Técnico do Brasil sobre crise: “sempre buscamos vilões”

Micale: mudar conceito de trabalho agora é prejudicial (Foto: Igor Matheus/ Portal Infonet)

Confiança no time, no trabalho desenvolvido e paciência com os jogadores. O técnico da seleção olímpica de futebol, o baiano Rogério Micale, não pretende abrir mão de nada disso para conseguir bater a Dinamarca nesta quarta-feira na Arena Fonte Nova. Em entrevista coletiva realizada na manhã desta terça, 9, na própria Arena, o técnico criticou o que chama de imediatismo na forma como as crises de futebol são tratadas no Brasil.

“Sempre buscamos vilões, e muitas vezes estancamos um potencial de avanço num futuro próximo. A Alemanha levou 12 anos para chegar onde chegou e nós queremos chegar em seis meses, sem querer passar por mais 11 anos e meio de preparação. Sei que sou o treinador que chegou ontem, mas me preparei para estar aqui nesse momento e muitas vezes fico preocupado com o nosso futuro, em como as coisas mudam em 10 dias. Está certo que queremos dar uma resposta, mas não vamos conseguir avançar se não fizermos uma reflexão”.

O treinador ainda reforçou que vai manter o seu modelo de trabalho – e que mudar tudo agora, mesmo com dois empates, é ruim. “Temos um modelo que pode ter variações. Isso é normal, já aconteceu. O que não podemos é mudar um conceito sem treinamento. Não é porque não conseguimos a vitória que vamos mudar tudo. Isso traria mais prejuízo do que benefícios”. Micale também analisou os números do Brasil contra o Iraque, e exaltou o adversário. “Tivemos 71% e posse de bola e 14 finalizações. O Iraque foi um semifinalista do campeonato sub-20, manteve sua base e os jogadores estão amadurecidos. Estamos acostumados a voltar nossos olhos só para o resultado final da partida”.

Neymar
E o cobrado e paparicado Neymar? Para Rogério Micale, é preciso ter paciência com o atacante. “Ele é um jovem de 24 anos que não atingiu sua maturidade, mas vai atingir. Geralmente o jogador atinge o ápice de sua condição como atleta e homem com 28 anos. E esse jovem tem que lidar com pressão de ser um líder, um expoente, desde os 17 anos de idade. Mas a geração que daria suporte para que ele se desenvolvesse não se firmou. Se não respeitarmos nossos craques, eles já não vão querer estar mais conosco. O Neymar quis estar na Olimpíada, e hoje, com 24 anos, é muito cobrado. Precisamos refletir”.

Micale também mencionou que tem mantido reuniões com o elenco para amenizar a insegurança de todos. “Temos essa reunião com frequência. Como não temos muito tempo de treinamento, às vezes o treino é em uma sala de reuniões, e ali tratamos de pontos que podemos melhorar, situações que enfrentamos, essa pressão que vem de dentro pra fora. É uma equipe jovem, com jogadores até abaixo de 20 anos. Pelo hábito que tenho de tratar com jovens, sei que nesse momento de dúvida eles buscam se apoiar em alguém”. O treinador ainda alfinetou setores da imprensa que estariam se preocupando com questões extra-campo.

“Se nesse momento de discussões ficarmos preocupados com tarja de capitão, comportamentos pessoais, situações internas de relacionamento, e não entendermos o que está acontecendo com o futebol, principalmente no setor tático, comportamental, vamos ficar na mesmice. Continuamos a querer achar culpados, cabeças, e esse é o grande mal”.

Por Igor Matheus
De Salvador-BA

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