Mariana Dantas fala sobre os 17 anos de carreira

Atleta já inspirou uma geração de novos karatecas em Sergipe
Mariana Dantas é o nome mais lembrado quando se fala em karatê no estado de Sergipe. No esporte desde os sete anos, a atleta contabiliza vários títulos de destaque, além de ser integrante da Seleção Brasileira. Aos 24 anos, ela já fala em parar de competir e revela preocupação com a falta de novos nomes no esporte.

Em entrevista ao Portal Infonet, Mariana conta como entrou no karatê, fala sobre a rotina de treinamentos, comenta falta de integração entre federações locais e faz um balanço da carreira que, revela, deve parar até 2011.

Portal Infonet – Como é que está sua programação de competições para os próximos meses?

Mariana Dantas – Este ano tem poucas competições. Próximo ano terão mais, porque eles alternam. Em termos de calendário tá mais fraco. Agora em outubro vou ter a competição que é a mais importante, o Campeonato Brasileiro Adulto, em Natal (RN).

Infonet – De que forma você se prepara para essas competições?

MD – Eu intensifico a preparação física e técnica. Em média eu treino 1h30 diariamente, na academia, com exercícios voltados para o Karatê. Aqui no tatame a gente prioriza as técnicas em que eu sou melho e aí a gente vai adaptando pra competição.

Infonet – Que balanço você faz da sua carreira?

MD – Eu acho minha carreira maravilhosa. Comecei muito novinha, com sete anos e lá se vão 17 anos de carreira. Nem sempre marcada por medalhas de ouro. Eu comecei em 92 e só em 98 eu consegui a primeira. Sempre tive muitas conquistas, independente de estar no primeiro lugar do pódio ou não. Tudo é aprendizado, independente das perdas e das vitórias.

Infonet – Como foi lidar com esses seis anos sem ganhar medalhas?

MD – Pra mim foi tranqüilo porque comecei criança. Ao contrário de muita gente, quando eu perdia não ficava desestimulada. Pelo contrário, queria treinar mais pra tentar ganhar na próxima. Muita gente desiste logo nessas situações, principalmente crianças. Nesse período, tudo para mim era uma brincadeira. Até as medalhas de participação eu achava o máximo e acho que isso me levou a continuar no karatê.

Infonet – Como você enxerga a modalidade aqui em Sergipe?

MD – Está faltando gente para o karatê sergipano. Teve um período em que houve uma crescida grande, em que apareceram novos talentos. Agora deu uma estabilizada. Na verdade há uma carência de novos talentos. Hoje eu estou com 24 anos, daqui a pouco eu estou parando. E aí, eu vejo que não tem ninguém na mesma categoria, principalmente na seleção brasileira. Tem umas meninas bem mais novinhas que ganham destaque, mas adolescente não há nenhuma. No masculino tem Ítalo Vasconcelos, que treina comigo, o único atleta sergipano na seleção brasileira

Mariana fez história ao ingressar na seleção brasileira
atualmente. Ele acabou de vir do Pan-Americano, está treinando para ir ao mundial.

Infonet – Como é para você fazer parte da seleção brasileira?

MD – Estar na seleção é o que todo atleta quer. E morar em Sergipe, nesse aspecto, é bastante complicado porque os treinamentos geram muitas despesas, mesmo tendo patrocínio. Não estar sempre presente no eixo sudeste, onde as coisas acontecem, faz com que você não seja constantemente lembrado. A vaga é muito disputada. Há uma dificuldade nas convocações, nas seletivas, neste sentido. No caso do treinamento, ainda, você acaba sem ter pessoas da mesma categoria para treinar junto. Eu treino com Ítalo, que é homem, e ele treina comigo. É ótimo, mas não é a mesma coisa.

Infonet – Você é patrocinada por uma grande empresa local. Como foi conseguir esse patrocínio? Como você acha que o atleta que se destaca deve proceder para conseguir apoio?

