Doenças hepáticas: 30 mil pessoas morrem por ano no país

Henrique Sérgio: estatísticas alarmantes (Fotos: Cássia Santana/Portal Infonet)

As doenças hepáticas ainda são fatores de grande preocupação dos especialistas haja vista a grande incidência registrada no território brasileiro. Segundo dados da Sociedade Brasileira de Hematologia (SBH), cerca de 30 mil pessoas morrem a cada ano por doenças hepáticas, enquanto a hepatite C acomete cerca de 1,5% da população brasileira, que representa algo em torno de 2 milhões de pessoas infectadas com a doença, e outras 400 mil possuem hepatite tipo B.

Segundo informou o presidente da Sociedade Brasileira de Hematologia, Henrique Sérgio de Morais Coelho, cerca de 20% da população que está acima do peso é portadora de esteatose [gordura no fígado]. “É um dado bastante alarmante”, considera.

Apesar da grande incidência das doenças hepáticas, o Brasil é carente de especialistas e também de doadores que possam contribuir para aumentar com as estatísticas de transplante de fígado, um órgão considerado de fácil regeneração. “Hoje no Brasil se faz dois mil transplantes e isto é altamente insuficiente para o número de candidatos que temos”, considera Henrique Sérgio. “Temos que aumentar o número de lugares e de equipes que fazem transplante porque ainda temos muitos estados que ainda não fazem transplante e não possuem especialistas”, considera o presidente da entidade.

O presidente da Sociedade Brasileira de Hematologia está em Sergipe participando do I Simpósio de Hepatologia do Nordeste, evento que ocorre até esta sexta-feira, 29, em Aracaju. Participam cerca de 230 profissionais, que debatem os problemas e as alternativas para o combate das doenças hepáticas.

Momento da palestra de Raymundo Paraná em Seminário

O presidente da Sociedade Brasileira de Hematologia concedeu entrevista ao Portal Infonet e fez uma avaliação das doenças e também das dificuldades que a população ainda enfrenta para o tratamento.

Acompanhe, a seguir, os melhores trechos da entrevista:

Infonet – O especialista baiano Raymundo Paraná, da Bahia, fez uma observação curiosa a respeito do acesso da população ao tratamento de certas doenças e considerou pífia a cobertura vacinal relacionada à hepatite B. Procede esta afirmativa do especialista?

Henrique Sérgio – Nas capitais há o acesso a vacinas, mas no interior há problemas, principalmente em algumas regiões da Amazônia onde o transporte é feito de barco e a vacina é feita em três doses. Quer dizer, durante três vezes, com intervalo de um mês, os vacinadores têm que ir até as regiões ribeirinhas e isto dificulta. Em muitos locais do país onde há dificuldade de acesso, ainda não chegou a vacina. Na população até 18 anos de idade há cobertura maior que 80%. É um dado bom, mas precisamos identificar os bolsões e trabalhar mais no acesso a estas regiões. A única maneira de erradicar a hepatite é a vacina.

Infonet – Quais os métodos mais frequentes que podem prevenir doenças hepáticas, como a hepatite?

Henrique Sérgio – Fazer uso de camisinha, uma vez que a hepatite tem transmissão sexual. Já houve controle da transfusão e a vacina tem feito com que a hepatite B tenha diminuído, mas nas grandes cidades, nas capitais. Precisamos olhar mais para o interior.

Infonet – O que teria de mito e de realidade na máxima de que o fígado é um órgão de fácil regeneração?

Henrique Sérgio – O fígado é um órgão de fácil regeneração. Em condições normais, podemos doar mais de 70% do fígado porque daqui a um mês seu fígado estará em tamanho normal. O problema é quando o fígado está doente. Por exemplo, quando se tem uma cirrose, ele já não tem mais esta regeneração. Temos que tratar as doenças hepáticas antes, tipo hepatite B, hepatite C, hepatites crônicas, as doenças auto-imunes, doenças metabólicas, combater o uso do álcool imoderado porque tudo isso leva à inflação e à cirrose. Então, antes de se desenvolver a cirrose, o fígado tem uma capacidade enorme de regeneração. Tanto é que para se ter cirrose, é necessário se ter 20 a 30 anos de inflamação do fígado pelos vírus, tem que beber imoderadamente durante muitos anos… O fígado aguenta muito tempo, mas ele tem um limite.

Debates sobre hematologia prossegue até a sexta-feira, 29

Infonet – Como o leigo pode identificar que o fígado está pedindo socorro, já que é um órgão bem silencioso?

Henrique Sérgio – Pois é, o grande problema das doenças hepáticas é que o fígado é um órgão silencioso. Se tem alterações sanguíneas primeiro e, através de exame de sangue, pode-se saber se o fígado está funcionando bem ou não. Muitas vezes, os sintomas relacionados com o fígado são dor de cabeça, enjoo. Na verdade, são sintomas relacionados a doenças gástricas. Por isso, recebemos pacientes já com cirrose que nunca sentiram nada na vida e se surpreendem. São pessoas que beberam ao longo do tempo ou estão com vírus e não sabiam e já chegam com cirrose, com barriga d´água, o que chamamos de ascite, com pernas inchadas, olhos amarelos… que são sinais de doença bastante avançada. Infelizmente, não há um sinal específico para dizer se o fígado está bom ou está doente. Não é sua capacidade de metabolizar o álcool, não são os sintomas digestivos. Tem-se que fazer exame de sangue. Toda a população tem que fazer exame de sangue, principalmente aqueles com faixa etária entre 35 anos e 65 anos, onde há prevalência dessas infecções silenciosas virais. 

Infonet – E o tratamento também é mais complexo?

Henrique Sérgio – Hoje temos tratamento para algumas infecções virais, por exemplo para a hepatite B, para hepatite C, e pode evitar a cirrose. O problema é descobrir estas pessoas porque a doença é silenciosa. O tratamento é disponível na rede pública gratuito. Mas para outras condições, a exemplo da hepatite causada pelo álcool, só parando de beber. Não existe milagre. Só parando de beber e aí sim o fígado se regenera. Quando se está na fase de cirrose inicial, se ele parar de beber, a doença não vai pra frente. Então, é importante ler esta mensagem: primeiro é que as doenças são silenciosas, segundo, existe vacina para algumas infecções, mas para outras não. Não há vacina para a hepatite C e é importante que se pare de beber.

Infonet – As doenças hepáticas têm relação com o peso?

Henrique Sérgio – E uma outra epidemia que está acontecendo é a epidemia da obesidade. Primeiro, as pessoas têm obesidade, posteriormente diabetes, desenvolvem gordura no fígado e esta gordura, depois de longos anos, pode se desenvolver cirrose também. Então, hoje cirrose por esteatose, que é a gordura no fígado, é a terceira causa de cirrose no Brasil.

Infonet – Quais os hábitos que podem contribuir para prevenir doenças hepáticas e salvar o fígado?

Henrique Sérgio – Primeiro, diminuir peso, reduzir a ingestão de álcool, vacinar-se contra hepatite B, evitar uso de seringas de vidro, exigir que a seringa seja sempre descartável. São maneiras simples, mas que são altamente eficientes. O Brasil já melhorou em algumas questões de higiene, na incidência de hepatite B. Hoje temos a menor incidência de hepatite B, assemelhando-se até a alguns países bem mais avançados. 

Por Cássia Santana

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