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Sônia Meire critica oponentes (Fotos: Manoela Veloso Passos) |
Com a conversa de Sônia Meire (PSol), o Portal Infonet encerra a série de entrevistas que realizou com os cinco candidatos que se enfrentarão nas urnas em outubro próximo na disputa pelo Governo de Sergipe. Sônia Meire Santos Azevedo de Jesus, 51, é professora universitária, militante no movimento sindical desde os anos 80, e, neste ano, se licenciou da vice-presidência do Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Educação Superior (Andes) para encabeçar a chapa majoritária da Frente de Esquerda, composta por três partidos (PSol, PCB e PSTU).
Nesta entrevista, a candidata demonstra otimismo para chegar ao segundo turno e promete, sendo eleita, realizar auditoria para avaliar a dívida pública e ingressar com ação judicial para suspender os juros e as amortizações dos débitos contraídos pelo Estado, além de cortar privilégios dos Poderes Legislativo e Judiciário e por fim aos contratos terceirizados como forma de compor orçamento para criar uma universidade estadual e realizar as mudanças, que considera necessárias, na administração pública visando a valorização dos servidores.
Vídeo [Manoela Veloso Passos]
Acompanhe, a seguir, os melhores trechos da entrevista:
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Candidata promete acabar com privilégios |
Portal Infonet – O que levou a Frente de Esquerda construir candidaturas independentes?
Sônia Meire – Os partidos que compõem a Frente de Esquerda sempre tiveram a postura de fazer oposição e de ter projetos construídos pela classe trabalhadora. Nossos partidos sempre estiveram presentes na luta dos trabalhadores na defesa da garantia dos nossos direitos. A partir dos levantes de junho, resolveram neste ano, ter uma nova forma de pensar porque a juventude e os trabalhadores foram para as ruas exatamente para negar este modelo de democracia representativa como único modelo para resolver nossos problemas do ponto de vista da nossa relação com o Estado. O que a juventude e os trabalhadores têm dito é que este modelo está falido, é uma falsa democracia. Até porque quando fomos para as ruas, também fomos violentados porque a nossa liberdade de expressão não é garantida pelos governos e pelo Estado brasileiro. As demandas da população também foram por transporte público, essencialmente naquele primeiro momento, mas foram também por saúde, direito à educação, 10% do PIB. E, a partir disso, a Frente de Esquerda consensua o nosso nome, neste momento, porque poderia ser qualquer outro trabalhador ou trabalhadora, para representar a função de estar colocando este projeto da classe na disputa das eleições, tendo a clareza que as eleições não vão transformar a nossa realidade. Mas a luta nossa, organizada – inclusive com o governo, caso eleita formos – como poderemos construir este processo com participação dos trabalhadores para transformar a nossa própria vida. Não é um governante personificado numa única pessoa que vai transformar a realidade de Sergipe.
Portal Infonet – A senhora aparece com 4% das intenções de voto na última pesquisa realizada pelo Ibope. Como a senhora vê este desempenho e a que se deve esta baixa densidade eleitoral?
Sônia Meire – Consideramos que não é baixa porque nunca fomos candidata a nada. É a primeira vez. Então, começando com 4% consideramos um número relativamente bom. 4% do percentual que foi pesquisado representam 50 mil votos, no mínimo. Consideramos também que precisa analisar esta densidade a partir da rejeição deste modelo, que tem sido altíssima: votos brancos, nulos e pessoas que não sabem se vão votar. Este número é tão alto que chega próximo, inclusive, aos candidatos que, segundo as pesquisas, estão com índice de aceitação, mas que têm índice de rejeição altíssimo. Então, há muita contradição que precisa ser analisada neste processo. Portanto, nós consideramos que o nosso índice [4%] é muito alto. Para nós, os movimentos e a própria população sergipana estão dando resposta, dizendo que não aceita mais este modelo que está posto e não aceita, inclusive, que os velhos financiados pela oligarquia e pelas elites não dão respostas ao que a classe trabalhadora necessita. Não consideramos um índice baixo, consideramos que é muito importante em um processo de eleição a gente trabalhar para, cada vez mais, ampliar a consciência da classe trabalhadora porque é esta consciência que vai poder dizer não ao próprio voto e dizer sim à nossa organização e luta todos os dias. Observamos o resultado da pesquisa com esta perspectiva do que a sociedade pensa hoje sobre o processo de eleição. Os índices são frutos das próprias manifestações das ruas e não poderia ser diferente.
