Professores são impedidos de dar aula

Professores foram reunidos na porta da escola (Fotos: Portal Infonet)

Uma campanha dos educadores municipais da cidade de Maruim está causando polêmica. Com o slogan ‘Salve a Educação Pública de Maruim’ estampada em uma camiseta preta com a imagem de uma caveira, os professores protestam pelo que eles classificam o caos na educação. A campanha não foi aceita pela prefeitura que na manhã desta quarta-feira, 14, determinou que todos os professores que estivessem vestidos na camisa fossem proibidos de dar aula.

De acordo com a representante do Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Estado de Sergipe (Sintese), a professora Izabel Nascimento, a situação foi constrangedora e mostra a forma intransigente com que o município trata o pleito da categoria. “Nós fomos surpreendidos com essa determinação. A nossa campanha reivindica uma educação pública de qualidade porque o que estamos presenciando em Maruim é um caos. São escolas sem merendas de qualidade, prédios precisando de reforma, material escolar e a questão salarial dos professores. Infelizmente não conseguimos negociar com a prefeitura porque eles não aceitam, Maruim se transformou em uma verdadeira ditadura militar”, conta a professora da Escola Municipal Maria Fidelis Costa, localizada no povoado Pau Ferro.

Secretária da educação diz que a camisa é anti-pedagógica

Em poucos minutos, os professores da cidade foram informados da determinação e solidários resolveram realizar um ato público na frente da E.M.E.F Cel. Sabino Ribeiro. Professores e pais de alunos buscaram uma explicação sobre os motivos que levaram crianças e adolescentes fora da sala de aula. Alguns pais de alunos estavam indignados com o fato de atribuir a falta de aula a camisa usada pelos professores. “Meu filho não reclamou de nada, também não vejo nada demais nas camisas, pior é não ter merenda escolar”, diz Maria Santos.

A professora do Sabino Ribeiro, Maria do Carmo Santos Lima, está revoltada com a situação. “Logo que cheguei fui informada que a determinação foi da secretária [Lidia Rosa Nunes] e do prefeito [Gilberto Maynart] foi humilhante, os alunos ficaram perguntando por que eu não podia entrar e os pais na porta da escola presenciando a situação. Essa campanha foi lançada em setembro juntamente com o grito dos excluídos. Passei quatro anos em uma universidade e mais dois anos em uma pós-graduação para hoje ver serviços gerais me substituindo dentro de sala de aula”, fala.

Sandra exibe seu contracheque e pede melhorias na educação pública

Outra professora da mesma escola, Williana Santos, ressalta que o ato de impedir a entrada dos professores em sala de aula mostra que o município não deseja negociar. “Foi uma falta de respeito, até com o direito de ir e vim. Fomos impedidos de entrar na escola por ordem da administração municipal que se recusa a negociar com os professores”, salienta.

“Infelizmente essa é a situação, estamos e vamos continuar pedindo que salvem a educação pública do caos da falta de merenda escolar e da falta de diálogo porque não somos atendidos pelo prefeito”, fala Cristiane Santana.

“É triste ver a falta de administração de Maruim, porque o problema daqui não é falta de verba e sim falta de administração. Trabalho na escola de Ensino Fundamental São José e fico muito triste em ver os alunos que são de uma comunidade carente chegar na escola, muitas vezes sem tomar café e ter como lanche três biscoitos secos, sem suco”, relata Maria Vilma Santos.

A professora Maria do Carmo está revoltada com a situação

Contracheque

A professora Sandra Regina Cruz Araujo exibe o contracheque nas mãos e lembra que a falta de estrutura das escolas deve ser uma preocupação para os gestores. “O que ocorreu hoje foi uma situação constrangedora, pais, alunos e professores do lado de fora da escola enquanto a direção do colégio [Maria Fidelis Costa] impedia a entrada alegando que estava cumprindo ordem. Infelizmente somos constantemente submetidas a situações constrangedoras, tenho 12 anos como professora e os meus vencimentos é de R$1200, uma vergonha. Por conta dessa luta por melhorias na educação estou enfrentando problemas de saúde”, fala.

Câmara

O vereador Perón confirma a falta de diálogo entre a prefeitura e os professores 

O vereador Perón Vieira (PV) confirma a falta de entendimento e diálogo entre a administração municipal e os professores. “Desde que o Sintese passou a cobrar as melhorias na educação, começaram as perseguições aos professores. No pagamento do Piso os professores tiveram perdas, cheguei a pedir vistas, mas o projeto de lei foi aprovado. Para tentar abrir um canal de negociação convocamos uma audiência pública para quinta-feira [15] ás 19h30”, observa.

Ministério Público

Representantes do Sintese estiveram em Maruim e resolveram levar a situação ao Ministério Público. “Nós informamos a situação ao Ministério Público e vamos aguardar. Hoje a tarde, ás 15h, nós vamos ter uma reunião com o presidente da Câmara de Vereadores, Moacir Mota. Os professores decidiram que vão continuar usando a camisa e entenderam que o dano maior é ser constrangimento”, lembra Izabel Nascimento.

A professora Vilma diz que os professores estão sendo perseguidos

Prefeitura

Em contato com a assessoria de Comunicação da Prefeitura a informação é que de acordo com a secretária da educação Lidia Rosa Nunes somente três professores, entre 180, foram barrados, sendo dois do Sabino Ribeiro e um da escola municipal do Povoado Pau Ferro.

A explicação é que o desenho da camisa, uma caveira, é antipedagógico e inadequado ao ambiente escolar. “Muitas crianças ficaram com medo de entrar na sala de aula por conta das camisas”, ressalta a assessoria.

Quanto à perseguição a secretária nega e lembra que Maruim foi um dos primeiros municípios que adequou o pagamento do reajuste do Piso Nacional do magistério. A administração classifica o ato como sendo puramente político e em oposição ao atual prefeito, Gilberto Maynart.

A assessoria acrescenta que a professora Izabel Nascimento é faltosa e que durante todo o mês de setembro foi trabalhar um dia. Sobre a acusação de faltosa a professora Izabel Nascimento diz que é uma forma da administração municipal denegrir a sua imagem. “Isso é uma acusação que estão tentando denegrir a minha imagem. Os pais de alunos e os alunos são minha prova do meu compromisso e da minha responsabilidade em sala de aula. É claro que estou na direção do Sintese e as vezes preciso me afastar, mas quando isso ocorre a gente informa com antecedência e outros professores assumem a sala de aula”, salienta.

Nota

O prefeito Gilberto Maynard de Oliveira, enviou nota no final da tarde desta quarta-feira, 15. Confira:

"O prefeito municipal de maruim faz saber à sociedade, que tomou a medida de impedir o uso de camisetas que expoem a imagem macabra de uma caveira, por entender que simbolos dessa natureza são inapropriados para o uso dentro das escolas municipais onde estudam crianças e adolescentes.  pori sso, julgamos que o fato é muito agressivo, antipedagógico e, principalmente, cria constrangimentos aos estudantes. por outro lado, cumpre ressaltar que a atitude de usar tais camisetas se limita a 3 de um universo de 195 professores. a administracao municipal entende e respeita o direito dos professores de fazer política sindical, mas, sobretudo, entende que as escolas municipais e as salas de aulas não são o ambiente adequado para tanto.  assim, para preservar o direito à ordem e em respeito ao sagrado direito às aulas, tomei a citada medida. finalmente, senhores pais e alunos, quero lhes tranquilizar que as aulas continuam normalmente!"  

Por Kátia Susanna

* A matéria foi alterada às 17:29 para acréscimo da nota do prefeito Gilberto Maynard.

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