Cólica menstrual forte pode ser sinal de endometriose

A cólica menstrual, quando intensa, e a dor pélvica crônica podem ser sintomas de endometriose. A doença é mais comum na idade reprodutiva e, se não for tratada, pode trazer dificuldades para a mulher engravidar. O ginecologista Marcos Vinícius Menezes, especialista em Endometriose, conversou com a equipe do Portal Infonet e contou detalhes das causas, diagnóstico e tratamento da doença.

De acordo com o médico, a endometriose traz alterações no aparelho reprodutor da mulher, causando dor pélvica crônica, cólica menstrual, dor durante as relações sexuais e, em algumas ocasiões, a infertilidade. As causas da doença ainda são motivos de muitas pesquisas, mas algumas teorias, conforme o médico, apontam que a própria menstruação, associada, dentre outras possibilidades, a fatores genéticos, hormonais e imunológico, possa estar envolvida no surgimento da endometriose.

Marcos Menezes é especialista em endometriose (Foto: arquivo pessoal)

“A doença se define como a implantação do endométrio, que constitui a camada interna do útero, em outros locais fora do órgão. Acredita-se que o pontapé inicial da doença seja a própria menstruação, momento em que ocorre a descamação do endométrio, viabilizando o transporte dessas células a outros locais. Durante o período menstrual, algumas células desse endométrio descamado percorrem as tubas uterinas e são lançadas na cavidade pélvica, podendo implantar-se em outros locais, como os ovários e até na bexiga e intestino. Mas, se não há predisposição genética e o sistema imunológico funciona normalmente, essas células serão removidas pelo organismo. É por isso nem todas as mulheres têm endometriose”, explica Marcos Menezes.

O médico conta que a não valorização dos sintomas faz com que a doença demore a ser diagnosticada e recomenda que as mulheres procurem um médico ginecologista quando houver cólicas intensas e progressivas e que levem à limitação das atividades sociais. “Não é normal que a mulher tenha cólica menstrual e precise se isolar no seu quarto, faltar à escola ou trabalho, ou até mesmo ir ao pronto socorro frequentemente para tomar medicação. Toda cólica com intensidade aumentada e caráter progressivo, e que leva à limitação de atividades sociais e profissionais, deve ser valorizada pela paciente e pelo profissional assistente”, alerta.

Diagnóstico

O diagnóstico baseia-se na história clínica da paciente, nos exames físicos e complementares, sendo confirmado por cirurgia. “A observação dos sintomas como cólicas menstruais intensas e limitantes das funções sociais da paciente, dor pélvica crônica, dor durante o ato sexual, dificuldades para engravidar, e até de outras queixas, como sangue nas fezes e dor para urinar, que dependem da localização da doença, podem contribuir com o diagnóstico. Esses sintomas, atrelados a um exame ginecológico bem detalhado e a uma ultrassonografia transvaginal realizada por um profissional com expertise, podem apontar fortemente se a paciente tem ou não a endometriose”, detalha o ginecologista.

O médico acrescenta que apesar de o diagnóstico clínico indicar a doença e muitas vezes já autorizar o início do tratamento, a confirmação somente é feita de maneira cirúrgica, através da laparoscopia e da realização de biópsia. “Trata-se de um procedimento minimamente invasivo, que vai permitir ver a cavidade pélvica com ampla definição e fazer a biópsia da lesão, confirmando em definitivo se a paciente tem ou não a doença. No entanto, nem todas as pacientes têm acesso a uma laparoscopia e, muitas vezes, condições de serem submetidas a um procedimento cirúrgico, por isso temos valorizado cada vez mais o diagnóstico clínico e os seus avanços”, conta.

Tratamento

O médico revela que em um grande número de casos o tratamento pode ser clínico, no qual a paciente recebe medicamentos que inibem a menstruação e os sintomas da endometriose. “Trata-se de um tratamento hormonal, no qual a paciente fica sem menstruar. Coibindo o principal sintoma, que é a dismenorréia (cólica), a paciente volta a ter qualidade de vida e adere mais tranquilamente ao seguimento. Acredita-se que a doença possa estacionar ou até apresentar regressão, no entanto, mesmo com a melhora dos sintomas, a paciente deve permanecer indo ao médico periodicamente, porque a doença pode continuar se desenvolvendo silenciosamente”.

Quando há falha do tratamento clínico ou a doença já está em estágio mais avançado e grave, a opção é o tratamento cirúrgico.“Quando optamos pela cirurgia, é fundamental que haja preparo com exames pré-operatórios, pois o procedimento deve ser único e visar a remoção completa da doença. No entanto, alguns focos microscópicos podem remanescer e outros podem não ser de fácil remoção, de modo que a paciente precise de tratamento clínico complementar e acompanhamento para prevenir o reaparecimento ou a progressão de doença remanescente”, ressalta.

Procure um ginecologista

O médico reforça que a partir da primeira menstruação (menarca), é necessário que as mulheres façam visitas periódicas ao ginecologista. “A partir da primeira menstruação, inicia-se a idade reprodutiva e as mulheres estarão expostas a ciclos menstruais e hormônios. Nessa fase podem surgir as cólicas, e também algumas doenças, como a Endometriose. O acompanhamento pelo ginecologista desde o início contribui para o diagnóstico precoce, e pode impedir a progressão da doença, possibilitando o tratamento e a prevenção de complicações”, finaliza.

por Verlane Estácio

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