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Sonia Meire: fim dos presídios e das delegacias |
Portal Infonet – Em uma suposta disputa entre os candidatos que dominam as pesquisas, o governador Jackson Barreto e o senador Eduardo Amorim, qual seria a tendência de seu agrupamento político em um segundo turno das eleições?
Sônia Meire – A Frente de Esquerda não apoiará nenhum dos dois candidatos, caso seja esta situação. Primeiro, porque achamos que vamos chegar ao segundo turno porque as urnas poderão revelar muitas surpresas. Segundo, porque consideramos que existem apenas dois projetos que estão sendo colocados: um projeto defendido pelos representantes das elites e das oligarquias e o outro é o nosso programa de governo. Estamos defendendo que o orçamento do Estado seja garantido para que a gente tenha acesso aos nossos direitos. Nesta perspectiva, existem dois projetos muitos diferentes e claros, um alimentado pela produção do próprio capital para manter os poderes e a própria reprodução das elites, e o outro que é alimentado pela luta dos trabalhadores. Neste sentido, não tem como a gente dar apoio nem fazer nenhuma coligação no segundo turno.
Portal Infonet – Por que esta frente optou por indicar dois candidatos ao Senado quando, nesta eleição, há apenas uma vaga?
Sônia Meire – Porque a Frente de Esquerda aqui em Sergipe foi construída com os três partidos, mas nacionalmente temos candidatos diferentes à Presidência da República. Então, os senadores também têm função muito importante de discutir o projeto colocado pelos seus partidos porque, lamentavelmente, não conseguimos construir, nacionalmente, esta frente de esquerda. Até tentamos, mas não conseguimos. Então, como não foi possível nacionalmente, em Sergipe conseguimos manter esta frente e os partidos tiveram as suas possibilidades, sem nenhum problema entre nós, de colocar os candidatos ao Senado porque são trabalhadores, pessoas que têm legitimidade e condições de colocar a pauta dos trabalhadores no Senado.
Portal Infonet – Sendo eleita, como a senhora pretende enfrentar os problemas do sistema prisional e das delegacias de polícia, que estão superlotadas?
Sônia Meire – Defendemos a reestruturação do sistema, com a unificação da polícia militar e civil, para implementar todo um processo educativo e que seja casado com a estrutura que as famílias precisam ter para que possamos diminuir o número de pessoas que está nos presídios. Quem é que está nos presídios, hoje? Quem vai preso, hoje? Quem é criminalizado? Precisamos identificar quem está lá e nós já sabemos. Não é abrindo mais presídios, mais delegacias, que vamos resolver o problema. Muito pelo contrário. Hoje, no Brasil, temos mais de 200 mil necessidades de abertura de vagas no sistema prisional e este número vai aumentar se nós continuarmos com a política que existe hoje no Brasil. Nós não defendemos mais presídios. Queremos acabar com os presídios, só que não se acaba da noite para o dia. Criar políticas estruturantes, onde as pessoas tenham condições de viver e de se humanizar. A nossa proposta é defendida também pelos agentes penitenciários e pela própria polícia, pela desmilitarização. Hoje, o que ocorre é uma privatização de todo o sistema de presídios e de estrutura das delegacias com a terceirização dos serviços. Não podemos defender esta política porque ela é desumanizante, tanto para quem vai preso quanto para quem trabalha no sistema. A Suécia, por exemplo, não tem presídios. Queremos chegar ao nível de não ter presídios, de não ter que ter delegacias e, para isso, é necessário ter políticas estruturantes e políticas onde as pessoas construam suas próprias vidas a partir das suas condições projetadas para que se possa ter perspectiva de continuidade de vida. O que existe, hoje, para a juventude negra e pobre, principalmente, é que os jovens não têm perspectivas de vida. Uma mãe sabe que seus filhos saem de casa, mas não sabem se eles voltam. Não podemos perpetuar este modelo que está na base da estrutura, que é desigual e injusta porque o capitalismo, o modelo do capital que vem sendo utilizando, inclusive, para financiar as campanhas milionárias, investe nestas campanhas para depois cobram a conta com juros, vendendo seus serviços para o Estado para manter cada vez mais os sujeitos em situação de exploração e não resolvem os nossos problemas básicos. Então, vamos trabalhar para diminuir e chegar até o fechamento de delegacias e presídios, com uma sociedade humanizada, com uma sociedade que possa construir sua vida com dignidade e sem o elo de troca.
