
Durante o mês de julho, profissionais da saúde em todo o país se mobilizam em torno da campanha Julho Verde, voltada à conscientização sobre o câncer de cabeça e pescoço, incluindo o câncer de boca, um dos tipos mais frequentes no Brasil e no mundo. A iniciativa destaca, sobretudo, a importância do diagnóstico precoce, já que a maior parte dos casos ainda é identificada em estágios avançados, o que reduz significativamente as chances de cura. O ponto alto da campanha acontece no dia 27 de julho, data em que se celebra o Dia Mundial de Conscientização e Combate ao Câncer de Cabeça e Pescoço. Nesse contexto, o cirurgião bucomaxilofacial desempenha um papel fundamental, atuando desde a identificação dos primeiros sinais clínicos até etapas de reconstrução e reabilitação dos pacientes.
De acordo com o Instituto Nacional de Câncer (INCA), cerca de 80% dos tumores de cabeça e pescoço diagnosticados no Brasil entre 2000 e 2017 foram detectados já em estágio avançado (III e IV). A pesquisa, publicada em 2025 na revista The Lancet Regional Health – Americas, também revela que pessoas com baixa escolaridade e idade inferior a 50 anos são mais propensas ao diagnóstico tardio. Para o especialista Breno Barbosa, cirurgião bucomaxilofacial, mestre e doutorando em Odontologia, esses dados reforçam a necessidade de ampliar o acesso à informação e à atenção odontológica regular.

“O diagnóstico precoce passa, muitas vezes, pelo consultório odontológico. Através de uma avaliação clínica, quando há suspeita, conseguimos realizar a biópsia que confirma a presença de um tumor. Quanto mais rápido esse encaminhamento for feito, maiores são as chances de um tratamento eficaz e menos mutilador”, explica Breno.
Entre os principais fatores de risco para o câncer de cabeça e pescoço estão o tabagismo, o consumo excessivo de álcool, a exposição solar sem proteção e a má higiene bucal. Por isso, além da adoção de hábitos saudáveis, as visitas regulares ao cirurgião-dentista são consideradas uma medida essencial de prevenção.
As lesões bucais que merecem atenção incluem feridas que não cicatrizam após 14 dias, manchas esbranquiçadas ou avermelhadas com bordas irregulares e áreas com erosão. Outros sintomas de alerta são dor persistente, nódulos no pescoço e dificuldades para mastigar ou engolir. “O problema é que muitas pessoas ignoram esses sinais ou recorrem à automedicação. Quando finalmente procuram ajuda, a lesão já está em estágio avançado”, alerta o cirurgião.
Quando a biópsia realizada pelo bucomaxilofacial confirma uma neoplasia maligna, o paciente deve ser encaminhado ao cirurgião de cabeça e pescoço, médico responsável pelo tratamento oncológico da região. “A partir dessa confirmação, o encaminhamento é feito para a especialidade médica cirúrgica, que dará continuidade ao tratamento”, esclarece Breno.
Além da etapa diagnóstica, o bucomaxilofacial também tem um papel relevante nas fases mais avançadas da doença, especialmente quando há necessidade de remoção de estruturas ósseas. “Nos casos em que é preciso retirar parte do osso maxilar, atuamos na reconstrução e na reabilitação funcional do paciente, permitindo que ele recupere a mastigação e a estética facial. Essa atuação é fundamental para restaurar a qualidade de vida após o tratamento do câncer”, reforça.
A identificação precoce, somada à atuação integrada entre as áreas odontológica e médica, pode transformar o desfecho clínico da doença. “Se toda alteração bucal recebesse a devida atenção desde o início, o cenário seria outro. É fundamental ampliar esse conhecimento não apenas entre os profissionais de saúde, mas também junto à população”, conclui Breno.
Por Verlane Estácio