Jogador sergipano relata drama da guerra

O atacante sergipano, Márcio Nocrato, 27 anos, principal artilheiro do Campeonato Nacional do Kwait, concede entrevista exclusiva ao Esporte Sergipe, do Portal InfoNet, e relata o drama que está vivendo com guerra envolvendo Iraque e Estados Unidos. Por Barroso Guimarães ESPORTE SERGIPE – Márcio, onde você está morando? Márcio Nocrato – Estou morando na cidade de Jabriya, que fica a 2 km da capital Al-Kwait e a 100 km da fronteira com o Iraque, onde os americanos iniciaram a invasão. ES – Você tem notícias de Enoque? MN – Enoque também mora aqui, num apartamento de um prédio vizinho; mas devido à situação de guerra, nos estamos juntos no mesmo apartamento. ES – O campeonato foi paralisado? MN – O campeonato parou e os treinos foram suspensos por cinco dias, mas o povo está trabalhando normalmente, apesar do perigo. A Federação (FKF) suspendeu todas as atividades ligadas ao futebol, além dos treinos da seleção olímpica até passar o conflito. ES – Você e o Enoque pensam em retornar para o Brasil? MN – Pensamos muito na possibilidade de voltarmos ao Brasil. Alguns jogadores brasileiros que estavam aqui, rescindiram os contratos e foram embora. Mas como se fala na hipótese de uma guerra rápida que poderia durar até uma semana resolvemos ficar até que tudo voltasse ao normal. Seria jogar fora tudo o que nós construímos. ES – Vocês podem ser atingidos pela guerra? MN – Falava-se na possibilidade de Israel ser o principal alvo de um ataque iraquiano por mísseis em resposta às ofensivas americanas; mas logo que conflito começou, ficou provado que os Iraque respondeu aos ataques com Scuds direcionados pra cá. ES – Quantos mísseis foram lançados contra o Kwait? MN – Foram lançados 12 mísseis. Os dois primeiros caíram na cidade de Jahra, no norte dos país, a 70 km de onde moramos; os outros todos foram interceptados pelos antimísseis Patriots americanos. ES – Você está com medo? MN – É difícil explicar o que sentimos; é um misto de tranqüilidade, tensão e confiança. Esta situação é muito nova, pois nunca passamos por isso e ficamos apreensivos. A nossa preocupação contrasta com a calma e tranqüilidade do povo daqui, acostumado com a guerra. ES – Como você e Enoque passam a maior parte do tempo? MN – Passamos a maior parte do tempo tranqüilos e descansados; mas quando as sirenes de alarme soam, indicando mísseis vindo pra cá, ficamos tensos e corremos para o abrigo e colocamos as mascaras de proteção. Isso já aconteceu até agora 12 vezes. O Ministério da Defesa manda sempre comunicado através de mensagens nos celulares, informando como esta a situação. ES – E qual tem sido, a orientação do governo? MN – Fomos orientados a isolar toda a casa com fitas adesivas e plásticas, nomeadamente nas portas e janelas para impedirem a entrada de ar contaminado num possível ataque químico ou biológico. Recebemos mascaras antigás do nosso clube e fomos aconselhados a ficar em casa e evitarmos aglomerações, devido ao risco de ataques terroristas em represália aos ataques americanos contra uma nação islâmica. Temos a possibilidade de ir até um abrigo subterrâneo que fica a alguns metros de casa; mas devido à situação atual, achamos que não foi necessário e esperamos que não precisemos ir pra lá. ES – Vocês resolveram ficar pela compensação financeira? MN – Nós decidimos ficar porque achamos que não era a hora de partir e que compensa ficar aqui. Financeiramente é muito bom e em termos desportivos, conseguimos conquistar o nosso espaço aqui e hoje sou o artilheiro do campeonato. Jornalistas, diretores e torcedores me respeitam e ao meu trabalho. Sou reconhecido nas ruas do país, já que o Kwait é menor que o estado de Sergipe. Graças ao meu desempenho, já fui chamado para renovar contrato no meu clube por mais um ano. Isso é gratificante e pesou bastante na minha decisão de enfrentar a guerra e ficar aqui. ES – Qual o recado que você daria para a sua família? MN – Em relação às nossas famílias, quero dizer que apesar das redes de televisão “pintarem” uma situação perigosa, nós estamos bem, calmos e confiantes de que nada de mal vai nos acontecer. Estamos protegidos pelos americanos e bem guardados por Deus. Quero que minha mãe e a mãe de Enoque saibam que passamos a maior parte do tempo conversando, vendo televisão e jogando video game. Estamos bem e felizes, apesar de preocupados por sentirmos que elas estão muito nervosas com a situação. ES – Márcio, obrigado pela entrevista e pode mandar recado final. MN – Garanto que está tudo tranqüilo. Mesmo quando soam os alarmes. Fiquem com Deus. Abraço, Barroso!

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