14 de março de 2008, aproximadamente sete horas de uma noite de sexta-feira em Bogotá, capital da Colômbia. O jovem skinhead Luis Felipe Toquica, de apenas 17 anos, circulava nas proximidades de um shopping center da cidade logo após ter comprado ingressos para um concerto que seria realizado em poucos dias. Ia de encontro a alguns amigos que o esperavam ali perto para aproveitarem juntos o início do fim de semana, falarem sobre o show que em breve
veriam juntos e conversar sobre seus ideais nazistas, como costuma ocorrer em encontros deste tipo.
Mas os planos de Toquica foram interrompidos. Sem que esperasse, ele foi violentamente agredido por um grupo de outros skinheads, que o cercaram e aplicaram-lhe socos e pontapés, além de exaustivas pancadas e punhaladas.
Deitado, o rapaz tentava proteger a cabeça e o rosto. Sem sucesso. Os ferimentos foram graves e Toquica, franzino e frágil, não conseguiu resistir: aos 17 anos, no auge de sua juventude, faleceu. Foi sepultado poucos dias depois.
Um dos supostos skinheads responsáveis por sua morte, Freddy Alexander Ramirez Otalvaro, acusado pelo homicídio do jovem, foi declarado inocente um ano depois por falta de provas e má condução das investigações lideradas pela polícia de Bogotá. Os amigos neonazistas de Toquica revoltaram-se. Para eles, a liberdade de Otalvaro significava a incapacidade do Estado em lidar com a violência e a sua irresponsabilidade diante de uma injustiça sem tamanho. Pouco antes do suposto assassino ter sido declarado inocente, os amigos do jovem relembraram sua morte por meio de uma apresentação musical, com a presença de bandas que o homenagearam e cantaram em protesto à impunidade, mas em favor de um ideal violento.
Este acontecimento, com um desfecho tão impactante quanto uma morte pode causar, nos revela alguns aspectos a respeito da presença de grupos neonazistas na América do Sul, algo que pode surpreender muitos que desconheçam este fato. Em primeiro lugar, é importante percebermos que na América do Sul, organizações como a Tercera Fuerza, da qual Toquica fazia parte, possuem ambiciosas pretensões políticas e sociais baseadas no que defendiam Adolf Hitler, Benito Mussolini e seus sucessores, filósofos e ideólogos que renovaram o ideário fascista, adaptando-o aos novos tempos.
Toquica, um jovem de 17 anos, não foi o único menor a alinhar-se com grupos deste tipo. A juventude é um fator importante para o crescimento de organizações e partidos de extrema-direita, tal qual ela fora para Hitler. Sua participação é enérgica, vívida, sendo possível desenvolver um senso crítico voltado para estes ideais ao atingirem a maioridade, passando adiante aquilo que aprenderam. A presença da juventude é conquistada, principalmente, pelo fato do nacional-socialismo forjar uma ideia de pertencimento, de união, tudo isto sob a luz de imagens, evocações históricas e pela música.
Mais do que qualquer outra coisa, a morte de Toquica nos alerta para a existência de uma verdadeira guerra nas ruas, onde minorias são caçadas por “soldados” de um fascismo moderno, ressurgindo diante de nossos olhos. Além disso, existe uma guerra entre facções adversárias, entre skinheads neonazistas ou de esquerda. E o Brasil não está isento disto: possui suas próprias organizações neonazistas, seus concertos de “música de ódio”, seus jovens aderindo a estes movimentos e morrendo em batalhas urbanas.
(*) Graduando em História pela Universidade Federal de Sergipe. Bolsista do Programa de Educação Tutorial (PET/FNDE/MEC). Integrante do Grupo de Estudos do Tempo Presente (GET/CNPq/UFS) coordenado pelo Prof. Dr. Dilton Cândido Santos Maynard.
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