Subvenções: testemunha revela quem sacou cheques

Alex muda depoimento em juízo (Fotos: Cássia Santana/Portal Infonet)

Foi marcada por surpresa a primeira parte da audiência de instrução relativa aos processos que tramitam no Tribunal Regional Eleitoral (TRE) quanto a supostas irregularidades na utilização das verbas de subvenções destinadas pela Assembleia Legislativa a instituições privadas reconhecidas de utilidade pública. Uma das testemunhas classificadas como chave, Alex Barbosa, mudou o depoimento para confessar que teria “emprestado os documentos” à irmã [identificada como Alessandra], dona de uma empresa de eventos, para que ela pudesse sacar R$ 200 mil repassados à empresa Wave Music pela Associação Sergipana de Produtores de Eventos.

A Associação Sergipana de Produtores de Eventos foi indicada na legislatura passada por Susana Azevedo, Mundinho da Comase, Paulinho das Varzinhas e Zeca da Silva [que exerciam mandado de deputado estadual até o ano passado] para receber R$ 725 em 2014, relativas às verbas de subvenções. Deste total, R$ 200 mil foram sacados por duas mulheres, usando documentos e a assinatura de Alex Barbosa, que seria o representante legal da empresa Wave Music.

Em depoimento aos procuradores eleitores, Alex Barbosa não confirmou a assinatura no cheque, mas em depoimento em juízo na manhã desta terça-feira, 7, confessou que teria emprestado documentos para a irmã sacar “um dinheiro”, que ele não soube precisar valor nem a origem. Alex Barbosa negou que seria o representante legal da Wave.

Juiz orineta empresário Márcio Gois a usar tom ameno 

Além de Alex Barbosa, também prestaram depoimento os representantes legais da Associação Sergipana de Produtores de Eventos e da empresa Wave Music, receptora de dois cheques nominais emitidos pela Associação Sergipana de Produtores de Eventos. O presidente desta Associação, Márcio José Gois, iniciou o depoimento com um tom estranho, que soou a arrogância aos ouvidos do juiz Fernando Escrivani, que conduzia a audiência. O juiz chamou a atenção do presidente da entidade e pediu para que ele se manifestasse com tom mais ameno.

No depoimento, Márcio Gois confirmou os repasses das verbas feitas pela Assembleia Legislativa, assegurando que seria uma forma que a entidade encontrou para promover os artistas locais. Mas não deu detalhes, sequer soube precisar o montante que efetivamente recebeu no ano passado nem também precisou o nome dos deputados que fizeram as indicações. Ele disse que pediu recursos a todos os 24 deputados estaduais e que enfrenta dificuldades para encontrar sucessores no cargo devido às investigações do MPF que apontam para irregularidades nos repasses e na utilização das verbas de subvenções.

Salvamento

Procuradora Eunice Dantas e advogado Márcio Conrado: análise dos autos no início da audiência

O representante legal da Wave Music, Wildinei Barbosa Morais, confirmou que recebeu R$ 200 mil em espécie de uma mulher identificada como Alessandra [que seria a irmã de Alex Barbosa] como forma de pagamento para a confecção de CD de vários artistas [a quantidade de artistas beneficiados, ele também não soube precisar]. Ele diz que encontrou ajuda de Alessandra porque no momento estava precisando do dinheiro para quitar dívidas, que teria contraído com o atraso de salários dos funcionários da empresa e empréstimos pessoais que teria feito a amigos. Mas negou que teria realizado trabalho para divulgar campanha política.

O único trabalho relativo a campanha política que Wildinei Morais realizou, segundo revelou no depoimento, não foi remunerado porque ajudou a um amigo a finalizar DVD da campanha do ex-prefeito de Capela, Manoel Messias Sukita, para deputado estadual no ano passado. “Prestei serviço, mas não foi diretamente ao político. Foi um amigo que me pediu, foi um salvamento. Mas não recebi nada por isso”, ressaltou no depoimento.

O gerente da agência bancária onde o dinheiro foi sacado, Valtênio Lima, também prestou depoimento. Ele revelou que a mulher que fez o saque seria dona de uma empresa de eventos, que é cliente da agência, mas não soube precisar detalhes dos encaminhamentos adotados pelos funcionários para aquele saque específico. Estava previsto o depoimento de Luciano dos Santos, indicado como uma das pessoas que recebeu um cheque nominal da Associação Sergipana de Produtores de Eventos no valor de R$ 250. Mas ele não compareceu. Trata-se de um agricultor, que desconhecia completamente a movimentação financeira que estaria sendo realizada em seu nome, conforme informações da procuradora eleitoral Eunice Dantas.

Na defesa, estão atuando os advogados Márcio Conrado, Fabiano Feitosa, Geraldo Resende Filho e Rodrigo Mendonça. Os advogados não têm dúvida que não houve irregularidade nos repasses feitos pela Assembleia Legislativa. “Pelos depoimentos colhidos, não nenhum vínculo com o eleitoral”, ressaltou o advogado Márcio Conrado.

As testemunhas deixaram o TRE evitando jornalistas. Ao Portal Infonet, eles disseram apenas que tudo que teriam que declarar já estaria nos autos. A audiência de instrução e julgamento terá continuidade até o mês de maio, sob o comando do juiz Fernando Escrivani Stefaniu, para ouvir as testemunhas arroladas pelo Ministério Público Eleitoral, pela defesa e realizar o interrogatório dos réus [os 24 deputados estaduais da legislatura passada].

Por Cássia Santana

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