|
(Foto: Arquivo Portal Infonet) |
Aconteceu: o Brasil é campeão olímpico de futebol. O único título que faltava ao futebol brasileiro foi conquistado da forma mais dramática possível e diante do adversário mais emblemático possível: a Alemanha, sétupla parte do inferno astral do Brasil futebolístico. Diante de um Maracanã lotado, os finalistas ficaram no 1 a 1 no tempo normal – gols de Neymar e Meyer –, passaram em branco na prorrogação e, nos pênaltis, a seleção canarinho bateu os alemães por 5 a 4. Para completar o roteiro, o pênalti derradeiro, o pênalti do título, foi convertido por Neymar.
Foi um jogo duríssimo, igual, digno de final e em um nível que nenhuma das duas seleções havia experimentado até então no torneio. Talvez a Alemanha tenha vivido mais dificuldade ao ter corrido atrás dos empates contra México e Coreia do Sul na primeira fase. Mas nada se comparou ao que se viu nesses 120 minutos de futebol no Maracanã. No fim das contas, o resultado foi merecido. A Alemanha fez sua melhor partida na competição, mas o Brasil esteve ligeiramente melhor: agrediu mais, não se desorganizou e converteu todas as cobranças de pênalti que fez.
O resultado coroa uma campanha que demorou para engrenar, mas entrou em um crescente que só poderia desaguar em uma final. Os dois empates em 0 a 0 contra África de Sul e Iraque acenderam o “desconfiômetro” de imprensa e torcida. Mas quando o gol finalmente saiu na Fonte Nova contra a Dinamarca, o Brasil deslanchou. Nas quartas de final, o time despachou a Colômbia por 2 a 0. Na semifinal, destruiu Honduras por 6 a 0. E então lá estava a Alemanha de novo no nosso caminho. Revanche?
Sim, o clima era de revanche. A negação disso pela própria seleção foi só um preciosismo politicamente correto. Porque o 7 a 1 não foi apenas um confronto entre dois times, mas entre duas instituições, duas histórias dentro do futebol. A final olímpica é a continuação desse confronto, mesmo que em outra esfera e com outros jogadores. Ninguém veste a camisa de uma seleção por si mesmo, mas para defender, prosseguir ou melhorar a história daquela instituição. Quando entraram em campo no Maracanã, um Neymar ou um Gnabry sabiam perfeitamente disso. Eles se prepararam para enfrentar não os times de 8 de julho de 2014, mas estavam todos com as mesmas camisas, sob as mesmas instituições – e continuariam a rivalidade com suas próprias histórias.
E o Brasil olímpico jogou o futebol que a seleção principal havia esquecido. Era um time de marcação consciente, de futebol leve e pra frente. Só que a Alemanha não deixou por menos e mostrou que estudou muito bem seu adversário. O jogo foi de um equilíbrio insuportável. O Brasil fez um gol de bola parada no primeiro tempo e ampliou seu status de autoridade. A Alemanha empatou no segundo em um raro vacilo da marcação brasileira. Entre um gol e outro, os alemães testaram o tamanho do gol com duas bolas no travessão.
Na nervosa prorrogação, o Brasil foi pra cima, abusou da cabeça dura, insistiu em jogadas aéreas que sabia que não podia vencer, perdeu gols inacreditáveis por falta do “elemento Messi” – tocar a bola milionésimos de segundo antes do previsto – e deixou tudo para os pênaltis. Nos penais, todos iam acertando tudo até Weverton catar uma cobrança. Na última bola, Neymar não afinou, cobrou sem frescura e garantiu o primeiro título olímpico da história do futebol brasileiro – o ouro inédito de um jeito de jogar que, por ter ficado há tanto tempo longe de nossas vistas, também se assoma como inédito.
Por Igor Matheus