Movimentos sociais, mídia e a aura do impulso da mudança

(Foto: Divulgação)

A história dos movimentos sociais no mundo está diretamente ligada aos meios de comunicação. O desenvolvimento do capitalismo e do Estado Moderno criou um ambiente favorável a partir do século XVII para que novos atores políticos começassem a intervir no jogo de forças da sociedade, apoiados nas mídias nascentes para fazer ecoar seus discursos. Com o advento da imprensa e posteriormente dos veículos eletrônicos, lutas por reconhecimento se tornaram cada vez mais lutas pela visibilidade, ao alcançar uma dimensão pública e servir como apelo para a mobilização dos indivíduos.

Gestada ainda nos grupos de caráter revolucionário e operário, essa simbiose se acentuou com a complexificação e proliferação dos coletivos sociais pós-anos 60, que passaram a lutar por causas mais diversas: pacifismo, feminismo, ambientalismo, racismo, direitos civis e diversidade sexual. O surgimento dos novos movimentos sociais forneceu amplo testemunho de que as reivindicações até então subordinadas ou marginalizadas só são conquistadas através de lutas pelo espaço do visível na mídia, reflexo da transformação geral da natureza do poder e da política nas sociedades modernas.

Em meios à ascensão e fortalecimento das comunicações de massa no século XX, o acesso à mídia e à produção simbólica passou a ser fundamental tanto para a capacidade de mobilização dos movimentos sociais quanto para influenciar a opinião pública e pressionar o sistema político. O grande entrave nesse processo tem sido, desde então, a formação de grandes conglomerados midiáticos baseados num modelo oligopolista, concentrador e excludente, em que as elites, o mercado e o Estado exercem o papel de controladores da informação.

Diante de tal cenário, só restam a esses coletivos dois caminhos: desenvolver repertórios de ação para chamar a atenção das indústrias da mídia ou investir nos próprios meios de comunicação, na busca por definir e enquadrar suas demandas, atingir potenciais alvos, organizar a ação coletiva e, por último, atrair a atenção dos meios massivos. O nascimento e a rápida expansão das novas Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs) fortalecem a produção e veiculação dessas comunicações alternativas e possibilitam formas inéditas de apropriação, capazes de provocar mudanças nas interações geradoras de sociabilidade, cultura e mobilização.

Ao possibilitar que pessoas comuns e grupos organizados realizem atividades antes concentradas nas indústrias da mídia, abrindo caminhos inéditos e de baixo custo para gerar e distribuir conteúdos em rede, as tecnologias digitais desconstroem os papéis tradicionais de produtor/consumidor e emissor/receptor. A partir de suas especificidades e, sobretudo, da inversão causada nos fluxos comunicativos paradigmáticos até então, a Internet tem favorecido a criação e o aperfeiçoamento de novos repertórios de ação dos movimentos sociais e o surgimento de formas inéditas de ativismo.

Se o simples acesso a essas ferramentas digitais fortalece, e em que medida, a ação política, só estudos mais aprofundados poderão dizer no futuro. O que se sabe até então é que cada nova tecnologia da comunicação trouxe, no seu tempo e contexto históricos, essa aura de impulso da mudança, posteriormente esvaziada a partir dos usos comerciais e das apropriações pouco qualificadas feitas delas. Foi assim com a prensa, o cinema, o rádio e a televisão. Pode ou não ser assim com a Internet.

*Carole Ferreira da Cruz é jornalista, mestranda em Comunicação pela Universidade Federal de Sergipe, integrante do Grupo de Estudos do Tempo Presente (GET/CNPq/UFS), editora dos Cadernos do Tempo Presente e bolsista Fapitec. O artigo integra as colaborações à coluna do GET.

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