificada como preconceituosa.

Rosário se comunica com alunos através de Libras e da linguagem verbal
A professora Rosário Bitencourt trabalha com portadores de deficiência auditiva há vários anos e diz que o preconceito e a falta de iniciativa das autoridades em estabelecer medidas de inclusão ainda é perceptível. “É errado afirmar que o deficiente auditivo é surdo-mudo porque ele se comunica através da Linguagem Brasileira de Sinais (Libras). A falta de uma iniciativa governamental de implantar a Libras nas escolas é o maior problema enfrentado por essas pessoas, uma vez que fica implícito que elas têm que se adaptar à nossa linguagem verbal, o que não faz o menor sentido, já que é muito mais fácil conhecermos a linguagem delas”, diz.

Ela informa ainda que todo o trabalho desenvolvido na escola é destinado à inclusão dos portadores de deficiência auditiva. “Nosso objetivo é reduzir a discriminação e acabar com o conceito de que o portador de deficiência está incapacitado para desenvolver suas tarefas. Falo com meus alunos em Libras, mas ao mesmo tempo uso a linguagem verbal para que eles entendam o que estou falando, já que vão encontrara mais a frente pessoas que não se utilizam de sua linguagem própria e isso não pode prejudicá-los”, completa.

Em cada mente, um mundo

Joana Morcazel mostrou todo o seu talento em “Páginas da Vida”
Segundo a pedagoga Jucélia Gomes de Oliveira, professora de educação especial há quase 20 anos, a maior dificuldade de ensino está associada ao trabalho com portadores de deficiência intelectual. “É um trabalho muito difícil porque as respostas aos estímulos são muito lentas e o profissional precisa compreender muito bem qual o papel que desempenha na sociedade”, diz.  Além disso, é preciso entender que a luta maior, nesse caso, não é pela inclusão, mas pela necessidade de dar boas condições emocionais aos portadores de DI”, diz.

Além de ressaltar que a denominação deficiência intelectual é considerada discriminatória por muitos especialistas, Jucélia afirma que a maior parte dessas pessoas não vai para a inclusão. “O termo deficiência intelectual implica afirmar que a pessoa não tem capacidade de aprendizado, de conhecimentos, o que não é verdade. Claro que são poucos, mas vemos portadores de Downs que trabalham normalmente em inúmeros setores e desenvolvem suas tarefas com eficiência. Há, sim, uma limitação, mas não uma falta de capacidade. É triste, mas é verdade que grande parte das deficiências ditas como intelectuais não levam à inclusão social, não por falta de iniciativa, mas porque o próprio universo deles não permite, pois eles têm grande dificuldade no entendimento das relações sociais. No entanto, nem por isso deixamos de ajudar, pois o papel do professor é educar e há muitos que cumprem isso muito bem”, finaliza Jucélia.

A Escola de Educação Especial João Cardoso Nascimento Júnior foi criada em 1989 e, atualmente, atende 219 crianças de 0 a 12 anos com os mais diversos tipos de necessidades especiais.

Por Jéssica Vieira e Carla Sousa

 

 

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