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Foco em políticas estruturantes |
Internauta Martins Neto – O Estado terá estrutura para criação de uma Universidade Estadual, e qual o plano de governo para ampliação do ensino superior?
Sônia Meire – Para responder a esta pergunta diretamente, preciso situar o leitor na seguinte questão do Estado: o orçamento hoje está comprometido. Primeiro, como é composto o orçamento? 48% de transferências da União e os demais de investimentos do próprio Estado. O que ocorre é que sucessivos governos vêm recebendo a transferência da União e precisa pagar estes recursos à própria União. Para isso, os governos vêm realizando empréstimos a bancos internacionais para investir e pagar os juros e amortizações da dívida, que é tomado pela própria União e pelos bancos. Ao fazer isto, o Estado está retirando do orçamento uma maior fatia/parcela para poder financiar outros projetos e isto não tem condições. Entre o ano de 2013 e 2014, mais de 600 milhões de reais foram destinados para amortização e pagamento de juros da dívida. O que estamos propondo? Primeiro, realizar uma auditoria da dívida pública do Estado. Segundo, comprovando a ilegalidade deste pagamento, destes juros e amortizações do empréstimo realizado, iremos entrar com ação judicial. Nós sabemos que é ilegal, mas precisamos comprovar em auditoria. E, ao comprovar que é ilegal, vamos entrar com ação judicial para suspensão dos juros e amortizações da dívida porque nós conhecemos e consideramos que esta dívida já foi paga, que nós não devemos mais nada. Não se trata de afirmar, o que muitos estão colocando, que queremos dar o calote. Não queremos dar calote em ninguém porque o calote, nós estamos, enquanto classe, sofrendo pelos governos que deixa de investir na educação por exemplo, para pagar juros e amortizações da dívida, e juros que são tratados por bancos corruptos, também. Sobrando este dinheiro, como o presidente do Equador fez, e isso é viável, suspendendo os juros e amortizações da dívida e reinvestiu na área social. Assim, vamos ter orçamento porque orçamento nós temos, ele só está sendo desviado. Teremos orçamento para construir a Universidade Estadual e para atender exatamente as necessidades do trabalho e da vida daqueles que precisam ter acesso ao ensino superior porque a Universidade Federal de Sergipe não dá conta da dimensão e da quantidade de pessoas que está fora da educação pública superior. As faculdades e universidades privadas cresceram estupidamente nos últimos anos e nós temos que ter garantia de educação em todos os níveis, com ensino de qualidade e acesso sem vestibular. Temos que mudar a estrutura do que está aí hoje, para que alunos possam permanecer na universidade e que estes cursos e currículos sejam de qualidade, sem precarizar o trabalho docente, e realizar concursos públicos em todas as áreas, com investimento na formação dos profissionais e na pesquisa, que possa garantir a reprodução da vida da classe trabalhadora em Sergipe.
Internauta Francisco Costa – Sendo a senhora eleita, qual será a prioridade no seu governo?
Sônia Meire – Garantir, para todos os trabalhadores, o acesso aos seus direitos. Para isso, teremos que suspender o pagamento dos juros e das amortizações da dívida, cortar os privilégios da Justiça e da Assembleia Legislativa, cortar a farra dos cargos comissionados para garantir orçamento para a saúde pública, educação pública, moradia, que é um grande problema da população sergipana, infraestrutura e saneamento básico. Não é construção de estradas e de pontes. A população vive, inclusive nos bairros de Aracaju, em condições terríveis de vida, com crianças convivendo com caramujos… sem contar com outros povoados e municípios. Então, infraestrutura e saneamento para garantir a qualidade de vida, investimentos no trabalho e suspender todos os contratos privados. A política, que, historicamente, vem sendo construída e reforçada, é que o Estado apenas coordena a transferência de recursos para as empresas privadas para elas prestarem os serviços. Elas não chegam até a ponta e os serviços não são prestados. Os serviços são caros, o dinheiro é desviado, são fontes de corrupção, e os trabalhadores ficam sem acesso aos seus direitos. Esta é a nossa grande defesa e a nossa principal plataforma de governo.
