O melhor caminho entre dois pontos nem sempre é uma linha reta. As palavras são do comandante do Brasil 1, Torben Grael, e estão sendo colocadas à prova a partir deste sábado, quando largamos para a primeira etapa da Volvo Ocean Race, a regata mais tradicional de volta ao mundo.
Nesse trecho, velejaremos por mais de 11 mil quilômetros, entre Vigo, na Espanha, e a Cidade do Cabo, na África do Sul. Serão aproximadamente 18 dias de aprendizado para nossa equipe. No geral, é a etapa ideal. Veremos um pouco de tudo o que iremos enfrentar em nossa volta ao mundo, mas não enfrentaremos nenhuma situação extrema. Será quase um treino para as próximas etapas, as mais radicais da competição, quando teremos o reforço do norueguês Knut Frostad, experiente nos temidos ventos do paralelo 40.
Nesses primeiros dias, os ventos estão fortes, de popa, com picos de 30 nós (55,5 km). Todos os barcos estão voando. É uma vantagem, pois estamos sendo “empurrados” para o sul rapidamente. A temperatura vai subir, favorecendo nossa equipe, que já está acostumada com o calor.
O atual recorde de velocidade de um monocasco (barco com só um casco) pode cair nas próximas horas. Os espanhóis do movistar completaram no começo do ano 530 milhas náuticas (980 quilômetros) em 24 horas, na travessia entre Austrália e Rio de Janeiro. E estamos velejando com situações semelhantes.
Quando chegarmos próximos ao Equador, teremos o maior desafio dessa etapa: a passagem pelos Doldrums, as calmarias equatoriais. São áreas de convergências dos ventos do hemisfério norte e sul, pouco acima do Equador. Nessa região, o calor é intenso e o vento, inexistente.
O segredo é achar o ponto em que essas calmarias são mais estreitas, para se perder o mínimo de tempo possível. Nesta área, vale mais a pena velejar mais para o leste, para não ficar sem vento no meio dos Doldrums. Nossa navegadora Adrienne aposta que este será o momento de definição da primeira perna. Depois, entramos em zona conhecida, contornando por Fernando de Noronha (devemos passar por lá no fim de semana) e velejamos até a Cidade do Cabo.
Bons ventos,
Equipe Brasil 1
Rajadas
– Essa edição da Volvo Ocean Race tem um investimento global de 300 milhões de euros e deverá empregar, diretamente, nos nove portos de parada até junho de 2006 cerca de 5 mil pessoas.
– O centro de imprensa de Sanxenxo acabou de ser desativado, mas o pessoal de apoio do local trabalhou muito. Foram credenciados 500 profissionais de 25 países, o que prova que a competição deverá bater fácil a audiência de 2001/2002 que foi de 811 milhões de pessoas no planeta. A Volvo Ocean Race está entre os 20 maiores eventos esportivos do mundo.
– O irlandês Damian Foxall, tripulante reserva do Brasil 1, estava disputando a regata Jacques Vabre, em dupla com Armel Le Cleac”h a bordo do Foncia, e sofreu um grave acidente. Ele conversou com Andy Meiklejohn, proeiro do Brasil 1, e informou que está com vários hematomas, mas nada quebrado. E prometeu que estará a postos na Cidade do Cabo, em 20 dias, para as próximas etapas.