Anjos da Enfermagem: história de dedicação ao próximo

"Anjos da Enfermagem" chamam a atenção de crianças e adolescentes internados na oncologia pediátrica do HUSE (Foto: Monique Garcez)

Eram quase 15h30 do dia 8 de março de 2013 quando eles chegaram, iniciaram uma oração e então se dirigiram ao local do espetáculo. O palco nada mais era do que as enfermarias da oncologia pediátrica do Hospital de Urgência de Sergipe (HUSE) e a plateia era composta por pacientes, familiares e profissionais de saúde. Eles eram a atração mais aguardada da tarde. Estavam com jalecos brancos, fitilhos no cabelo, uma maquiagem especial e chapeis inconfundíveis. Eles são da área de Enfermagem, mas não são profissionais, arrancam risos, mas não são palhaços, incorporam personagens, mas não são atores. Eles são os "Anjos da Enfermagem".

Eles chegam como quem não quer nada. Entram nas enfermarias, cumprimentam a todos e sorriem. Com jogos, brincadeiras, músicas, coreografias e muitos outros artifícios eles encantam, extraem sorrisos e, mais do que isso, gargalhadas. Eles são estudantes e semanalmente atuam como voluntários, promovendo um trabalho de humanização dentro do ambiente hospitalar.

Voluntários extraem sorrisos e, mais do que isso, gargalhadas (Foto: Monique Garcez)

Caracterizados, “Dxinha”, “Bigudinha”, “Potoka”, “Madruguinha”, “Moranguinho”, “Pituca”, “Pipo” e “Novinha”, tomam contam da oncologia pediátrica, e com pequenos gestos conseguem atrair a atenção de todos que os rodeiam. Eles transformam o ambiente de modo que muletas se tornam um instrumento musical, e que uma simples bexiga vira um microfone.

Em uma das enfermarias, voluntários cantam e, desafinados ou não, dissipam qualquer tristeza ou dor. Em outra, um dos pacientes se distrai enquanto um "Anjo" torce um balão para que este adquira um formato de cachorro. Já a outra criança passa o tempo jogando damas, e se diverte ao conseguir boas jogadas contra seus adversários, os "Anjos".

(Vídeo: Monique Garcez)

Outro olhar

Estudantes cantam e distraem pacientes
(Foto: Monique Garcez)

A estagiária de medicina Jacqueline Mazzotti acompanhou de perto as intervenções dos "Anjos", e demonstrou estar encantada com o que viu. “Estou emocionada. Já tinha visto os "Anjos" em vídeo, mas vê-los pessoalmente foi diferente, pois pude ver ao vivo toda a emoção que eles transmitem para o paciente. Eles têm uma energia incrível, uma alegria contagiante, o quarto todo começa a ficar alegre e todo mundo esquece momentaneamente de seus problemas. Esse trabalho é fantástico”, elogia a estudante que está no 11º semestre do curso de medicina.

Jacqueline, assim como as demais pessoas presentes na oncologia pediátrica do HUSE, interagiu com os "Anjos" e foi levada a participar de um número musical com os voluntários. Ela passa por um período de experiência na pediatria do hospital e durante cinco semanas deve atuar na oncologia. “Acho interessante poder ter essa relação com pacientes tão diferentes dos que costumamos ver no ambulatório”, destaca.

O médico Richer Mota acredita que a visita dos "Anjos" cause bem estar aos pacientes
(Foto: Monique Garcez)

Assim como a estudante, Richer Mota, chefe dos pediatras da oncologia, acredita que a visita dos "Anjos" cause bem estar aos pacientes. “A importância dos "Anjos" no tratamento é exatamente a de torná-lo menos sofrível e indesejado pelas crianças e pelas famílias”, afirma. Segundo ele, é mais fácil para a equipe de saúde convencer os pacientes a ficarem mais tempo  no hospital por conta da intervenção dos "Anjos da Enfermagem".

Mota comenta que a melhora do bem estar das crianças e dos adolescentes, ocasionada pela visita dos voluntários, está diretamente relacionada a uma boa resposta ao tratamento oferecido. “De uma forma bem franca, acho ótimas as atividades que os "Anjos" realizam. Como as presencio muito, e às vezes até participo delas, acredito que as que são feitas fora do quarto sejam interessantes, pois nem sempre algum dos pacientes presente nas enfermarias, que não são individuais, não quer ou não pode participar das ações, e por isso acho que vale mais a pena trazer as crianças e adolescentes que podem para a área externa”, comenta.

