Subvenções: delegada incentiva delação premiada

Augifranco: R$ 3 milhões na conta pessoal (Fotos: Portal Infonet)

As investigações desencadeadas pela equipe da Delegacia Especializada em Crimes Contra a Ordem Tributária e Administração Pública (Deotap) indicam que um professor movimentou algo em torno de R$ 3 milhões na conta bancária pessoal, um montante incompatível com a renda do profissional que atua na rede municipal de ensino de Lagarto, na ótica da polícia civil. Ele é Augifranco Partrick de Vasconcelos, presidente da Associação Ala Jovem de Lagarto, entidade beneficiária das verbas de subvenções destinadas pelo então deputado estadual Raimundo Lima Vieira, o Mundinho da Comase, preso na manhã desta quarta-feira, 29, acusado de envolvimento em desvio de verbas públicas, lavagem de dinheiro, peculato e associação criminosa.

Mundinho da Comase, por não ser mais parlamentar, recebeu voz de prisão dos agentes da polícia civil na própria residência, por volta das 6h da manhã, em um condomínio na avenida Hermes Fontes. A polícia civil cumpriu mandado de prisão expedido pela Comarca de Lagarto contra os três acusados. Já o professor Augifranco e o irmão dele, Ygor Henrique Batista de Vasconcelos, foram presos na cidade de Lagarto. Os três foram encaminhados para a Delegacia Plantonista, em Aracaju, onde a delegada Danielle Garcia, titular da Deotap, tenta negociar a delação premiada.

Ygor: simulação de contratos

Os irmãos se recusaram a falar no depoimento e foram conduzidos a celas na Deplan. Ygor foi conduzido algemado e o irmão, que informou mas não comprovou ter formação de nível superior, foi conduzido, sem algemas, para uma cela em separado. O ex-deputado permanece no gabinete da delegada e, segundo informações da assessoria de imprensa da Secretaria de Estado da Segurança Pública, há fortes indícios de que o ex-parlamentar aceitará contribuir com as investigações assinando termo de delação premiada. Mas os entendimentos ainda não foram concluídos.

O advogado Valter Góes Neto está tentando a liberdade do parlamentar. Ele considerou a prisão desnecessária e garantiu que já adotou os primeiros procedimentos para o habeas corpus na perspectiva de que seja concedido pelo Tribunal de Justiça de Sergipe.

Escândalo Gigantesco

As investigações foram iniciadas pelo Ministério Público Estadual na esfera cível com a suspeita de improbidade administrativa. Mas, posteriormente, o MPE solicitou a interferência da polícia civil, devido aos indícios de outros crimes, e a Deotap deu prosseguimento às investigações, identificando supostos crimes de lavagem de dinheiro, peculato e associação criminosa.

Ygor sai algemado do gabinete da delegada

No decorrer da investigação, a delegada solicitou a prisão dos três acusados depois de analisar “farta documentação” que revelam simulação de contratos, repasse de aproximadamente 90% das verbas de subvenções destinadas para a Ala Jovem de Lagarto para uma única empresa, a MP10, que tem como sócio [Ygor Henrique] o irmão do presidente da entidade beneficiária [Augifranco Vasconcelos].

Há indícios que grande volume deste dinheiro foi transferido para o próprio deputado que indicou a Ala Jovem como beneficiária, no caso o ex-deputado Mundinho da Comase. “Temos provas que o dinheiro que o ex-deputado destinou para a Ala Jovem retornou para a conta dele [Mundinho da Comase] por meio de transferência bancária e mediante entrega de valores”, informou a delegada Danielle Garcia, que classifica como “escândalo gigantesco” o esquema destinado a desviar as subvenções repassadas desde o ano de 2011.

Conforme as investigações, além de presidir a Ala Jovem, o professor Augifranco Vasconcelos, também administrava recursos de outras cinco entidades, que possuem sede em outros municípios sergipanos também beneficiárias das subvenções e fazia transações com prefeituras sergipanas. Os valores, as entidades e as prefeituras ainda não foram divulgados. A delegada informou que ainda está concluindo a análise de documentos e de informações que chegaram à Deotap.

Valter Góes: prisão desnecessária

As investigações prosseguem. A delegada não descarta a possibilidade de outras pessoas serem presas e informou que o procurador geral de justiça se encarregará para desencadear novas investigações contra políticos que exercem mandato de deputado estadual, que fizeram os repasses de verbas de subvenções para outras entidades.

Por Cássia Santana

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