Cirurgiões do Huse denunciam precariedade na Oncologia

Médicos afirmam que Oncologia não tem condições de atender à lei dos 60 dias (Fotos: Portal Infonet)

Integrantes da equipe de cirurgia do Hospital de Urgência de Sergipe (Huse) denunciam a situação do setor de oncologia, que segundo os médicos não tem estrutura para atender a longa fila de espera. A situação se agrava com a implantação da nova lei que assegura o atendimento a pacientes com câncer, determinando o início do tratamento em um prazo máximo de 60 dias após o diagnóstico.

De acordo com os profissionais, a ênfase do tratamento é dado aos processos de quimio e radioterapia, em detrimento dos procedimentos cirúrgicos. “O que trata de fato é a cirurgia, que faz a retirada do tumor. A quimio e a radioterapia são complementares, e em alguns casos não são necessários. Apesar disso, esses processos são mais discutidos por que envolvem fatores mercadológicos, como a venda de remédios”, afirma um dos integrantes da equipe, que optou por não se identificar.

Atualmente, 21 pacientes estão na fila de espera do Huse, os quais segundo os médicos poderiam ser tratados em três meses. “Hoje, no entanto, nós podemos afirmar que não há condições de atender toda a fila neste prazo. Todos os dias chegam novos pacientes do interior e de outros estados. Além da demanda, o centro cirúrgico não tem estrutura suficiente, e faltam materiais básicos como fio cirúrgico, grampeadores e até mesmo roupas”, relata outro médico.

O especialista exemplifica a falta de estrutura do Centro Cirúrgico. “Quando o setor foi montado, foram instaladas nove salas para cirurgia. Para cada uma delas, deveriam ser implantados dois leitos para Recuperação Pós-Anestésica [RPA], o que resulta em um número ideal de 18 leitos. No entanto, apenas oito foram disponibilizados. Três salas foram então destinadas para os RPAs, e apenas seis estão ativas para cirurgia”, conta.

Para os médicos, um dos principais problemas da oncologia no Huse é a prioridade dada ao setor de urgência. “Não cabe tratar câncer no Huse, por que o ser desse hospital é a Urgência, e existe a disputa de espaço. Se chega um paciente em risco de morte, a cirurgia do paciente com câncer tem que ser remarcada. Desde o início, a oncologia do Huse foi um apêndice mal ajambrado”, salienta o cirurgião.

Gestão

Equipe de cirurgiões pontua deficiências do setor de Oncologia

A ausência de uma hierarquia no tratamento oncológico do Estado é apontado pela equipe como um obstáculo para a resolução dos problemas. “Não existe uma organização para gerir o tratamento de câncer, tanto em nível Estadual quanto municipal. Para que possamos desempenhar nosso ofício, precisamos de um feedback da gestão. Mas nós, que de fato formamos o corpo de cirurgia, não somos consultados. Por esses e outros fatores, o Ministério Público Estadual foi acionado”, denuncia um membro da equipe.

A equipe de cirurgiões considera inviável o projeto de um Hospital do Câncer. Para os médicos, a quantidade de profissionais voltados ao atendimento direto dos pacientes é limitado, e o sistema de saúde é precário para comportar a demanda.

Coordenação

O coordenador do Centro de Oncologia do Huse, Carlos Anselmo de Lima, afirma que o setor está em processo de reestruturação. “Nosso intuito é de melhorar o atendimento e garantir os processos de quimio e radioterapia, providenciando o estoque de medicamentos necessários a partir da Fundação Hospitalar da Saúde [FHS]. Temos também a proposta de instalar uma nova sala com anestesista, aumentando a quantidade de material básico. Mas isso não cabe só à Oncologia, precisamos do apoio da gestão geral do hospital”, diz.

Carlos Anselmo: Oncologia passa por reestruturação

Carlos Anselmo afirma que a junta médica foi convidada a participar das decisões relativas ao setor. “Durante reunião entre o Ministério Público, a Fundação e os médicos, foi definida a necessidade da nova sala de cirurgia. Isso já está sendo providenciado, e os médicos foram consultados e apresentaram suas demandas. Nós continuamos solicitando ajustamentos com relação às vagas de Unidade de Terapia Intensiva [UTI] e do agendamento dos procedimentos, já que muitos acabam sendo marcados para o mesmo dia”, relata.

SES

Em nota, a Secretaria de Estado da Saúde (SES) contrapõe as informações relatadas pelos cirurgiões ao Portal Infonet. Veja na íntegra: "A Secretaria de Estado da Saúde (SES), através da Superintendência do Hospital de Urgência de Sergipe (Huse) esclarece que a Sala de Recuperação Pós-Anestésica (SRPA) do Centro Cirúrgico da unidade vem reduzindo constantemente o número de pacientes que, antes, aguardavam, internados, por vagas nas enfermarias e na Unidade de Terapia Intensiva (UTI).

Entre os meses de janeiro a abril desse ano, a SRPA oscilou de 20 para 25 pacientes, a metade do que era registrado no mesmo período do ano passado. A reorganização do fluxo interno é uma das principais causas dessa estatística.

Foram adotadas algumas medidas administrativas e gerenciais dentro do hospital e que deram resolutividade a esse fluxo. A maior rotatividade de leitos nas enfermarias e nas UTIs melhorou a oferta e a otimização do serviço.

O Centro Cirúrgico do HUSE funciona atualmente com seis salas de cirurgia, uma Farmácia Satélite 24h, vestiários masculino e feminino, salas de estar médico e de enfermagem, de equipamentos, expurgo (para onde é encaminhado todo o material utilizado após as cirurgias) e arsenal (setor responsável pela guarda de materiais já esterilizados).

O setor é capacitado para realizar cirurgias de pequeno, médio e grande porte, em múltiplas especialidades, incluindo as consideradas 'especiais' como neurocirurgia, ortopedia, torácicas, oncológicas, plástica corretiva e vascular. Todas as salas são dotadas de equipamentos completos de monitoramento e modernos aparelhos de anestesia. Na Farmácia Satélite, ocorre a reposição e montagem dos kits de anestesia e cirúrgicos. Para aprimorar a qualidade do atendimento aos pacientes internados na SRPA, foram adquiridas 20 camas hospitalares."

Por Nayara Arêdes e Kátia Susanna