Rute Andrade elogia projeto (Foto: Monique Garcez)

Coordenando a oncologia do HUSE durante sete anos, Rute Andrade pode acompanhar a evolução dos "Anjos da Enfermagem" e afirma que não há como trabalhar nesse setor sem que haja um serviço de humanização. “O projeto dos "Anjos" é bom demais. É nota mil. Como o próprio nome já diz, eles são uns anjos, trazem alegria, e tiram o foco da doença e do sofrimento”. E Rute ainda complementa: “é válido ter esse olhar de brincar com o cotidiano, e até com os materiais usados para dar assistência aos pacientes”.

Instituto

O projeto "Anjos da Enfermagem" surgiu em 2008, após a criação do Instituto "Anjos da Enfermagem", em 2003. Tudo começou com a iniciativa de uma estudante da área no Estado do Ceará, Jakeline Duarte, que após ler o livro de Patch Adams, ‘O Amor é Contagioso’, desenvolveu a vontade de fazer uma ação deste tipo dentro dos hospitais. “Nasceu em mim o desejo de fazer o bem às pessoas. Então reuni um grupo de estudantes da faculdade e iniciamos o trabalho”, recorda.

Música é uma das estratégias adotadas pelo projeto (Foto: Monique Garcez)

Sob o comando de uma coordenação nacional, o projeto é mantido pelos Conselhos Federal e Regionais de Enfermagem, e atualmente é adotado por 16 núcleos, que são gerenciados por um coordenador estadual e dois locais. Tendo como lema ‘Educação e saúde através do lúdico’, a iniciativa é desenvolvida em cada região por oito voluntários, que precisam necessariamente cursar Enfermagem e estudar em universidades parceiras do projeto. Para fazer parte da iniciativa, é necessário passar por uma seleção e capacitação que ocorrem anualmente.

Com atividades padronizadas em todos os seus pontos de atuação, os voluntários, chamados de "Anjos da Enfermagem", desenvolvem estratégias e atividades principalmente para crianças da 1ª Infância, e prioritariamente em hospitais de referência em tratamento de câncer. Dentre os trabalhos efetuados em cada núcleo, os estudantes precisam realizar semanalmente visitas intra-hospitalares na unidade de saúde pré-determinada, e extra-hospitalares, que devem ser realizadas no mínimo duas vezes ao mês, e são destinadas a realização de ações em locais como casas de apoio, asilos e creches.

Projeto desenvolve campanhas de arrecadação, mobilizaçao e participação
(Ilustração: Monique Garcez)

Além das visitas, os "Anjos" têm que desenvolver ao longo do ano campanhas pré-determinadas pelo Instituto. Elas se configuram como de arrecadação, mobilização, e participação e possuem datas específicas de realização. Estas objetivam mobilizar os voluntários, instituições e empresas parceiras, fazer com que as pessoas participem e pratiquem o ato da doação, e, segundo o próprio Instituto, são estratégias de fortalecimento das ações de apoio a crianças com câncer.

Dentre as campanhas, existe a de doação de alimentos, brinquedos e produtos de higiene, a de fomentação da venda de sanduiches durante o “Mc Dia Feliz”, e ainda a de estímulo a doação de sangue. E como incentivo à realização das campanhas, o Instituto estabelece metas. Em uma delas os "Anjos" devem coletar uma quantidade mínima de materiais a serem doados a pacientes e pessoas assistidas em unidades de saúde, casas de apoio e até a comunidades em situação de vulnerabilidade social.

Dentre as festas comemorativas, os "Anjos" promovem a de São João (Foto: Arquivo Anjos da Enfermagem)

Além das campanhas, os "Anjos" são responsáveis por desenvolver festas comemorativas em datas especiais, a exemplo da Páscoa, Dia das Crianças e Natal, e também de pensar em estratégias de trabalho. Estas devem ser implementadas durante as visitas intra e extra-hospitalares e vão desde a contação de histórias, a realização de trabalhos com pinturas, e arte em balões, ao uso da música como ferramenta de educação e interação social. Estas estratégias devem ser desenvolvidas antes de cada visita, e pensadas a depender do público as quais serão destinadas.

Por Monique Garcez

*Esta grande reportagem é fruto do Projeto Experimental de Conclusão do Curso de Comunicação Social/Jornalismo da Universidade Federal de Sergipe, executado durante o período 2012.2.

Confira a continuação desta grande reportagem, que foi distribuída em três partes:

Parte 2 – Conheça como o ‘Anjos da Enfermagem’ se desenvolve em SE

Parte 3 – 'Anjos da Enfermagem' emociona voluntários e pacientes

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