Hospital de Lagarto atendeu 1.700 vítimas de motos

A pesquisa corrobora com dados já apontados nos relatórios gerenciais e de produção do HRL3 (Foto: SES)

“Eu retornava para casa e próximo ao povoado Lagoa Seca, em Simão Dias, um carro me ‘cortou’ em alta velocidade, quando perdi o equilíbrio e caí da moto. Estava usando os itens de segurança mas, com o impacto, o capacete se projetou, o tênis e a roupa que usava rasgaram todos”.

O relato é do lavrador Antônio da Conceição Souza, de 30 anos, que reside no povoado Carcará, no município de Lagarto, na região Centro-Sul de Sergipe e, desde agosto passado, passou a engrossar a triste estatísticas de vítimas de acidentes motociclísticos que são atendidas todos os dias nas urgências e emergências hospitalares de Sergipe, como o Hospital Regional Monsenhor João Batista de Carvalho Daltro (HRL).

Em consequência do acidente, ocorrido no dia 22 de agosto deste ano, ele sofreu traumatismo craniano, além de um profundo corte na cabeça, e teve que se submeter a uma cirurgia de emergência no Hospital de Urgências de Sergipe (Huse), em Aracaju, para onde foi levado inicialmente pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgências (Samu 192 Sergipe).

“Além do corte na cabeça também tive escoriações pelo corpo e fraturei a clavícula”, disse o lavrador, que se submeterá a uma nova cirurgia no Hospital Regional de Lagarto, onde está internado. “Aqui o atendimento é sem comparação. Os médicos e as enfermeiras atendem super bem. Nota dez”, atestou o agricultor.

Assim como Antônio, mensalmente centenas de usuários do Sistema Único de Saúde (SUS) de Sergipe e de municípios baianos circunvizinhos ou que fazem divisa com o Estado são atendidos no HRL, em consequência de acidentes envolvendo motocicletas e motonetas. Este ano, de janeiro até o dia 28 deste mês, a unidade já assistiu mais de 1.700 pacientes vitimados por acidentes motociclísticos. Esse número foi ligeiramente menor ao registrado no mesmo período de 2015, quando o HRL atendeu 1.808 vítimas por esse tipo de atendimento.

Em todo o ano passado, o número total de pacientes envolvidos em acidentes motociclísticos (motos e motonetas) atendidos no HRL chegou a 2.391. De acordo com o balanço anual do HRL, o número de pacientes envolvidos em acidentes motociclísticos em 2015 representou em torno de 90% das vítimas de violência no trânsito assistidas pela unidade hospitalar em todo o ano passado, que totalizou 2.693.
Para o superintendente do HRL, Oldegar Alves Júnior, ao contrário do lavrador Antônio da Conceição, grande parte dos usuários de motocicletas e motonetas da região geralmente não utiliza ou usa de maneira incorreta os equipamentos de segurança.

“O Brasil convive hoje com uma profusão no número de acidentes de moto. E isso ocorre com maior intensidade principalmente no interior, onde os motociclistas usam na maioria das vezes esses veículos sem a capacitação adequada e sem os equipamentos de segurança, em especial capacetes, ocasionando muitas vezes acidentes com grande gravidade”, ressalta.

Pesquisa

Os acidentes de trânsito, em especial, os motociclísticos, estão entre as principais causas das urgências atendidas no HRL, segundo revelou o Inquérito de Violências e Acidentes em Serviço de Referência Hospitalar de Sergipe. A pesquisa entrevistou 1.065 pacientes atendidos no HRL, no período de 15 de agosto a 13 de setembro de 2013, e foi desenvolvida pela professora Shirley Verônica Melo Almeida Lima como temática da sua Dissertação de Mestrado em Ciências da Saúde no Campus/São Cristóvão da Universidade Federal de Sergipe, contando com a colaboração, na fase da coleta de dados, de alunos do Curso de Enfermagem do Campus da Saúde de Lagarto, também da UFS.

A pesquisa corrobora com dados já apontados nos relatórios gerenciais e de produção do HRL: o grande número de vítimas que se envolvem em acidentes, em especial com motocicletas, a inobservância do uso obrigatório de equipamentos de proteção (como capacetes) e a ingestão de bebidas alcoólicas associada ao ato de dirigir. O estudo apontou, por exemplo, que 53,3% das vítimas de acidentes motociclísticos não utilizavam capacetes.
Pelo levantamento, nos acidentes de transporte, a motocicleta foi o principal meio utilizado pela maioria das vítimas, totalizando 72,2%. Entre os atendimentos registrados segundo o tipo de vítima, os condutores representaram 73,3% dos casos, enquanto os passageiros somaram 19,6%.

Aumento da frota

A popularização das motos e motonetas, nos últimos anos, também tem relação direta com o aumento dos acidentes envolvendo esse tipo de veículo na região. Segundo dados do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran), até junho deste ano apenas Lagarto possuía 21.554 motocicletas e motonetas cadastradas no Renavam (Registro Nacional de Veículos Automotores), representando 57% da frota total de veículos do município, que era de 37.811. O número de motos totalizava 16.706 e o das motonetas chegava a 4.848.

Um  estudo, intitulado Informe sobre Acidentes de Trânsito em Sergipe,  divulgado este mês pela Secretaria de Estado da Saúde (SES), através do Núcleo Estratégico (Nest), aponta também para esse aumento na frota de ciclomotores em  Lagarto e municípios que  integram a Região Centro-Sul de Saúde. De acordo com o levantamento, esse crescimento, entre 2006 e 2015,  foi de aproximadamente 18,85%.
Já os dados do Denatran revelam que, em seis anos – 2010 a 2016 – a frota de  motocicletas e motonetas quase que dobrou apenas em Lagarto, passando de 12.740 para 21.554 desses veículos cadastrados no Renavam.

Fonte: SES

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