Discalculia: quando a dificuldade com a matemática deve ser tratada

A psicopedagoga Carolina Garcez explica que os sinais da discalculia podem ser notados desde a primeira infância (Foto: Infonet)

É comum ouvir que a matemática causa ‘dor de cabeça’, principalmente em ambientes escolares, mas o que muitos ainda não sabem é que essa ‘falta de identificação’ pode ser algo bem mais sério. Problemas para lidar com questões numéricas podem ser sinal de discalculia, que é o transtorno de aprendizagem em que a pessoa não consegue compreender habilidades que envolvem a matemática.

A psicopedagoga Carolina Garcez explica que, ao contrário da simples falta de identificação com a disciplina, a discalculia traz uma dificuldade no processamento semântico. “Eu posso não ter uma identificação e ainda assim conseguir me dar bem com a matemática. Na discalculia, existe uma falta de compreensão que faz com que a criança não evolua como é esperado para a idade. Essa dificuldade faz com que a pessoa não consiga entender uma operação matemática ou até mesmo não consiga fazer a distinção de símbolos”, explica.

Segundo Carolina, uma característica frequente em crianças com discalculia é o tempo que ela gasta para concluir determinadas questões impostas por adultos, sejam eles professores ou os próprios pais. Ela explica que a ajuda profissional é indicada após os sete anos, caso a criança continue levando um tempo maior para processar respostas que envolvem números ou se, além disso, ela sente a necessidade de ter algo concreto para concluir cálculos, como a ajuda dos próprios dedos para resolver questões simples.

A identificação da dificuldade ainda na primeira infância é fundamental e define o rumo do próprio tratamento, como explica a profissional. “Se for detectado algum tipo de deficiência intelectual o transtorno não é caracterizado como discalculia. Se houve alguma defasagem pedagógica, como frequentes mudanças de escola ou a falta de uma educação básica sólida, isso também tem que ser descartado e é preciso avaliar o QI com uma equipe multidisciplinar”.

Além de situações acadêmicas, assim como ressalta a psicopedagoga, a discalculia também é notada em situações cotidianas. Dificuldade para dar um troco e efetuar contas rápidas serão encontradas frequentemente. Embora esse tipo de situação possa ser identificada desde a primeira infância, esses sinais de riscos devem ser observados e o diagnóstico é dado somente após uma observação intensa, que costuma ser concluída após os sete anos de idade.

A busca por uma equipe multidisciplinar pode envolver profissionais da saúde como psicopedagogos, neuropediatras, fonoaudiólogos e psicólogos. De acordo com Carolina, pelo fato da possibilidade da discalculia estar associada a transtornos como o deficit de atenção com hiperatividade (TDAH) e com a dislexia – dificuldade na leitura e na escrita – uma das consequências pode ser a alteração na consciência fonológica da criança. “Se ela tem uma dificuldade na alteração da consciência fonológica ela vai ter uma dificuldade na leitura e quando ela ler o problema matemático ela não vai compreender nem transformar a questão numa equação. Se existir um problema na leitura e na escrita é interessante incluir um fono nessa avaliação, trazendo diferentes olhares antes de comprovar que existe realmente a discalculia”, explica a psicopedagoga.

O tratamento

A discalculia causa dificuldade no processamento de questões que envolvem números (Foto: pixabay)

É importante lembrar que uma pessoa que possui discalculia é capaz de seguir na escola normalmente, desde que tenha o auxílio necessário para lidar com a dificuldade na compreensão do assunto. Como explica Carolina, o tratamento é feito por meio de adaptação e suporte. “A criança vai precisar de um suporte maior e de uma adaptação curricular para conseguir superar as dificuldades. Se for um aluno do ensino médio, ele vai precisar usar uma calculadora para conseguir fazer a prova no mesmo tempo dos outros colegas, além de um trabalho de reabilitação cognitiva para trabalhar as habilidades básicas e a velocidade de processamento”, orienta ela.

“Quando você delineia o diagnóstico, além de ser mais fácil definir o tratamento, a criança também para de ser rotulada porque você entende que aquela pessoa tem uma dificuldade real. Não é preguiça, má vontade, nem capricho. O cérebro tem a característica de ser plástico e, embora a pessoa sempre tenha essa dificuldade, já existem estudos que comprovam que com a reabilitação e o tratamento isso pode ser melhorado”, diz Carolina.

Como alternativa para facilitar a compreensão na sala de aula, a criança vai precisar experimentar mais concretamente a matemática para perceber o conceito matemático na primeira infância com um maior suporte visual. A orientação da psicopedagoga é de que os pais fiquem atentos à própria intuição e procurem a escola caso desconfiem que seus filhos processam temas matemáticos com dificuldade. Ela afirma ainda que todas as necessidades que a criança, o adolescente ou adulto precisam serão dados por meio dos profissionais que farão parte do tratamento. É importante ainda ressaltar que os estímulos são fundamentais para auxiliar a intervenção precoce.

“É importante inserir atividades lúdicas com brincadeiras com os pais, nos momentos de folga, para que além dos profissionais e das escolas os pais também estejam estimulando as habilidades que a criança precisa trabalhar naquele momento, de acordo com cada faixa etária”, orienta Carolina.

por Juliana Melo 

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