Especialistas associam violência à corrupção

Sebrae abre debates sobre ações de combate à violência (Fotos: Sebrae/Ascom)

Ausência de políticas públicas voltadas para a infância e falta de ações efetivas de combate à corrupção são apontados como principais fatores que contribuem com a violência registrada no país, cujos assustadores índices destacam Sergipe como um dos Estados brasileiros mais violentos, com taxa superior a 64 homicídios por grupo de 100 mil habitantes, segundo o Atlas da Violência produzido pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) divulgado na terça-feira, 5, em Brasília.

O diagnóstico é destacado pelo jornalista Jorge Melguizo, consultor internacional e ex-secretário de Desenvolvimento Social de Medelín, na Colômbia, famosa por abrigar por décadas um dos maiores cartéis responsáveis pelo tráfico de drogas naquele país, e que vem se transformando em modelo de política pública de combate à criminalidade, que está transformando aquela cidade em um polo de desenvolvimento social. Este mesmo entendimento é também do brasileiro Murilo Cavalcanti, especialista em Políticas de Prevenção à Violência Urbana e atual secretário de Segurança Pública Urbana de Recife, capital do Estado de Pernambuco.

Murilo: Laboratório de Medelín deve ser replicado no Brasil

Os dois especialistas, que estão em Sergipe, fizeram um paralelo, destacando os índices de violência registrados no passado em Medelín e os atuais observados no Brasil através do Atlas da Violência e chegam à conclusão de que o combate a esta perversa realidade também passa, efetivamente, por políticas públicas e permanente luta de combate à corrupção.

Violência e corrupção

Na ótica de Melguizo, a violência está intrinsicamente associada à corrupção, constatada no Brasil, segundo destacou em conversa com a reportagem do Portal Infonet, nas três esferas de Governo. Um povo [o brasileiro], na ótica do colombiano, governado por “deliquentes”, o que acaba por transmitir “uma péssima mensagem para a sociedade”.

Melguizo destaca que Medelín já se destacou, por décadas, com taxas de violência [grande número de homicídios], que superaram o cenário mundial e que a cidade, cravada na região central das Cordilheiras dos Andes na América do Sul, superou estes problemas concentrando esforços, durante cerca de 15 anos, em políticas públicas voltadas para a infância e projetos culturais, educacionais com ênfase no fortalecimento das instituições e da cidadania.

Jorge Melguizo: sociedade governada por deliquentes

Segundo Malguizo, Medelín conseguiu vencer a violência, realizando projetos sociais, educacionais e culturais, com um trabalho articulado envolvendo empresas privadas, organizações comunitárias, universidades e organizações governamentais. “Um trabalho coletivo com ações nos bairros mais pobres, com os maiores índices de violência e com maior quantidade de crianças”, ressaltou. Para ele, a desigualdade social e a pobreza também estão associadas à violência. “As pessoas na linha de pobreza não encontram oportunidades de educação e trabalho”, justifica, considerando que a violência está também vinculada ao narcotráfico.

O secretário Murilo Cavalcanti, de Segurança Pública Urbana de Recife, destaca as conquistas do Governo de Medelín no combate ao crime e defende aquele exemplo como modelo que, no seu entendimento, pode ser implantado com tranquilidade no Brasil. “É possível enfrentar esta delinquência urbana, é possível fazer uma nova cidade, mais justiça e mais humana”, destaca. “O laboratório de Medelín pode ser replicado em qualquer centro urbano brasileiro”, considera.

Para Cavalcanti, há omissão das autoridades para enfrentar os problemas relacionados à violência. “Nos últimos 30 anos, o Governo tem enfrentado a violência tão somente com polícia e está provado no mundo inteiro que só a polícia não resolve, só faz se agravar: é matar o jovem da periferia, preto, de baixa escolaridade, o jovem neném que não trabalha nem estuda”, enfatiza.

Palestras atraem grande público no Sebrae

A receita conta a violência, no seu entendimento, está em ações que possam oferecer escola pública de “altíssima qualidade” e na criação de espaços público de lazer, entretenimento e de convivência cidadã nos bairros mais problemáticos. “Com equipamento público que possa fazer mediação de conflito, que possa fazer justiça para os mais pobres, com apoio psicológico e pedagógico e é isso que Medelín tem feito, sem descontinuidade administrativa, quebrando esta lógica perversa de fazer obra pobre para quem é pobre”, ressaltou.

Os dois especialistas estão em Sergipe participando, como palestrantes, de um seminário internacional sobre gestão das cidades, que está acontecendo em Aracaju promovido pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) de Sergipe, cuja temática tem foco no planejamento, parcerias e uso de novas tecnologias no combate à violência.

Por Cássia Santana

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