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Figure 1. Apresentação do historypin.com |
Quando foi a última vez que você consultou um mapa de papel ou sentou com seus avós para ver aquele álbum de família e ouvir suas histórias? Possivelmente você deve ter feito isso nos últimos meses, mas há de convir que na vida 2.0 tem sido mais comum acessar mapas pela Internet e zapear nas fotos dos amigos e parentes nas redes sociais. Uma iniciativa da organização sem fins lucrativos We Are What We Do (Nós somos o que fazemos) reuniu estas duas experiências em um único aplicativo, o Historypin (www.historypin.com/). O site permite que um usuário de qualquer lugar do mundo consulte, adicione e compartilhe fotos, vídeos e músicas sobre qualquer experiência que desejar, privadas ou públicas, desde de que relacione isto a um tempo e um espaço específico.
O projeto surgiu da avaliação do grupo londrino de que a primeira década do século XXI estaria assistindo a um gradativo afastamento entre as gerações. Estatísticas (válidas para a Inglaterra) corroboram a tendência à divisão inter-geracional. Os dados apontam que 2/3 dos britânicos pensam que pessoas jovens e pessoas mais velhas vivem em mundos diferentes. Um agravante é o pensamento de 1/3 das pessoas que vê idosos como incompetentes e incapazes.
A solução do grupo, que se autodescreve a favor da mudança comportamental das pessoas, foi reaproximar as gerações estimulando-as a contarem juntas as suas histórias para o mundo através do uso das tecnologias de geolocalização do Google (Google Maps e Google StreetView) e o estímulo à publicação de fotos históricas, alfinetando o grande mapa virtual do Historypin com suas experiências de vida.
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Figure 2. Londres em 1939 e em 2012 – Realidade aumentada mistura paisagens do passado e do presente no Historypin |
A aposta do aplicativo é na força das memórias coletivas como amálgama desta reunião entre as diferentes gerações. Uma vez no site, somos convidados a explorar nele a história mundial e adicionar também uma porção da nossa própria história. O projeto se apresenta divulgando a possibilidade de, juntos, criarmos a história digital do mundo (!). Projeto pouco ambicioso, digamos. E nada totalizante. Bem ao gosto do seu parceiro e patrocinador Google.
A promessa de criar histórias desta maneira, lembra o slogan de uma já extinta rede social, o Linkory.com: “linking memories, creating history” (‘linkando’ memórias, criando histórias). O Linkory.com já naufragou, mas sua inspiração continua motivando projetos de mídias sociais sensíveis à demanda que o homem contemporâneo tem por conhecer e salvar seu passado.
O Historypin se parece com um inventário de histórias públicas. Sua pretensão é fazer história através de uma plataforma colaborativa em que não só universidades, museus e arquivos oficiais possam publicar suas “versões” do passado, como também os cidadãos comuns, munidos apenas de uma câmera, um computador ou celular com acesso à Internet, tenham voz e poder para se tornarem contadores de histórias.
O efeito do cruzamento dos dados inseridos no mapa por instituições científicas com as milhares de entradas de pessoas físicas revela-se interessante para projetos relacionados ao patrimônio histórico material e imaterial das comunidades envolvidas. Mas será mesmo que o compartilhamento das experiências de nossos antepassados pode criar novos padrões de comportamento e interação social? Será plausível chamar isto de História Digital do mundo, escrita a milhares de mãos, como faz o We Are What We Do?
Estas perguntas podem ficar sem resposta por um tempo. Ainda precisamos observar os resultados dos projetos que vêm sendo desenvolvidos coletivamente por lá. Uma breve excursão pelo Historypin, entretanto, pode dar uma amostra do que a tecnologia é capaz de fazer, colocando o passado e o presente em uma mesma janela:
Tudo o que nos resta é espetar nosso alfinete no mapa e seguir acompanhando esta história.
Anita Lucchesi é mestranda em História pelo Programa de História Comparada da Universidade Federal do Rio de Janeiro (PPGHC/UFRJ) e membro do Grupo de Estudos do Tempo Presente, (GET/CNPq/UFS) coordenado pelo Prof. Dr. Dilton Cândido Santos Maynard. O artigo integra as colaborações à coluna do GET.
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