O LIVRO: “AS PERIPÉCIAS DO ESPORTE SERGIIPANO”, 1ª EDIÇÃO
AUTOR: JOEL BATALHA, RADIALISTA, JORNALISTA, ADVOGADO E ESCRITOR
O SARGENTO RAIMUNDO COMPENSADO NO RINGUE
Ainda na minha adolescência, gostava de assistir às tradicionais lutas livres, no Ginásio de Esportes do Clube do Trabalhador. Foi na década de
60. Famosos lutadores desfilavam nos ringues nos finais de semanas. Tinha o incentivo do radialista Silva Lima, o impecável narrador. Lutadores que se destacavam: Fidelão, Tatuzinho, Valdemar Santana, Carcará, Gavião Negro, Gato Selvagem, Tamanduá, Tarzan Carioca, Pantera Negra, João Selvagem, Tonis Queti, Carneiro Branco, Fera Negra, Aza do Cão, Miguel, o Vingador, Topada, Carlinhos e o próprio Raimundo Compensado.
Em várias oportunidades eu assistia e ouvia pelo rádio, com narração de Silva Lima, o “repeteco”, quase semanal, a luta entre Compensado e Carlinhos Bicicleta. O Compensado que representava o bairro Industrial e a Polícia Militar do Estado de Sergipe, não perdia para o Carlinhos uma só luta.
Compensado, na época soldado da PM, encontrava-se em excelente forma física e técnica, sendo que, muitas vezes, era elogiado por Silva Lima, o maior conhecedor do esporte da luta livre em Sergipe. Sempre com um radinho de pilha em mãos, eu ia para o Clube do Trabalhador. Não tinha dinheiro para entrar, ficava chupando dedos ou mesmo roendo unhas. Lembro-me que iriam lutar Marreta e Tatuzinho, representantes da Bahia e Sergipe, respectivamente. Tatuzinho se encontrava em grande forma. Honrava o nome de Sergipe Del Rey, como dizia o Silva Lima, também o maior nome da radiofonia sergipana na época. Não tive vergonha. Antes de iniciar umas das preliminares pulei o muro do Clube do Trabalhador. Pensando que estava abafando, apareceu um soldado da PM, um negrão com quase 2 metros de altura, segurou o meu braço e disse vou botar você pra fora. Fiquei triste. De repente, já saindo do principal portão do local das lutas, aparece-me o lutador Compensado, com uma sacola na mão e uma toalha no pescoço. Conhecia de vista, pois, eu também morava no bairro Industrial. Não dei por derrotado e gritei o seu nome pedindo por socorro. Ele ouviu. Chegando bem perto do seu colega de farda, foi logo pedindo que eu permanecesse dentro do Ginásio. O pedido foi aceito.
O lutador Raimundo Compensado honrava a Policia Militar e o próprio Estado de Sergipe, principalmente quando se apresentava além-fronteira. Suas lutas eram realizadas no interior da Bahia, Alagoas e Sergipe. Suas apresentações em Aracaju se davam nos ginásios de esportes do Clube do Trabalhador, Charles Moritz e em circos. No futebol, era peladeiro, zagueiro central, muito vigoroso. Do pescoço prá cima, tudo era perna. Jogou nos times do Século XX de “Seu Francisco”, Botafogo do “Sargento Gerson”, CPTRAN e, por ùltimo, no Atalaia Futebol Clube do popular “Arnaldo Bento”. Como todos são sabedores, times de bairros tem donos. E, nos clubes profissionais, os donos mudam para patronos. A moda também pegou nos clubes amadores.
Primeiro Sargento aposentado da PMSE, Raimundo Compensado continua teimoso ainda hoje, gostando de tudo que é esporte. É torcedor fanático do Confiança e do Vasco da Gama do Rio de Janeiro. Quando tem um tempinho, tira uma onda de treinador de futebol, ou seja, entregador de camisas nos times da ACDS, CPTRAN, e Espirro de Grilo.
É ainda um dos nomes mais famosos do Brasil, principalmente nos extratos bancários, onde se lê sempre: “compensado”.