MD – Meu patrocínio surgiu daquela coisa de ‘estar no lugar certo na hora certa’. Eu já tinha ido em várias empresas com meu currículo. Muitas não acreditavam pelo fato de o karatê ser um esporte amador, não ter muita visibilidade. A Norcon, quando eu levei a proposta, estava querendo investir no esporte, só não tinham em quem. Eles gostaram do meu currículo e estamos nessa parceria há quase oito anos. Quanto ao atleta buscar patrocínio, eu digo que ele tem que bater de porta em porta. Alguns empresários têm, sim, uma visão empreendedora, que dão uma resposta rápida.

Infonet – Com esse apoio você consegue se dedicar integralmente ao esporte?

MD – Ele me dá suporte para tudo. Hoje eu já trabalho, mas até 2008 o patrocínio era a única fonte de renda e eu fazia tudo. Nunca deixei de participar de uma competição por não ter esse apoio.

Infonet – E como você consegue conciliar as duas atividades atualmente?

MD – Eu estou quase iniciando um processo de transição, que é quando o atleta começa a pensar numa parada do esporte. Tenho 24 anos, ainda sou nova, mas vão surgindo novas prioridades. O fato é que eu comecei novinha, então, em 2010, no máximo 2011, vou parar. Eu já não estou mais 24 horas pensando em karatê. Já divido meus horários de treino e de trabalho.

Infonet – É só com essa divisão de horários que você começa a preparar sua ‘aposentadoria’ ou você esquematizou algum tipo de cronograma?

MD – Há uns quatro anos eu já tinha colocado esse prazo na cabeça, porque assim como todo atleta, eu sou muito determinada e já tracei a data. Eu acho que tenho um tempo de carreira razoável, já conquistei grandes títulos. Aqueles que eu não consegui eu to lutando para tê-los até o fim da carreira. Mas a grande importância nisso aí é o que o atleta sofre psicologicamente e fisicamente também. O ritmo eu já diminuí. Psicologicamente, eu acho que por melhor que seja a preparação vai ser muito difícil, mas esse dia tem que chegar. Eu vou parar de competir, mas nunca de praticar o karatê, porque é minha vida. Não tem como eu me separar dele.

Infonet – Você afirmou que não há novos nomes no karatê sergipano. A que se pode atribuir essa lacuna?

MD – Eu acho que é um pouco de muita coisa. Há falta de investimentos, o esporte tem várias federações locais e isso não é bom pra ninguém. Aí existem vários campeões sergipanos numa mesma categoria, mas em federações diferentes. Nesse sentido, tudo que se separa enfraquece. Falta incentivo apesar de o estado ter aumentado muito o apoio, em vários sentidos. Muita coisa precisa ser feita ainda. As próprias federações deveriam se unir mais. Se o esporte for mais organizado, isso atrai atleta e o público, que normalmente só vai às competições porque tem algum parente praticando.

Infonet – De que forma você acha que personalidades do esporte como você podem influenciar na escolha da prática esportiva pelos mais jovens?

Treinamento pesado da sergipana (Fotos: Portal Infonet)
MD – Funciona como vemos no âmbito nacional. Quando o Gustavo Kuerten surgiu na mídia, as crianças queriam praticar tênis. Isso é natural. Esse reconhecimento é fruto do meu trabalho, um fruto bom que eu colho depois e durante esses 17 anos de carreira. É sempre bom influenciarmos de forma positiva, então também é importante o atleta observar a conduta que adota.

Infonet – Nesses 17 anos de carreira, o que foi mais desafiador?

MD – Continuar no esporte foi o maior desafio. Não há tanto incentivo, o esporte não é muito organizado. Morar em Sergipe também não é fácil devido a concentração do esporte ser em outros estados como São Paulo, Rio e Minas. Você treina o ano todo para um campeonato e luta por dois minutos. Se o atleta perde, não há nada mais a ser feito e um novo campeonato só vem em mais um ano. O treinamento tem muita repetição, exige muito principalmente por ser uma arte milenar e imutável. O desafio vem de enfrentar a repetição, as adversidades e todos os obstáculos que aparecem.

Por Diógenes de Souza e Glauco Vinícius

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