Corpo de Bocão na Aease: emoção e tristeza (Fotos: Cássia Santana/Portal Infonet) |
Já está em Sergipe o corpo do engenheiro Rosalvo Alexandre Lima, o militante comunista que ganhou o apelido de Bocão decorrente da irreverência que sempre cultuou na condição de agente político. O corpo de Bocão está sendo velado na sede da Associação dos Engenheiros (Aease) e será sepultado às 10h desta segunda-feira, 13, na Colina da Saudade.
Em conversa com jornalistas, a funcionária pública Aline Aragão, companheira de Bocão, falou dos últimos momentos daquele que se tornou um dos mais influentes articuladores políticos da história de Sergipe pós-ditadura militar. Rosalvo Alexandre morreu na madrugada do sábado, 11, em um quarto de hotel em Belo Horizonte, capital mineira, onde o casal estava hospedado.
Bocão contrariou a orientação médica e seguiu para Belo Horizonte com a companheira e uma técnica de enfermagem que o acompanhava, tendo como objetivo adaptar o veículo para atender às limitações impostas por uma doença rara, Atrofia de Múltipolos Sistemas (MAS), diagnosticada há dois anos. “Os planos que a gente teve nada foi concluído”, contou Aline Aragão.
Aline, de branco à direita: tudo na minha vida |
“O doutor José Barreto recomendou que ele não viajasse, mas ele disse ‘eu tenho que fazer o que eu quero, eu ainda sou dono de mim’. Ele sempre teve uma posição muito forte em relação às pessoas quererem comandar a vida dele, então a gente sempre fez tudo o que ele queria”, revelou.
Chopp no jantar
Na sexta-feira à noite, 10, o casal desceu para jantar e o último desejo dele foi, da mesma forma, atendido: tomar chopp. Depois da última alimentação e de tomar o tão desejado chopp auxiliado por um canudinho, Bocão e a companheira retornaram ao quarto. “Ele chamou a técnica que sempre nos acompanha, precisou ir ao banheiro e disse ‘Alda eu fiz o número two’, tomou banho e quando a gente o colocou na cama, ele foi ficando branco, foi algo que a gente não esperava porque ele estava bem, estava estável”, disse a companheira.
Leila, ao fundo: amparo dos amigos e da família
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Rosalvo Alexandre e Aline Aragão tiveram 12 anos de convivência amorosa, há cinco anos estavam morando juntos. Ela esteve presente desde os primeiros momentos que a doença foi diagnosticada há dois anos e dele se tornou inseparável. “Rosalvo foi um homem brilhante e, para mim, foi tudo na minha vida, minha vida vai existir antes de Rosalvo e com Rosalvo”, desabafou, entre lágrimas.
Mas não compreende como a morte chegou tão de repente naquele quarto de hotel, exatamente aos 30 minutos da madrugada do sábado, 11, para silenciar o Bocão [conforme classificou o jornalista Milton Alves, ex-presidente do Sindicato dos Jornalistas de Sergipe, um dos amigos do articulador político]. “Foi tudo muito rápido, estou em choque não consigo mensurar o tempo em que tudo isso ocorreu. O Samu chegou em dez minutos, foi tudo muito rápido”, disse Aline.
Bocão foi casado com Leila Lima, com quem teve três filhos. Leila, que se tornou braço forte de Rosalvo durante os anos de chumbo, especialmente no momento em que ele foi preso e torturado pelos militares, também acompanha o velório, sob forte emoção, amparada pelos filhos e amigos.
Por Cássia Santana
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