O candidato à presidência da República Ciro Gomes (PDT) cumpriu compromisso de campanha na capital sergipana na manhã desta quinta-feira, 6. Antes de encontrar a militância e aliados políticos, concedeu entrevista coletiva à imprensa. Entre os pontos mais importantes, defendeu a revogação da reforma trabalhista, propôs um novo modelo de reforma da previdência e falou sobre privatizações.
Ciro reafirmou a eficácia do projeto de promover uma espécie de refinanciamento das dívidas dos brasileiros que estão negativados no Serviço de Proteção ao Crédito (SPC). “É completamente viável. Para dar um exemplo prático, as elites brasileiras, nos últimos três governos, deram aos grandes, ricos, barões da vida nacional, mais de R$300 bilhões de Refis, o refinanciamento das dívidas com o setor público. Dispensaram imposto e repartiram o que sobrou, depois de descontar 90% das multas, correção monetária e etc., e picaram os 10% em 96 meses. Estou propondo, sem usar um centavo de dinheiro público, é que o Estado venha em socorro de 63 milhões de brasileiros que estão humilhados com seu nome sujo sem ter nenhuma culpa ou responsabilidade nisso. Sou estudioso, trabalho com seriedade”.
Segundo ele, a dívida média do devedor é de R$4.200. “R$80 de R$100 disso é de juros, multa correção monetária, taxa de permanência, ou seja, abusos contra uma população que viu uma crise devastadora tomar o seu emprego e empurrá-la para a informalidade para viver de ‘bico’, correndo da repressão nas cidades. O povo brasileiro é bom pagador, tem seu nome zelado. É um problema macroeconômico, não fiz a proposta porque sou ‘bonzinho’. O principal motor de ativação econômica é o consumo das famílias, e não precisa ser economista para entender isso. Se a família consome, o comércio vende. Se o comércio vende, a indústria produz. Aí aparecem os empregos e os impostos para pagar a saúde do povo, a educação, e hoje o país está com tudo isso destruído”, justificou.
Após o encontro com apoiadores, Ciro Gomes parte para outro encontro político na cidade de Caruaru, em Pernambuco.
Nova reforma da previdência
O pedetista pretende implantar um sistema de capitalização da previdência. “Propomos um sistema novo. O modelo atual do Brasil não é mais praticável. O sistema de repartição funciona de modo que a geração que trabalha hoje financia a que já passou da idade. Isso só funciona em sociedades que são, em média, muito jovens. A sociedade brasileira está envelhecendo rápido. […] Só o Brasil, Argentina e Venezuela que persistem nesse sistema na América Latina, e não é por acaso que os três países estão quebrados. Proponho a capitalização: o trabalhador que trabalha hoje poupa para si mesmo, em uma espécie de caderneta de poupança compulsória, até o teto. As leis obrigarão a contribuição do patrão, do empregado, do setor público, das receitas de loterias, que vamos discutindo qual é, garantem o financiamento de um teto para todo mundo, de hoje para a frente, sem mexer em direito adquirido de ninguém”.
Revogação da reforma trabalhista
Ciro Gomes falou também em revogar a reforma trabalhista. “Da forma que foi feita, é uma perversão. Precisamos substituí-la por um amplo debate, mediado por mim, que vou chamar centrais sindicais, trabalhadores, empresários, as universidades, que estão expulsas do debate político brasileiro e é onde está a inteligência, que pode nos poupar dos conflitos ideológicos, das paixões, e trazer a melhor ciência e a legislação internacional comparada. Se eu tiver a honra de servir como presidente, a lei trabalhista entra em vigor para proteger o lado mais fácil, o trabalhador”.
Privatizações
O candidato afirmou não ser totalmente contrário às privatizações. Ciro comentou que em alguns setores, porém, a desestatização é prejudicial à população. “É uma ferramenta que devemos usar com inteligência e não com preconceito ideológico. Sou favorável à privatização do setor de telecomunicações. O problema agora não é porque é privado, é regulatório. Permitiram a cartelização do sistema e hoje o brasileiro paga a maior tarifa do mundo. A tarefa não é estatizar, e sim melhorar o marco regulatório e tentar perseguir a concorrência. Distribuição de energia elétrica: não tem problema em privatizar. Mas vejo um: Nós temos a matriz energética mais limpa e barata do mundo, parte disso já foi amortizado, mas o brasileiro da família e da empresa paga a maior tarifa de energia elétrica do mundo e temos a energia mais barata do mundo, porque o Governo entregou as multinacionais”.
Já em relação à Petrobras, Caixa Econômica Federal e Banco do Brasil, Ciro defendeu suas permanências no Estado. “Por que vamos entregar as riquezas dos nossos filhos e netos para os estrangeiros? Só canalhas fazem isso. É o que os que nos governam estão tentando fazer. Imagina entregar a Chesf para um chinês e quando precisar da hierarquia de uso da água para abastecimento humano vamos ter que ir para Xangai negociar a privatização do regime de água. Ninguém faz isso no mundo. Privatizar a CEF, BB é um crime, porque o Brasil hoje só tem cinco bancos, que monopolizam 85%. O efeito disso é a maior taxa de juros do mundo. Nos Estados Unidos tem cinco mil, e o Brasil tem três privados dominando tudo. Se eu privatizo e não tem capital nacional para comprar, entrego aos estrangeiros. Isso quebra a nossa economia”.
Por Victor Siqueira
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