A Volvo Ocean Race é uma regata de dias bons e ruins. Nos ruins, você certamente gostaria de estar em qualquer outro lugar do planeta. Em barcos como o Brasil 1, você passa dias completamente molhado, com frio, não consegue dormir ou comer direito e, quatro horas depois de deixar o convés, está na hora de voltar ao batente.
E não é qualquer tipo de trabalho. O barco de 21 metros já parece grande para quem olha de fora. De perto, ele é gigante. Em situações normais (entenda: sempre que não é necessária nenhuma manobra), são quatro pessoas tocando o barco. Um timoneiro e três pessoas regulando as velas, algumas com mais de 500 metros quadrados.
Fora dos turnos, as coisas não melhoram muito. Dependendo do ponto de vista, até pioram. Dentro do Brasil 1, o barulho é ensurdecedor. O barco é uma caixa acústica e qualquer pancada no convés se transforma em uma explosão para quem está tentando descansar em uma das macas. Dormir é quase impossível.
Mas existem também os dias bons. Quando você olha para cima e vê o céu azul, o mar calmo e o barco voando. Sobe ao convés já com um sorriso no rosto e faz a melhor velejada de sua vida. Sem contar as chegadas, sempre o melhor momento de cada perna, quando você olha para o horizonte vê o local para onde velejou por dias e já sente na boca o gosto da cerveja e o cheiro do churrasco.
A bordo, pensar nessas coisas é tortura. Sempre que querem refrescar a garganta, a água é dessalinizada. Depois de alguns dias, só quando a necessidade é muito grande essa água salobra é aceita. E a comida é sempre um enigma. Após um tempo, tudo passa a ter o mesmo gosto, do frango até as massas. Nem mesmo a aparência engana. Re-hidratado, todos os alimentos são uma massa que, na maioria das vezes, mantém o formato da embalagem em que foi armazenada, mesmo quando livre em um prato.
A bebida, aliás, é emblemática. A cerveja que a organização entrega assim que cada barco cruza a linha de chegada marca o fim de dias de tensão. Na Cidade do Cabo, marcou o final de quase 20 dias em que aprendemos muito sobre o barco e sobre nossa tripulação, enquanto fazíamos o possível para defender bem o nosso pais.
O conjunto de tudo isso é o que torna o Brasil 1 uma aventura. A soma de dias ruins, em que se pensa em desistir, com os dias bons, em que se vive os melhores momentos de sua vida. Juntando isso, o desafio supera tudo. O cansaço e a saudade ficam para trás depois de alguns dias, quando já se começa a esperar ansiosamente pela próxima perna.
Rajadas
– Com a família permanecendo em Florianópolis para as festas de fim de ano, o catarinense André Fonseca antecipou para essa semana a ceia de natal. Ele viaja dia 17 para a Cidade do Cabo.
– Torben Grael e o novo navegador do Brasil 1, o holandês Marcel van Triest, se conhecem há tanto tempo que nenhum dos dois se lembra direito quando foi o primeiro encontro. Para Torben, foi em 1991. Para Marcel, em 89.
– O Piratas do Caribe também tem uma novidade em sua tripulação. O sueco Freddy Loof, tricampeão mundial da classe Finn, vai se dedicar à classe Star para os Jogos Olímpicos de 2008, em Pequim. Em seu lugar, Paul Cayard convocou Anthony Merrington.
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