Internauta Jose Roberto de Almeida – Caso a senhora seja eleita, quais são as suas intenções com o Banese já que o prefeito tirou a conta da prefeitura do banco?
Sônia Meire – O Banese vem sendo privatizado ano após ano, e o maior exemplo disso é o próprio BaneseCard, para render lucros, para atender a outros grupos financeiros maiores. A retirada da folha que o atual prefeito fez foi mais uma forma de produzir a própria privatização do Banese. Nós defendemos a estatização completa do Banese sob o controle dos trabalhadores, com investimento público em um banco que tem que fomentar a organização do trabalho, de toda classe que produz no Estado de Sergipe e que pode vir a produzir desde a geração de alimentos a calçados, vestuário, tecnologia, laboratórios… É para isso que um banco estatal tem que servir num governo de trabalhadores e trabalhadoras. Só que, para isso, vamos ter que lutar muito porque o Banese está todo privatizado. Garantir concurso público e não fazer com que os funcionários sejam vendedores de serviços de planos de investimentos para que o grande capital continue lucrando a partir da exploração dos trabalhadores. Seremos contrários a isso e, por isso, vamos investir mais recursos públicos no próprio banco e não sermos um simples acionista junto com outros acionistas que só pensa na privatização porque senão a gente não tem como ampliar os concursos públicos, não tem como garantir o plano de carreira e não tem como garantir a aposentadoria para todos os servidores públicos.
Internauta Rodolfo Tomaz de Oliveira – O que a senhora fará quanto à falta de defensores públicos no Estado, que só possui defensores em nove dos 75 municípios?
Sônia Meire – A primeira medida é chamar todos os defensores concursados. Existe um quadro de defensores públicos que não foi chamado. Esta é a primeira medida. E, a seguir, realizar mais concurso público e não só para Defensoria, mas também para médicos, enfermeiros, para funcionários não docentes das escolas… para todas as áreas que temos carência e, assim, sucessivamente.
Internauta Wesley Cardoso Fabio – Como a candidata vê o sistema socioeducativo em nosso Estado e quais as soluções para enfrentar as problemáticas deste sistema?
Sônia Meire – O sistema socioeducativo não existe. Só existe no nome. O que temos é um sistema punitivo, onde jovens levados para estas instituições não têm a menor condição de sair dali com melhor educação, com condições, inclusive, psíquicas para continuar com sua vida com dignidade. Não adianta ter uma instituição de depósito de jovens, precisa se ter política estruturante para as famílias cujos jovens estão ali porque foram colocados, muitas vezes, porque não tiveram a menor condição de viver no lugar onde ele vive. Temos que olhar, analisar qual a condição destes jovens em questão de emprego, moradia, das condições de saneamento, sem acesso ao lazer, à educação, que não têm acesso à cultura. Então, não é possível ter medidas socioeducativas, onde você encarcere os meninos e meninas – porque, na verdade, é isso que ocorre. Você criminaliza mais uma vez e coloca aquele jovem sem nenhuma perspectiva de sair dali porque a sua própria família, sem condições também, não tem nem como agregá-lo quando ele retorna. A questão é estrutural e complexa, tem que analisar todo sistema e passa também pelas medidas que estávamos discutindo. Não é uma questão de polícia. O que os governos têm feito é colocar a polícia dentro do sistema. Isso não é sistema socioeducativo. Defendemos acabar com isso de forma que, ao invés destes meninos estarem no sistema socioeducativo entre aspas, eles estejam na escola, estejam fazendo teatro, dança, que estejam fazendo música e também estejam trabalhando e se organizando no dia para que a gente possa ter jovens com futuro. Sentimos falta de nossos alunos a cada dia porque o extermínio da população apresenta índices estupidamente. Em Sergipe, a cada 100 mil, temos 53% de pessoas exterminadas, nos últimos anos, segundo o mapa da violência de 2014. Ou seja, mais de 50 mil jovens exterminados nos últimos anos e esta população é jovem, negra e pobre, que está na periferia das cidades.
Por Cássia Santana
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