O que Aracaju tem?

Executar tarefas domésticas são um dos contras de morar sem os pais

 Sair da casa dos pais para morar sozinho não é uma decisão fácil para a maioria das pessoas. Imagine então se ela acabou de sair do colégio e vai para uma cidade ou Estado diferente para cursar a Universidade – tudo isso aos 18, 19 anos de idade.

 

Apesar de essa mudança exigir bastante maturidade por parte do jovem, esse tipo de situação não é mais tão incomum assim. Um ótimo exemplo para comprovar isso é a enorme quantidade de universitários – principalmente baianos – que moram aqui em Sergipe.  Não é difícil perceber que a maior parte deles procura as faculdades e universidades particulares do Estado.

 

Carlos Bastos, coordenador da Comissão Permanente de Processo Seletivo da Universidade Tiradentes (Unit), onde um bom número deles estuda, informou que cerca de 30% dos estudantes da instituição são da Bahia. Segundo ele esse número costumava ser bem maior – mais da metade do corpo discente –, mas tem decrescido nos últimos anos, provavelmente devido à abertura de novas faculdades e cursos no Estado vizinho.

 

Entre as diversas conseqüências desse contingente de jovens chegando ao Estado está a formação de verdadeiras comunidades formadas por eles. O exemplo mais visível é o bairro Farolândia, localizado na capital. É como se uma micro-Bahia tivesse sido construída lá.

 

Um dos moradores desse grande grupo, o estudante de Direito João Paulo Santana, a maior dificuldade de morar longe da família é o corte abrupto das relações com os familiares.  “Acho que esse é o motivo para que o pessoal que é do mesmo Estado e está numa situação parecida acabe se isolando. A gente normalmente sai para os mesmos lugares, conhece as mesmas pessoas e termina formando turma só de baianos para se sentir mais em casa”, explica o estudante soteropolitano que mora em Aracaju há 5 anos.

 

Para ele o problema da solidão não é tão grande, já que ele divide o apartamento com um amigo, também baiano. Mas o universitário faz questão de frisar que esse estilo de vida não é só de diversão, como muita gente pode pensar. “São duas pessoas diferentes, criados de maneiras diferentes que precisam se adaptar uma à outra para conseguir conviver”, esclarece ele.

 

Além disso, segundo João, há uma série de dificuldades para entrar no mercado de trabalho quando se é de outro Estado e não se conhece ninguém para ajudar nos primeiros passos. Ele diz que as empresas vêem o pessoal de fora como se eles estivessem sempre  com as malas prontas para voltar para casa, o que dificulta a contratação.

 

João Paulo conta que saiu de sua cidade porque lá havia na época apenas três faculdades de Direito, cujas concorrências – assim como as mensalidades – eram muito altas. “O gasto que tenho para me manter aqui é até menor do que se eu morasse em Salvador. Agora que estou terminando o curso consigo até ajudar meus pais com as despesas”.

 

Mas nem só de faculdades particulares vive o estudante baiano. Osmar Souza não hesitou quando passou no vestibular da Universidade Federal de Sergipe e viu a possibilidade de sair de sua cidade-natal – Catu, na Bahia – para morar sozinho em Aracaju. Osmar, por estudar em uma universidade pública, tem algumas facilidades, a exemplo da alimentação no Restaurante Universitário por um valor abaixo do praticado no mercado.

 

“Esse tipo de coisa diminui meus gastos em Aracaju, mas mesmo se elas não existissem ficaria financeiramente melhor para mim morar aqui do que em Catu”, afirma ele, que não vê a hora de se formar para finalmente decidir se vai permanecer na cidade – como é o seu desejo – ou se vai voltar para o interior da Bahia.

 

Osmar viaja para ver os pais a cada dois meses, mas confessa que às vezes passa vários dias sem ligar para casa. “Desde pequeno procurei me desfazer desse sentimentalismo exagerado com a minha família. Para mim, quanto mais independente eu conseguir ser, melhor”, declara o universitário de 19 anos. 

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