Deputado teme tranferência de terminal de ônibus

Na sessão desta segunda-feira, dia 29, o deputado estadual Wanderlê Correia (PMDB) fez pronunciamento para tratar de um assunto que, para ele, cedo ou tarde, vai tomar grande repercussão no Estado, devido aos problemas que vai gerar e que há três anos ele vem tratando na Assembleia: o transporte intermunicipal.

O deputado disse que recentemente o Ministério Público estadual decidiu colocar em prática uma portaria que já tinha sido expedida, que proíbe o acesso de ônibus vindos do interior do Estado ao Terminal Rodoviário Luiz Garcia, conhecido como rodoviária velha.

O deputado disse que tem consciência do problema do trânsito em Aracaju e que o objetivo de tal medida é desafogar o trânsito no Centro da cidade, mas que, para ele, vai gerar um grande problema social. Isso porque, segundo Wanderlê Correia, a partir da entrada em vigor dessa portaria, as pessoas que vêm do interior, que já têm problema de acessibilidade para chegar à capital, terão que pagar, além da tarifa intermunicipal, o valor da passagem do transporte coletivo em Aracaju. “Por exemplo, o cidadão que mora em Divina Pastora, Siriri ou Capela paga R$ 5,00 para vir e R$ 5,00 para voltar e, se precisar ir a algum bairro distante do Centro, precisará pagar mais R$ 2,10 por cada passagem, totalizando, então, R$ 14,20”, observou.

Com isso, ressaltou Wanderlê Correia, essas pessoas acabam sendo obrigadas a permanecer em seu município, não tendo direito a sonhar e pleitear um emprego na capital. “Porque como é que essas pessoas vão ter condições de pagar R$ 14,20, diariamente, para vir trabalhar em Aracaju”, questionou o deputado. Ele disse que mesmo quem mora em municípios próximos da capital terão que descer no Terminal Rodoviário José Rolemberg Leite, a rodoviária nova, e pegar ônibus coletivos para se deslocar para o Centro ou bairros mais distantes de Aracaju, sem poder entrar no terminal de integração.

Problema social

“Então, imaginem o problema social que vai ser gerado. E, repito, a essas pessoas que moram nessas cidades já lhes é negada a acessibilidade, elas não podem sonhar em fazer um curso técnico aqui, porque têm que pagar a passagem intermunicipal, fora o transporte coletivo urbano”, disse. O deputado Wanderlê Correia lembrou que ele apresentou à Casa uma indicação no sentido de que o sistema integrado de transporte seja ampliado, a exemplo do que já acontece na cidade de Curitiba, no Estado do Paraná. Lá, 14 municípios fazem parte do sistema integrado de transporte. “E é um sistema de qualidade”, observou.

Wanderlê Correia citou a capital Recife (PE) como outro exemplo de transporte integrado, onde já está sendo feita essa experiência. O deputado falou que lá as cidades distantes até 50 quilômetros de Recife fazem parte do sistema integrado, onde há integração de ônibus e metrô e o passageiro paga apenas uma passagem, em alguns casos com valor diferenciado.

O deputado disse que a proposta dele é criar um grande terminal de integração no encontro das BRs 101 e 235, justamente porque nesse trecho passam os ônibus de quase todos os municípios. “E ali seria feita a integração e iria desafogar o trânsito no Centro de Aracaju, pois não precisariam entrar na capital e quem mora em Itaporanga, por exemplo, poderia se deslocar para outros municípios, como Laranjeiras, ou mesmo Aracaju, pagando apenas uma passagem”, explicou.

Discussão

Wanderlê disse que é preciso que se discuta esse tema na Assembleia, para quando o plano estadual de transporte vier à Casa. “Para que possamos dar aos sergipanos que moram nesses municípios o direito à acessibilidade e de almejar um emprego na capital, garantir-lhe o direito de ir e vir, como é previsto na Constituição Federal, que hoje é negado pelos altos custos das passagens”, disse.

O deputado disse que através de um estudo na área de transporte o sistema poderia ser ampliado. Para ele, o que não pode é continuar a prestação de serviço continuar da forma como está, “que não é moderno nem de qualidade, porque muitas vezes essas pessoas são obrigadas a pegar lotação ou transporte alternativo”, observou. O deputado disse que com esse pronunciamento queria alertar para o agravamento desse problema social quando essa alteração for colocada em prática. “Porque as pessoas já virão a Aracaju pagando um transporte caro e terão ainda que arcar com os custos de outra passagem no transporte da capital”, disse, acrescentando que isso tem lhe preocupado muito.

Paliativo

O parlamentar pediu ao Ministério Público e às pessoas ligadas ao transporte que conversem na tentativa de encontrar uma medida paliativa, até se resolver essa questão. “A gente sabe qual é o problema social que vai gerar com essa medida, dificultando ainda mais a acessibilidade das pessoas do interior à capital”, completou.

Em aparte, a deputada estadual Ana Lúcia (PT) parabenizou o tema trazido pelo colega à tribuna da Assembleia. Ela disse que mesmo com a descentralização do fluxo de ônibus para a rodoviária velha é preciso rever todo transporte de Aracaju. “Esta Casa precisa começar a debater, com audiências públicas, o transporte. O Plano Diretor de Aracaju já foi entregue aos vereadores e nós precisamos discutir. Já passou o tempo de nós pautarmos nessa Casa o tema do transporte coletivo, porque há uma necessidade de diminuirmos o transporte individual e para isso é preciso prestar um bom serviço no transporte coletivo”, destacou.

Ainda em seu pronunciamento, o deputado Wanderlê Correia lembrou que por duas vezes, através de requerimento de sua autoria, o superintendente do Grande Recife Consórcio de Transportes, Dílson Peixoto, esteve na Assembleia Legislativa de Sergipe para falar sobre a experiência da integração do sistema em Pernambuco. “Acho que já é hora de a gente discutir esse tema de extrema relevância, aprofundando essa discussão”, defendeu.