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Não seria tempo de pensar no que pode ser o futebol sergipano quando esses jovens torcedores estiverem crescidos? (Foto: Arquivo Infonet) |
Confiança e Itabaiana não conseguiram. Após surpreender, com bons resultados e boas atuações contra as grandes equipes regionais nas tres primeiras rodadas da Copa do Nordeste, os representantes sergipanos cometeram erros e acabaram desclassificados.
Mas não há motivos para lamentar da participação dos sergipanos no torneio. E mais: é preciso considerar o que significa essa Copa do Nordeste e o peso quem a competição teve no futebol local, e terá nos próximos anos, para projetar a participação deste ano. Analisemos o "efeito Nordestão.
Talvez o leitor não saiba, mas o torneio nordestino incomodava os grandes clubes do país. Em 2003, a CBF deixa de reconhecer a competição, alegando que não haveria espaços no calendário, uma vez que o Brasileirão passaria a ser disputado em um novo formato, agora em pontos corridos com 46 rodadas (na sua primeira edição).
Durante o ápice da competição, de 1998 a 2002, o Nordeste tinha todos os anos pelo menos 3 clubes na elite do futebol nacional, chegando nas fases finais em tres ocasiões.
Quando eu vejo que o torcedor nordestino foi obrigado a passar 10 anos sem a Copa do Nordeste, só consigo fazer a analogia com a história de alguém que ficou exilado sem direito a sentir orgulho si mesmo. Castigado por ter sido ousado e tentado contornar o que era regra. Congelado no espaço e no tempo, vendo as coisas acontecerem sem poder de reação.
Isso aconteceu porque a Copa do Nordeste conseguia reverter uma lei considerada natural no futebol brasileiro: os aportes financeiros sempre favoreciam os clubes maiores. Clube dos 13, cotas televisivas, atenção da mídia, patrocínio privados e públicos definidos de formas díspares etc. Uma série de quesitos que criavam um abismo entre os clubes nordestinos e os clubres centrais, principalmente os paulistas e cariocas.
A Copa do Nordeste alterou essa correlação das forças quando trouxe aos nordestinos um torneio de sucesso de público, renda, audiência e emoção durante os dois primeiros meses do anos, período no qual os clubes "do eixo" disputavam torneios estaduais deficitários, desinteressantes e de baixa qualidade técnica.
Na época em que Nordestão despontou, outros estaduais surgiram com fórmula semelhante, sem o mesmo sucesso. Rio-SP e Sul-Minas fracassaram. Faltava o quesito "cultura" que criava a mística tão forte que torna o Nordestão tão interessante.
Agora vendo o que "sobrou" da participação dos sergipanos no torneio de 2013: se trata de uma chama reacesa de torcedores locais voltarão a dar atenção à própria grama.
Se alguns consideram a participação de Itabaiana e Confiança vergonhosa, sugiro que resgatem um pouco da história recente do futebol local, onde tudo era constrangimento, rubor na face, e um cara-cor-e-cheiro de uma decadência bizarra que dava agonia de ver.
Dava vontade de pedir pra alguém fechar o futebol sergipano e demolir o Batistão e levar tudo pra longe, pra não sobrar nem um grão da poeira e apagar a memória do futebol local. A maior rede de TV local já cumpria bem esse papel, ao supervalorizar o estadual carioca em detrimento do local.
Os clubes sergipanos saíram de cabeça erguida. O Confiança foi a grata surpresa da competição, montando um elenco meio desconhecido e desacreditado, e caiu por conta daqueles detalhes que o futebol é rei. A torcida do Dragão compareceu ao Batistão como não fazia a muito tempo, com orgulho de dizer que é azulino.
O Itabaiana reforçou uma noção de honra, esportividade e respeito ao torcedor, que parecia perdida por aqui também. Na sua última partida do Nordestão o Itabaiana já não tinha mais expectativas de classificação, e mesmo assim segurou o "estrelado" Bahia. E poderia ter vencido.
Vale lembrar um antigo episódio no qual um clube sergipano, no mesmo torneio, sofreu uma estranha goleada de 10 a 2 e deu a vaga ao mesmo adversário, na mesma situação de dificuldades de classificação.
Quem acompanhou aquele caso viu o espírito do calabouço do futebol sergipano reaparecer quando os refletores do estádio se apagaram. Não tinha como não pensar nessa possibilidade. Mas não aconteceu.
A equipe de Freitas Nascimento parecia estar jogando uma final. Era a despedida da competição de uma equipe com uma série de defeitos, mas com muita vontade de jogar bola, que é o que importa no final das contas.
Mesmo os principais rivais tiveram que "acordar para a vida". O Sergipe faz uma campanha invicta na Taça Governo do Estado e vai enfrentar o River na disputa de uma vaga na Copa do Brasil. A torcida, principal termometro do futebol em qualquer canto do mundo, também está fazendo a sua parte emresgatar os velhos tempos do futebol sergipano.
A única forma de não preconizar que o futuro reserva boas novas para os clubes sergipanos é dar mais atenção aos erros e vícios dos cartolas locais, sempre vaidosos e mandões. Não se trata de achar que daqui a 3 anos já podemos ter um sergipano na Serie A do Brasileiro, mas de compreender que o primeiro passo para mover as "placas tectônicas do futebol" já foi dado, e que essa medida precisa ser fortalecida e valorizada, pra que tenha validade
Torcedores e parte da imprensa já estão comprometidos com esse processo de resgate, que parece muito próximo. Basta evitar que os erros se repitam.
Por Irlan Simões