Governo pode ficar com minoria na Assembleia Legislativa

Ana Lúcia: o fato político é de ruptura (Foto: Maria Odília)

Um novo cenário político pode estar sendo desenhado em Sergipe, a partir da antecipação da eleição da mesa diretora da Assembleia Legislativa realizada na segunda-feira, 27. Entre os governistas, a articulação pela nova composição da mesa liderada, no âmbito do Poder Legislativo Estadual, pela deputada Angélica Guimarães excluiu o Partido dos Trabalhadores, caracterizando um real rompimento entre o bloco liderado pelo senador Eduardo Amorim (PSC) e o governador Marcelo Déda.

Com este novo cenário, o Governo corre o risco de perder terreno e congregar a minoria, o que dificultará a administração estadual. Os episódios e a reação dos governistas na Assembleia Legislativa revelam esta perspectiva e deixam a oposição sorridente. “A palavra dos Amorim derrotou a caneta do governador”, verbalizou o deputado Venâncio Fonseca (PP), líder da oposição na Assembleia, sem esconder o humor. “Não era o que eu queria, mas temos que respeitar a realidade e estamos de braços abertos para receber todo o grupo (dos Amorim)”, completou o parlamentar, entre risos.

Segundo a deputada Ana Lúcia Menezes (PT), a deputada Angélica Guimarães e o grupo liderado pelos irmãos Amorim excluíram, de forma planejada, o PT do processo. Segundo a parlamentar, sequer houve consulta à deputada Conceição Vieira, que ocupa o cargo de primeira secretária da Assembleia Legislativa. “O único partido que não foi consultado para compor esta mesa diretora foi o Partido dos Trabalhadores”, disse.

Este seria, na ótica da parlamentar, um aviso explícito de rompimento feito pelo grupo liderado pelo senador Amorim, apesar das conversas reservadas que os irmãos Amorim (Edvan – empresário – Eduardo, senador) tiveram com o governador Marcelo Déda.

Recados

Eduardo Amorim: sem rompimento (Foto: Arquivo Infonet)

O governador Marcelo Déda conversou com os irmãos Amorim e mandou recados à deputada Angélica Guimarães solicitando cautela de forma a articular a eleição da mesa diretora somente após as eleições municipais que ocorrerão no mês de outubro. Na quinta-feira da semana passada, 23, o governador recepcionou, no Palácio de Veraneio, o senador Eduardo Amorim (PSC) e as eleições da Assembleia foi o principal ingrediente do diálogo. O senador garante que fez as interferências necessárias junto à deputada Angélica Guimarães. “Eu dei o recado (do governador)”, diz Amorim. “Mas a deputada disse que era aquele o momento e decidiu não aguardar”.

Na segunda-feira, 27, o governador Marcelo Déda teve encontro com o empresário Edvan Amorim, o irmão do senador, que tem forte penetração e influência política em todo o bloco. Mas, segundo Ana Lúcia, a conversa com Edvan aconteceu em um momento em que já estava sendo feito o encaminhamento para a eleição da mesa.

A conversa entre Edvan e o governador teria acontecido entre às 12 até 13h52 da segunda, segundo a deputada Ana Lúcia. “O governador contou até a hora e revelou que Edvan falou que não tinha interesse da tensão nem de rompimento, mas o processo já estava sendo desencadeado e foi atropelado e a surpresa do governador foi este atropelo”, revela Ana Lúcia Menezes.

Segundo a parlamentar, da mesma forma que se dirigiu ao senador, o governador teria pedido a Edvan paciência e até exemplificou citando o comportamento do então deputado Ulices Andrade, precursor no processo de antecipação de eleições na Assembleia Legislativa, e que, à época, só concretizou a eleição no mês de dezembro, quando o mês previsto anteriormente pelo regimento interno seria em fevereiro do ano seguinte.

“Na medida em que o governador faz todas estas ponderações, na medida que o governador conversa com o grande líder deles, que é Edvan, que Edvan diz que não tem intenção, mas paralelamente o procedimento já está acontecendo aqui na Assembleia, foi um comportamento de ruptura”, conceitua Ana Lúcia. “Os Amorim romperam com o Governo de Marcelo Déda, foi tudo pensando e hoje quem lidera os Amorim aqui na Assembleia Legislativa é a liderança de oposição, os deputados Venâncio Fonseca e Augusto Bezerra”, ressaltou a deputada Ana Lúcia.

Sem ruptura

O senador Eduardo Amorim nega a ruptura com o Governo. Ao Portal Infonet, o parlamentar revelou que não há interesse do grupo em romper com o governador Marcelo Déda. “Não se pensou e nem se pensa em rompimento”, reage Amorim. “A presidente da Assembleia me procurou, colocou o desejo para planejar a gestão, disse a ela o que tinha conversado com o governador e ela me disse que tinha feito convite a todos os partidos para definir a composição da mesa e que o PT nem o PMDB quiseram entrar na chapa”, diz.

A deputada Ana Lúcia Menezes desmente o senador. “Conceição foi excluída, não houve consulta, ninguém do PT foi convidado a compor a mesa e talvez seja a primeira mesa, depois do regime militar, que se tem uma mesa (diretora na Assembleia) que não se negocia a composição”, analisa Menezes.

Na segunda-feira, o presidente do PT, Sílvio Santos, e a bancada petista na Assembleia Legislativa estiveram reunidos com o governador discutindo uma estratégia para não perder a maioria no Poder Legislativo Estadual. A deputada Ana Lúcia Menezes garante que o governador Marcelo Déda tem ciência de que ocorreu efetivamente um rompimento político. “O governador também não tem previsão de quem vai ficar com o Governo. Houve rompimento a partir de hoje é outro cenário político no Estado e vamos ver. Hoje, o PT, o PMDB e PSD compõem a bancada governista, mas amanhã já pode ter uma outra composição”, conjectura a parlamentar.

A parlamentar revela que o maior desafio é articular um novo bloco governista na Assembleia. “Precisamos agora buscar uma nova maioria para o Governo, esta é a grande meta”, comentou. “Vamos ver na conversa quem realmente vai estar querendo apoiar o governo. É cedo para prever, mas todos afirmam que vão continuar com o governo, mas o fato político foi de rompimento”, disse.

Por Cássia Santana