Subvenções: caixa de agência bancária deve ser ouvido

Nolet: promessa de manter delação premiada (Fotos: Cássia Santana/Portal Infonet)

O advogado Valter Neto quer identificar o funcionário da agência bancária que entregou o grande volume de dinheiro sacado da conta bancária da Associação dos Moradores e Amigos da Nova Veneza (Amanova) no ano de 2014. No dia do saque, compareceram à agência bancária o empresário Nolet Feitosa, a presidente da Amanova, Clarisse Jovelina de Jesus, a tesoureira da entidade, Alessandra Maria de Deus e também o deputado Augusto Bezerra (DEM), segundo consta na denúncia formulada pelo Ministério Público Estadual.

Em depoimento prestado nesta quarta-feira, 30, no Tribunal de Justiça, o gerente da agência, José Vadson Rodrigues dos Santos, não soube informar quem efetivamente teria recebido o montante sacado e garantiu que este procedimento, comum na agência, teria sido feito por um funcionário específico da agência que chegou à sala onde está instalada a gerência com o volume dos recursos correspondentes aos cheques apresentados pelas dirigentes da Amanova e endossados pelo deputado Augusto Bezerra.

Para Valter Neto, é fundamental a localização deste funcionário para identificar quem efetivamente recebeu, na agência bancária, todos os recursos sacados: se as duas dirigentes da Amanova [que são suas clientes], se o próprio deputado Augusto Bezerra ou o empresário Nolet Feitosa. O gerente não soube responder a estes questionamentos.

Nesta quarta-feira, 30, o juiz ouviu três testemunhas. Além do bancário José Vadson Rodrigues, o juiz Leonardo Souza Santana Almeida ouviu também os depoimentos de José Carlos Alves de Oliveira [irmão de um dos acusados] e de José Williams dos Santos, que doaram contas bancárias pessoais, onde foram depositados cheques emitidos pela Amanova.

Testemunha diz que não teve contato com Nolet

José Carlos e Williams confirmaram que teriam movimentado o dinheiro, atendendo pedido de Nolet. Mas nenhum deles diz que fez acertos diretos com o empresário. José Carlos informou que conheceu o acusado por meio do irmão, Edelvan Alves de Oliveira, que também figura como réu na ação penal. Foi para atender ao pedido do irmão que ele emprestou a conta bancária para depositar o cheque emitido pela Amanova e, consequentemente, sacá-lo. Ele disse que devolveu todo o dinheiro ao irmão, acreditando que seria referente ao débito contraído por Nolet pelos serviços realizados pelo irmão para regularizar a documentação de um imóvel.

Williams apresenta uma versão semelhante, mas não citou o nome do amigo que pediu um “favor”. Em juízo, Williams informou que estava no centro da cidade quando encontrou este amigo, que estava de bermuda e, por estar de bermuda não podia entrar no ponto bancário da Assembleia Legislativa para fazer o saque de um cheque. Williams disse que se dispôs a atender ao apelo do amigo e, com ele, seguiu para o escritório de Nolet, também no centro. De lá, eles teriam seguido para a Assembleia Legislativa.

Nolet teria pedido os documentos de Williams com a informação de que sacaria o cheque. “Eu fiquei esperando sentando no corredor”, contou. Depois, ele recolheu o documento que entregou a Nolet, mas nada teria recebido como recompensa. No depoimento, as testemunhas informaram que Nolet teria aplicado o dinheiro na construção de um posto de combustível.

Orquestração

O empresário Nolet Feitosa estava no TJ/SE e falou rapidamente com alguns jornalistas. Ele disse que classifica como orquestração as denúncias de que ele teria feito ameaças à procuradora da república Eunice Dantas e às dirigentes da Amanova, observando que seria um procedimento adotado pelos denunciantes para desviar o foco das investigações.

O empresário garantiu que manterá o acordo de delação premiada que firmou no âmbito da Justiça Eleitoral e prometeu que fará todas as revelações no Tribunal de Justiça quando for convocado pelo juiz Leonardo Souza Santana Almeida, que comanda a ação penal, para prestar depoimento.

Por Cássia Santana