Racismo no futebol: mais do mesmo no caso Boateng

(Foto: Divulgação)

Kevin-Prince Boateng, 25 anos, jogador de futebol nascido em Berlim, mas de ascendência ganesa, foi a mais nova vítima de uma intolerância que não para de acontecer. Enquanto atuava pelo seu atual time, o italiano A.C. Milan, em um amistoso contra o “Pro Patria”, equipe menor do futebol italiano, o atleta foi alvo de insultos da torcida rival, que entoou cantos racistas contra ele. Boateng respondeu às ofensas chutando a bola contra os torcedores adversários, para depois abandonar o gramado com o jogo em andamento. Seus colegas de clube, num gesto de grande apoio, seguiram o corajoso exemplo e também deixaram o campo.

O fato ocorreu no dia 03 de janeiro de 2013, após um ano onde manifestações racistas ilustraram a maior parte dos noticiários esportivos. Pouco depois, na cerimônia do Ballon D’or da FIFA, onde foram premiados alguns dos maiores profissionais do futebol em 2012, Cristiano Ronaldo, Andrés Iniesta e Lionel Messi, concorrentes ao prêmio de melhor jogador do mundo, apoiaram a atitude de Boateng e criticaram a violência contra os jogadores na Europa e no mundo. No entanto, para o senhor Joseph Blatter, atual presidente da FIFA, a atitude do ganês foi reprovável. É difícil concordar com o Mr. Blatter. O racismo no futebol, como diria a música, tem sido “mais do mesmo” e sem luz no fim do túnel justamente pela ação covarde da FIFA.

Em 2012, a intolerância no futebol esteve presente de maneira intensa nas páginas dos principais periódicos de esporte do mundo. Sol Campbell, ex-zagueiro da seleção inglesa, integrou uma campanha para o boicote da Eurocopa realizada na Ucrânia e Polônia, após manifestações fascistas de torcidas dos países anfitriões contra jogadores negros e torcedores asiáticos. Fanáticos pelo Zenit, grande time russo, manifestaram-se publicamente contrários à contratação de jogadores estrangeiros e negros. No Paraguai, o zagueiro vascaíno Dedé foi vítima de insultos racistas, o que nos mostra a presença deste problema também na América do Sul. A lista segue crescendo.

Embora haja um empenho no combate a estas práticas tanto por parte das autoridades, quanto por parte de muitos atletas e outras torcidas, elas continuam ocorrendo impunemente. Pior: não estão apenas restritas a palavras e xingamentos, mas também se tornam agressões físicas. A Ultrasur, em Madri, é uma das mais violentas torcidas organizadas da Europa, protagonizando ataques contra torcedores rivais e outros alvos dos muitos fascistas que integram a torcida. Apesar disto, são frequentes as denúncias de que este temido grupo de hooligans recebe ingressos gratuitos da Diretoria do Real Madrid.

Num momento em que o Velho Continente passa por uma crise que se prolonga e se agrava, a extrema-direita ganha espaço efetivo na política, como foi visto na Grécia e se aproxima ainda mais de torcidas organizadas. Por isto, o caso Boateng deveria servir como exemplo de que é necessário muito mais do que responder com violência ou silêncio. Para o senhor Blatter e para a FIFA, assim como às demais instituições envolvidas com este esporte tão popular, os episódios do último ano deveriam ilustrar a necessidade de punições mais severas aos jogadores e torcedores que praticam algo tão deplorável. Para o bem do futebol, para o bem da sociedade, o racismo não pode ganhar esta partida.

*Graduando em História pela Universidade Federal de Sergipe. Bolsista do Programa de Educação Tutorial (PET/FNDE/MEC). Integrante do Grupo de Estudos do Tempo Presente (GET/CNPq/UFS) coordenado pelo Prof. Dr. Dilton Cândido Santos Maynard.

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