Pagar por trabalhos acadêmicos é meio fácil para obter diploma

Monografias são pré-requisito para conclusão de curso superior
Adrine Cabral está encerrando o curso de Comunicação Social na Universidade Federal de Sergipe (UFS). Como se encontra no último período, ela está desenvolvendo seu trabalho de conclusão de curso (TCC). “Tenho dedicado quatro horas do meu dia para a monografia e sei que à medida que o tempo for passando, terei que me esforçar ainda mais”. Mas o “trabalho duro” não é a realidade de todo estudante que precisa fazer um artigo científico ou TCC. Muitos optam por pagar para que outras pessoas façam o trabalho, para não “perderem” tempo desenvolvendo o projeto.

São anúncios de pessoas em jornais e sites específicos que oferecem o serviço de “assessoramento” de atividades acadêmicas ou produção de monografias e trabalhos científicos. O TCC é obrigatório para a conclusão da maioria dos cursos superiores e por isso, muitos recorrem a estes serviços para garantir a aquisição do diploma. A procura pela “terceirização” das monografias é grande.

Adrine prefere produzir seu próprio TCC
“Eu nunca fiz publicidade do meu trabalho, mas as pessoas começaram a me procurar com grande recorrência e a partir daí, percebi que dava para ganhar dinheiro com a produção dos trabalhos”, informa Alex (nome fictício). Ele produziu trabalhos acadêmicos para terceiros por mais de quatro anos e explica que começou a fazer isso no início da faculdade de Publicidade em uma instituição particular de Aracaju, quando um colega lhe ofereceu dinheiro para fazer sozinho uma atividade que seria em dupla.

“Desde então, os meus colegas de turma começaram a me procurar e eu passei a ser requisitado por pessoas de outros cursos e universidades”, informa Alex. A partir daí, o estudante percebeu que o serviço era lucrativo e como ele estava com tempo disponível, passou a aceitar os trabalhos que lhe eram solicitados. “Já cheguei a lucrar mais de R$ 1 mil por mês, desenvolvendo vários trabalhos ao mesmo tempo”, ressalta.

Qualidade dos trabalhos

“Eu não pagaria para outra pessoa fazer um trabalho para mim. Não confiaria”, afirma Alex. Mesmo garantindo que os artigos que produz agradam os professores, ele não entregaria uma atividade sua para outro estudante fazer. “Prefiro fazer os meus trabalhos. É mais confiável”, esclarece.

Segundo ele, com a prática, fica “fácil” fazer os trabalhos. “Sei fazer da forma que os professores gostam”, enfatiza o estudante. Entretanto, ele afirma que a produção de uma monografia ou de um projeto de pesquisa requer a participação do responsável pelo trabalho. “A pessoa precisa acompanhar o desenrolar da pesquisa até mesmo para saber apresentar o projeto ao final das atividades”, explica Alex. Ele afirma que durante o período que trabalhou com a produção desses artigos, nunca fez uma monografia sem a colaboração do estudante responsável pelo projeto.

Já a estudante Márcia (nome fictício) informa que produz o trabalho sem participação do estudante, contanto que ele pague R$ 10 por página escrita. “Geralmente, uma monografia possui de 50 a 100 páginas, variando de acordo com o tema abordado e eu cobro seguindo o número de páginas do trabalho”, destaca.

Muitos estudantes optam por comprar monografias prontas / Foto: Arquivo Infonet
Perfil dos interessados

Estudantes que trabalham durante o dia e estudam à noite formam o perfil dos “clientes” desses serviços. “Além dos meus colegas do curso de Publicidade, eu também fiz muitos trabalhos para estudantes de Administração, Ciências Contábeis e de cursos de pós-graduação”, informa Alex. Mas além desses, “muitos estudantes que não querem ter o trabalho de pesquisar o assunto também pagam pelos meus serviços”, argumenta.

Atitude “condenável”

O professor universitário Matheus Felizola condena a prática. Para ele, “tanto o aluno que paga para fazer o trabalho como aquele que recebe por tal serviço estão errados”. Embora o professor acredite não ter tido nenhum aluno que pagou pela monografia, ele informa que já flagrou vários trabalhos acadêmicos feitos por outras pessoas. “Dá para perceber quando o trabalho não é produzido pelo aluno”, ressalta Matheus.

Analisar o histórico do aluno, comparar o texto do trabalho com outros escritos pelo estudante e indagá-lo sobre a pesquisa, questionando-o sobre pontos importantes dos resultados apresentados no artigo são as formas que o professor Felizola utiliza para descobrir os trabalhos comprados. “Instigar o aluno sobre a pesquisa e avaliar o texto são meios eficazes para descobrir essa prática”, orienta o professor.

Matheus Felizola informa que já passou pela situação várias vezes. “Em todos os casos em que desconfiei da origem do trabalho, questionei os alunos, eles confessaram que não foram os autores da pesquisa e levaram nota zero pela atitude”, afirma.

Por Valter Lima

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