Globalização: Um espelho da intolerância?

Foto: sxc.hu

É extremamente incômodo. No mínimo, inconveniente. Contudo, após os ataques ocorridos em 19 de março na escola judaica Ozar Hatorah, em Toulouse (França), o mundo percebe que rediscutir anti-semitismo e extrema-direita tornou-se algo inevitável. Ainda que de maneira acanhada, a opinião internacional tenta discutir uma realidade cada vez mais presente: A adoção da intolerância como resposta aos impactos provocados pelo processo globalizante.

Apesar do alarme geral, a ocorrência de crimes cometidos por grupos de extrema-direita não é recente. Há exatos 20 anos, atentados com características semelhantes ocorreram na cidade de Möelln (Alemanha), quando grupos neonazistas incendiaram um albergue de trabalhadores turcos provocando a morte de uma mulher de 53 anos e duas meninas. Além dela, outra cidade, também alemã (Solingen) foi vítima de ataques com as mesmas motivações onde morreram duas mulheres e três jovens turcas.

Assim, o que aproxima os incidentes ocorridos há 20 anos na Alemanha com os assassinatos cometidos na pequena escola de Toulouse? O discurso xenófobo como pauta da política de governo dos respectivos países que encontra, em ambientes de crises, solo fértil para a sua disseminação.

A crise do Estado de Bem-estar social iniciada nos anos de 1970 seria apenas o ponto de partida para entender como comunidades de regiões onde o contraste crescimento econômico e bolsões de pobreza foram marcantes, tornaram-se ambientes favoráveis para o florescimento de grupos extremistas, situação bastante comum em cidades consideradas globais, como Londres, Berlim, Paris e São Paulo.

Nos últimos anos esses grupos promoveram um ruidoso e alarmante crescimento. Estima-se que somente na Alemanha existam cerca de 70 mil pessoas que possam se encaixar no perfil neofascista, na Inglaterra o BNP (British National Party), principal condutor dessa visão política, ganha cada vez mais espaço, assim como na França Jean-Marie Le Penn já esteve entre as principais lideranças da Nouvelle Droite (Nova Direita Francesa) e a atual disputa eleitoral francesa evidencia que adoção de restrições aos imigrantes será pauta dos futuros governos. Até a Rússia, herdeira do antigo comunismo soviético, apresenta-se como solo fértil para a disseminação de ideias neofascistas propagandeadas por Wladimir Jirinowsky. Por isso, as novas realidades impostas pela Globalização, isto é, as tensões decorrentes dos processos migratórios, tornam-se ingredientes ainda mais explosivos para esse contexto.

Não faz muito tempo que o professor Francisco Carlos Teixeira da Silva (UFRJ) alertava em entrevista à Globo News sobre o crescimento de um possível movimento de extrema-direita. Àquela época, a comunidade internacional lamentava a tragédia ocorrida na ilha de Utoya (Noruega) quando o atirador Anders Behring Breivik promoveu o assassinato de mais de 90 pessoas.

O caso foi considerado isolado e fruto de uma doença mental do criminoso. Pois bem, nesse caso, resta rotular esse crime como tantos outros como mais uma fatalidade ou entendê-lo como reflexo de algo muito maior. É triste aceitar a existência de movimentos com esse caráter, sobretudo após os traumas provocados pelo Holocausto. Contudo, percebê-los como algo concreto e atual já seria um grande passo para discutir soluções sobre esse dilema.

*Integrante do GET – Grupo de Estudos do Tempo Presente (UFS-CNPq). Mestrando do Núcleo de Pós-graduação e Pesquisa em Ciências Sociais (NPPCS/UFS). paulo@getempo.org

Comentários

Nós usamos cookies para melhorar a sua experiência em nosso portal. Ao clicar em concordar, você estará de acordo com o uso conforme descrito em nossa Política de Privacidade. Concordar Leia mais