Subvenções: deputado contesta depoimento de bancário

Gerente e advogado evitam a imprensa na saída do TJ (Fotos: Cássia Santana/Portal Infonet)

O juiz Leonardo Souza Santana Almeida deu continuidade à audiência de instrução à ação penal movida pelo Ministério Público Estadual contra os deputados estaduais Augusto Bezerra (DEM) e Paulo Hagenbeck Filho, o Paulinho das Varzinhas (PT do B). Nesta quarta-feira, 30, mais três testemunhas foram ouvidas. Diferente da segunda-feira, 29, o deputado Augusto Bezerra acompanhou o interrogatório.

Entre as testemunhas, destaca-se o bancário José Vadson Rodrigues, gerente da agência onde foram sacados os recursos destinados pela Assembleia Legislativa à Associação dos Moradores e Amigos da Nova Veneza (Amanova). No depoimento, ele informou que sentiu temor por ter sido procurado pelo deputado Augusto Bezerra poucos dias antes da audiência na Justiça Eleitoral que o convocou como testemunha em processo judicial que tratou do uso das verbas de subvenções em benefício de campanhas eleitorais. O bancário informou que, na época, teria sido induzido a mentir pelo parlamentar e pelo advogado que defendeu o deputado no processo eleitoral.

Naquele momento, conforme afirmou o bancário em depoimento, o deputado teria orientado o bancário a informar que ele [Augusto Bezerra] não estava presente na agência bancária no momento dos saques dos cheques emitidos pela Amanova em favor de Augusto Bezerra. Na frente do juiz, o bancário confessou que, no primeiro momento, teria mentido ao informar, em juízo, que o parlamentar não teria ido à agência bancária, mas que, posteriormente, se arrependeu e fez a retratação para confirmar que efetivamente Augusto Bezerra teria comparecido à agência bancária na companhia das dirigentes da Amanoza e do empresário Nolet Feitosa, apontado como interlocutor do esquema para desviar as subvenções sociais. “Fiquei temeroso, me senti intimidado e até hoje sinto receio”, declarou.

Augusto Bezerra: cheque endossado no gabinete

No depoimento, ele negou ações de ameaça partindo do deputado estadual Augusto Bezerra, mas confessou-se intimidado com o gesto do parlamentar e garante ter visto movimentação estranha nas proximidades da residência nos dias que antecederam o depoimento dele na Justiça Eleitoral. “Percebi pessoas estranhas na porta da minha casa, não sei se era coisa da minha cabeça. Não foi ameaça, mas me senti intimidado, pensando que estava sendo observado”, ressaltou.

Mentira

Aos ouvidos do deputado Augusto Bezerra, que acompanhou a audiência, as declarações do bancário nesta quarta-feira, 30, soaram como “mentirosas”. Augusto Bezerra não nega que tenha comparecido à agência bancária em outras oportunidades por ser cliente, mas não confirma que acompanhou Nolet e as dirigentes da Amanova no dia em que aqueles volumosos cheques foram sacados. “Eu endocei os cheques no meu gabinete, não tive no banco”, declarou Bezerra em conversa com o Portal Infonet.

Bezerra explicou que teria tomado a iniciativa de “endossar” os cheques atendendo pedido de Nolet para que os recursos fossem liberados com mais rapidez. Por se tratar de grande volume, o dinheiro estava bloqueado, segundo Bezerra. “Ele [Nolet] me informou que o dinheiro estava bloqueado e me pediu para que autorizasse”, disse. “Não sei se ele [o gerente do banco] está mentindo agora ou tá dizendo isso por medo de perder o emprego”, observou o deputado. “Tenho telefonema dizendo que ele não tem autoridade para liberar o dinheiro sozinho”, garante Bezerra.

Bezerra disse ainda que procurou o gerente apenas para informar a data e o horário da audiência que seria realizada na Justiça Eleitoral à qual ele [o bancário] precisava comparecer por ter sido arrolado como testemunha. “Na Justiça Eleitoral é diferente. Se você cita alguém como testemunha, e a testemunha não comparece, você perde, não tem polícia para ir buscar”, justifica. “Essa coisa de medo, de ameaça, de se sentir perseguido, é coisa da cabeça dele”, analisou.

O gerente estava acompanhado pelo advogado Ivan Maynard e deixou a sede do Tribunal de Justiça sem falar com os jornalistas, alegando que é funcionário público e teria que obedecer a hierarquia.

Por Cássia Santana

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