O plenário da Assembleia Legislativa de Sergipe foi tomado por adeptos das religiões de matriz africanas, durante a Audiência Pública “Abate ou sacralização? Práticas ancestrais dos povos e comunidades tradicionais de matrizes africanas e de terreiros”. Realizada pela Comissão de Direitos Humanos da ALESE, por iniciativa da deputada estadual Ana Lúcia, a Audiência debateu o Recurso Extraordinário 494.601, que será votado nesta quinta-feira, 09, no Supremo Tribunal Federal. O recurso trata da sacralização de animais em religiões de matriz africana.
O doutor em Direito e professor titular pleno do Mestrado em Direitos Humanos da Unit, Ilzver Matos, fez uma profunda análise a respeito da opressão contra as religiões de matrizes africanas, como forma de tentar exterminar a cultura negra. “Mas eles não conseguiram, e estamos aqui hoje enchendo esta Casa”, apontou o palestrante.
Para ele, a elite branca e racista do Brasil possui cinco características acumulados ao longo de centenas de anos: a ignorância, a desfaçatez, a apatia, a escravidão e o extermínio da cultura. “A ignorância representa o desejo dessa elite branca racista de não saber, de não querer saber e de não se importar por não saber. A escravidão, por sua vez, representa o ápice do sistema de desigualdade”, destacou Ilzver.
“O processo de escravização não nos aniquilou. Ele nos tornou mais fortes. As dores do racismo e do processo de escravização são dores profundas”, pontuou a Ìyá Sônia Oliveira, Professora Mestre em Políticas Sociais e Membro da Associação Brasileira de Pesquisadores Negros (ABPN), Iyálorisá do Ilè Àsè Ojú Ifá Ni Sahara, Sócia Fundadora da Sociedade Omolàiyé e Membro da Coordenação do Asè Egbé Sergipano.
“Esta é uma forma perversa de discriminação e criminalização de uma religião. O meu sagrado é o seu sagrado e vice-versa. Se o meu sagrado não é o seu, eu não posso ter respeito, que é o que constitui os seres humanos. Esta Audiência é fundamental para dizer que nós somos iguais e devemos lutar por aquilo em que acreditamos. E nós acreditamos que vamos ter uma vitória no julgamento do STF, a vitória da liberdade, a vitória do direito e do respeito com as escolhas”, apontou a professora Ângela Melo.
Ameaças em Sergipe e Aracaju
A Ìyá Sônia Oliveira pediu aos seus pares atenção às iniciativas parlamentares que tramitam em Sergipe e em Aracaju que, por trás da defesa dos direitos dos animais, criminalizam as práticas religiosas de matriz africana. “A luta continua em nosso estado. Em 20 de dezembro de 2017 o Estado de Sergipe instituiu o Código de Defesa Animal, legislação que não cita abate nem sacralização. Mas ele fala das armadilhas do destino que vão, mais uma vez, nos perseguir: criação, manejo, animais silvestres… Se não tivermos cuidado, estaremos à mercê desta Lei Estadual”.
“O que que tem de ser preservado pelo Estado, estão fazendo o inverso. Estão usando os instrumentos de Estado para atacar. A proteção aos locais de culto religioso é uma determinação da Constituição Federal. Estão utilizando a Constituição e a Lei para tentar atacar os espaços de cultos de religiões de matrizes africanas”, lamentou o vereador de Aracaju Iran Barbosa.
Enquanto parlamentar, ele se colocou à disposição para dialogar e realizar o enfrentamento em defesa da sacralização dos animais para as religiões de matrizes africanas. “O momento é difícil, e nós temos que juntar forças. Na Câmara Municipal de Aracaju, se for preciso fazer este enfrentamento, assumo o compromisso de começar a mediar. Vou buscar uma conversa para que a vereadora Kitty Lima procure primeiro ouvir os principais interessados neste tipo de inciativa. Contem comigo”, concluiu Iran.
Com informações da Assessoria Parlamentar
Portal Infonet no WhatsApp
Receba no celular notícias de Sergipe
Acesse o link abaixo, ou escanei o QRCODE, para ter acesso a variados conteúdos.
https://whatsapp.com/channel/
0029Va6S7EtDJ6H43
FcFzQ0B