Depois da primeira semana a bordo na disputa da primeira etapa, entre Vigo, na Espanha, e Cidade do Cabo, na África do Sul, a rotina da nossa tripulação está consolidada. Cada um tem seu turno de trabalho e descanso, atravessando noite e dia. Para as pessoas leigas, que não conhecem o difícil trabalho desses navegadores modernos, é complicado imaginar que as 24 horas de um dia não são referência para os participantes da Volvo Ocean Race.
Em situações normais, o turno de trabalho é de seis horas durante o dia e de quatro horas à noite. Antes do início de cada turno, os velejadores são acordados 15 minutos antes do horário para pôr as roupas de navegação e se preparar para pegar no duro batente.
Há sempre um cuidado, muito especial, ensinado pela história. Em cada mudança, pelo menos dois tripulantes em atividade continuam em seus postos para evitar a troca completa da equipe. Os grandes acidentes acontecem na mudança de turno e isso é sempre lembrado, como um alerta. Além disso, todos que estão trabalhando no convés ficam amarrados por cordas e cintos de segurança.
As primeiras 48 horas depois da largada em Vigo, na Espanha, foram terríveis. Tempestade e ventos fortíssimos que serviram como um bom cartão de visita para todos os participantes. Optamos por apenas velejar, sem pensar na competição ou como diz o Chuny (Roberto Bermudez) pisar no acelerador.
Enquanto alguns concorrentes como o Piratas do Caribe 2/EUA e o movistar (ESP) tiveram problemas sérios e ficaram ancorados em Portugal, conseguimos superar as dificuldades quase ilesos. Tivemos o balão rasgado, o que exigiu um trabalho de 13 horas de reparo do nosso amigo Stu Wilson e de sua máquina de costura. Tivemos também a infecção de garganta de Marcelo Ferreira, que resultou em febre alta e dias de molho, sem participação nos turnos de trabalho.
A resistência do Brasil 1 tem de ser comemorada. O barco saiu da tempestade para a liderança, que ocupou por três dias. Agora, o nosso objetivo imediato é o portão de pontuação de Fernando de Noronha, na costa brasileira. Dependendo das condições de vento, devemos passar por lá na segunda-feira. Estamos ansiosos e confiantes. Sabemos que a regata está aberta e até completar as 6.400 milhas náuticas (cerca de 11.850 km) entre Vigo e Cidade do Cabo muitas dificuldades ainda terão de ser superadas.
A primeira perna, que teoricamente seria tranqüila, está mostrando que nesta aventura nem tudo é como parece. Vamos encarar os próximos desafios, mais acostumados com a rotina do dia a dia.
Rajadas
– Embora quinta-feira tenha apresentado uma melhora no tempo à medida que os barcos se aproximavam da linha do Equador, o céu não estava azul para todos. Muitos velejadores sofreram contusões e lesões. O espanhol Guillermo Altadill, do Ericsson (Suécia), lesionou dois dedos, por exemplo. Seu companheiro Tommy Braidwood, além de Mark Christensen e Dave Endean, ambos do ABN Amro One, foram algumas das outras vítimas. Mas Timo Malinen, coordenador médico da Volvo Ocean Race, estava orgulhoso em dizer que nenhum dos barcos solicitou algum ajuda.
– O Diário de Bordo do Brasil 1, publicado no site www.brasil1.com.br, tem sido o ponto de encontro da comunidade náutica nacional. O site recebe mensagens de apoio de todas as partes do Brasil. Alguns internautas não só desejam sorte aos tripulantes do Brasil 1 como também dão dicas de como acompanhar melhor a competição pela internet.