Especialista dá dicas de como lidar com as emoções neste fim de ano

(Foto: Freepik)

O final do ano é um momento reflexivo para algumas pessoas. Enquanto parte delas vive momentos de euforia, outra é tomada por sentimentos melancólicos. Essas sensações são comuns nesta época e têm relação direta com o estresse, cobranças idealizações e também com fatores como a pandemia, vida financeira, entre outros.

O Portal Infonet conversou com o psicólogo Ricardo Azevedo Barreto, mestre e doutor pelo Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP), que falou sobre os fatores que levam a esses vivências emocionais e sobre como evitar pensamentos negativos e depreciativos.

Ricardo Azevedo Barreto fala sobre como lidar com as vivências emocionais neste fim de ano (Foto: Reprodução instagram)

– Portal Infonet: Do ponto de vista emocional, como as pessoas costumam ficar no fim do ano? 

Ricardo Azevedo Barreto: Existem pessoas que ficam melancólicas e outras eufóricas. Há quem se encontre com tristeza, pessimismo, raiva, culpa ou tenha outras vivências em decorrência de perdas, frustrações ou daquilo que não foi realizado. A alegria pode estar presente nesse período que tem um simbolismo muito forte. É um momento de olhar para o que transcorreu e de relacionar desejo e futuro, tendo múltiplos significados a depender da pessoa e dos rituais de uma determinada cultura. Como a pandemia da covid-19 vem inscrevendo suas marcas na história da humanidade nos dois últimos anos, a virada do ano pode ser um período de reflexão aprofundada sobre o caminho que cada indivíduo, as famílias e a humanidade têm construído, promovendo conexões com os sentidos, esperança consciente e ação transformadora.

– Infonet: Por que parte da população fica melancólica?

Ricardo: É uma forma de enfrentar os ideais almejados que não se realizaram, as frustrações e as perdas. A tristeza, o desânimo e a autodepreciação, entre outras características, podem expressar o modo de lidar com expectativas não alcançadas e adversidades. Ter resiliência é importante. Por mais que as situações sejam difíceis, existem possibilidade de construção. Não se pode esquecer da importância dos profissionais da saúde mental, quando a pessoa apresenta alterações emocionais e comportamentais significativas e persistentes.

-Infonet: Há fatores externos que agravam os quadros emocionais de fim de ano?

Ricardo: Os fatores externos interagem com os internos. O fim de ano é um ritual de passagem com muitos significados para as pessoas, sobretudo para alguns grupos populacionais e culturas. Se os indivíduos enfrentam doenças graves, desemprego ou problemas econômico-financeiros, estresse familiar significativo, desilusões amorosas, vivências de perda intensa, crises sociais ou planetárias, como a da pandemia da covid-19, entre outros aspectos, esses fatores vão trazer impacto emocional, cuja intensidade pode variar. Cada pessoa responde de um modo com base em sua estrutura psíquica. É importante que haja atenção a quadros depressivos, de ansiedade, entre muitos outros, que podem aparecer. Pessimismo constante, falta de ânimo para se relacionar e ter ocupações, alterações no sono ou no apetite, desinteresse pela vida, entre outros aspectos, por exemplo, são diferentes de uma vivência de tristeza pontual. Cuidar da saúde mental sempre é importante e, em alguns momentos, emergencial!

-Infonet: Como evitar vivências emocionais negativas e pensamentos depreciativos?

Ricardo: Uma multiplicidade de vivências emocionais e pensamentos faz parte do humano. Isso significa lidar com o negativo, mas também com o positivo. Quando a pessoa funciona de modo extremista, tende a interpretar uma experiência só como negativa ou positiva, não integrando elementos. O funcionamento “tudo ou nada” é um exemplo disso. Olhar para si, os outros e o mundo de forma mais ampla é encontrar esperança e possibilidades de recriação de caminhos, fortalecendo a resiliência. Entretanto, o ser humano tem motivações inconscientes em seu modo de funcionar e repete padrões psíquicos que limitam a sua criatividade. Estilos de vida individual e coletivo de qualidade, priorizando a educação, a saúde mental e o exercício pleno da cidadania, entre outras dimensões do existir humano, podem contribuir muito para sentir, pensar e agir em prol da qualidade de vida. O fim de ano em nossa cultura é um ritual de passagem ou um recomeço. As práticas do cuidado integral são muito importantes. Pedir ajuda é fundamental e precisa ser uma habilidade social experienciada desde cedo para o bem da humanidade que precisa também desenvolver, cada vez mais, o altruísmo e a generosidade.

Por Luana Maria e Verlane Estácio

 

 

 

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