Vereadores mantêm punição a Lucimara Passos

Lucimara: choro durante a votação (Fotos: Cássia Santana/Portal Infonet)

Por doze votos favoráveis, cinco contrários e uma abstenção, os vereadores mantiveram o ato do presidente da Câmara Municipal de Aracaju, Vinícius Porto (DEM), em punir a vereadora Lucimara Passos (PC do B). A parlamentar foi punida com advertência escrita e verbal e por quebra de decoro parlamentar por exibir uma peça íntima em plenário para protestar contra o discurso do vereador Agamenon Sobral (PP).

Em pronunciamento na Câmara Municipal, Agamenon Sobral falou, na tribuna, que mulher que teria tentado casar sem calcinha em cerimônia religiosa teria que ser castigada com surra de chicote e ter o corpo coberto de sal. O discurso foi feito pelo vereador justamente no dia em que os movimentos sociais se manifestavam nacionalmente em repúdio à violência contra a mulher. No momento, o parlamentar exibiu um folheto produzido pela Igreja Católica contendo uma notícia falsa.

Na sessão plenária desta quarta-feira, 17, o presidente do Legislativo Municipal colocou em pauta de votação em plenário os recursos interpostos pela vereadora Lucimara Passos contra o ato da Mesa Diretora. Apenas os vereadores da bancada de oposição ao prefeito defenderam Lucimara Passos. Os demais justificaram o voto em favor das punições aplicadas pela Mesa Diretora e, contraditoriamente, elogiaram a atuação da vereradora Lucimara Passos no parlamento.

Reniloson Félix bate forte na mesa ao conversar com o presidente Vinícius Porto

A parlamentar chorou ao ouvir o pronunciamento dos parlamentares que mantiveram a punição e repudiou os elogios que recebeu da bancada que dá sustentação ao prefeito João Alves Filho (DEM) na Câmara Municipal. “Cada palavra de Vossas Excelências é uma facada pelas costas, enfiaram a faca sorrindo”, bradou a parlamentar. Para Lucimara Passos, a postura dos vereadores situacionistas se caracteriza como comportamento hipócrita e conduta criminosa por defender a incitação à violência. “Não estou pedindo amizade, estou pedindo justiça. A bancada de oposição não votou a meu favor porque eles são meus amigos, votou porque eles compreendem que esta sessão entra para história como uma sessão que referenda o machismo e a repressão à liberdade feminina e Vossas Excelências [dirigindo-se aos vereadores que ratificaram a punição] votaram pela punição à uma mulher que reage ao discursos de incitação à violência contra a mulher”, enalteceu Lucimara.

A vereadora Lucimara Passos lamentou a postura da vereadora Daniela Fortes (PR), que cobriu a vereadora punida com elogios para justificar o voto favorável ao ato da Mesa Diretora, e se dirigiu diretamento ao líder do prefeito, Manoel Marcos (DEM), para dizer que teria sido traída por aquele parlamentar, que teria, no primeiro momento, se prontificou para apoiá-la.

Lucas Aribé lamenta que Mesa Diretora não tenha punido Agamenon antes

Os vereadores que ratificaram a punição se sentiram ofendidos com o pronunciamento de Lucimara Passos. “Chamá-lo de Judas, vereador Manoel Marcos, e a todos nós de criminosos foi o maior crime cometido pela vereadora Lucimara Passos”, desabafou Agnaldo Feitosa (PR). O vereador Renilson Félix (DEM), presidente da Comissão de Constituição e Justiça, assinou o relatório pela manutenção da punição a Lucimara, mas optou por se abster na votação em plenário. "Fiz o parecer constrangido", enalteceu, fazendo referência elogiosa à postura da presidência da Casa. Antes do recurso ser colocado para apreciação no plenário, Renilson Félix teve um comportamento suspeito e até bateu a mão na mesa durante uma conversa de pé de ouciro com o presidente Vinícius Porto, demonstrando raiva. Mas, ao ser questionado pelo Portal Infonet, Renilson apenas disfarsou e disse que "era apenas um carinho", sem explicar os motivos da irritação.

Apenas os vereadores Iran Barbosa, Émerson Ferreira e Emmanuel Nascimento, do PT, e Lucas Aribé (PSB) se solidarizaram com Lucimara e votaram contra à punição aplicada pelo presidente da Casa. Iran Barbosa e Émerson usaram a tribuna para se solidarizar com a parlamentar punida, considerando que o direito à defesa foi cerceado e o vereador Lucas Aribé fez desabafo no plenário. “A gente aqui assiste a todo o momento o vereador usar a tribuna para chamar as pessoas de vagabundas e a mesa diretora nunca puniu”, resumiu Aribé.

Iran vai buscar justiça

A vereadora Lucimara Passos diz que, apesar de punida, não se curvará, que manterá lutando contra a violência e não se arrepende “nem um milímetro” do gesto que fez na tribuna da Câmara quando exibiu a peça íntima em protesto ao ato que ela classifica de incitação à violência contra a mulher. A parlamentar observou ainda que naquele momento a Câmara de Vereadores de Aracaju estaria “criando Bolsonaros”, numa alusão às ofensas do deputado Jair Bolsonaro, do PP do Estado do Rio de Janeiro, feitas a homossexuais e, mais recentemente, à ministra Maria do Rosário, ao declarar, na Comissão da Verdade, que não a estupraria porque “ela é feia”.

Lucimara Passos e Iran Barbosa declararam que vão recorrer da decisão da maioria dos vereadores e da Mesa Diretora, buscando todas as instâncias do Poder Judiciário.

Por Cássia Santana 

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