
Embora ainda pouco conhecido pela população, o HTLV-1, um retrovírus que pode afetar o sistema imunológico e estar relacionado a doenças neurológicas e hematológicas, tem recebido atenção das autoridades de saúde e passou a integrar a lista de doenças de notificação compulsória do Ministério da Saúde. Alinhado a esse movimento, o Ipesaúde reforça a importância da conscientização sobre a prevenção, o diagnóstico e o tratamento.
Em 2024, a detecção do retrovírus passou a ser obrigatória no pré-natal, integrando a estratégia nacional que busca eliminar a transmissão vertical (de mãe para filho) até 2030. A infectologista do Ipesaúde, Rebeca Yasmin, explica que o HTLV-1 atinge os linfócitos T, células vitais para a defesa imunológica do organismo, e é transmitido principalmente por via sexual, além do contato com fluidos contaminados, do compartilhamento de materiais perfurocortantes e da transmissão de mãe para filho na gestação, parto ou amamentação.
Segundo a médica infectologista, a maioria dos casos permanece assintomática por muitos anos, o que contribui para a disseminação silenciosa da infecção. Quando presentes, as manifestações clínicas podem incluir dificuldades ou mudanças no modo de caminhar, além de lesões de pele e alterações urinárias, especialmente em mulheres, como a “bexiga neurogênica”, que consiste na perda do funcionamento normal da bexiga.
Diferente do HIV
A infectologista do Ipesaúde explica que, embora o HTLV apresente semelhanças com o HIV, seus comportamentos são distintos. “Entre 90% e 95% das pessoas com HTLV-1 permanecem assintomáticas por toda a vida. Já o HIV, quando não tratado, evolui inevitavelmente para manifestações clínicas e sintomáticas”, destaca Rebeca.
A principal diferença entre os dois vírus está na interação com as células de defesa: enquanto o HIV destrói os linfócitos T, o HTLV-1 se incorpora a eles, permanecendo no organismo sem causar destruição direta. A especialista ressalta que ainda não há terapia capaz de modificar a evolução das doenças associadas ao HTLV-1 e o acompanhamento médico foca no manejo dos sintomas entre quem desenvolve manifestações clínicas.
A médica reforça, também, a importância da testagem, especialmente para mulheres que desejam engravidar, pois a identificação precoce da infecção possibilita interromper a transmissão vertical, sobretudo por meio da orientação adequada sobre o aleitamento materno.
Acompanhamento
Rebeca também explica que a sorologia para detectar o HTLV-1 existe nas redes pública e privada. “No Ipesaúde basta ter uma solicitação médica para a realização do exame. O diagnóstico precoce ajuda a dar atenção e monitorar o aparecimento das principais síndromes clínicas, intervindo principalmente com o processo de reabilitação e de controle dos principais sintomas que podem aparecer no futuro”, orienta.
No Ipesaúde, além do acompanhamento com infectologista, que orienta sobre cuidados e condutas necessárias, o suporte psicológico também desempenha um papel fundamental no enfrentamento do diagnóstico. O atendimento em psicologia ajuda o paciente a compreender o momento que está vivendo, elaborar emoções e retomar a sensação de segurança. A psicóloga clínica do Ipesaúde, Ana Karine Braga, explica que receber esse diagnóstico costuma gerar surpresa e intensa insegurança, reforçando a importância de um acolhimento qualificado.
“Muitas pessoas nunca ouviram falar do vírus antes e, por falta de informação, acabam relacionando-o a outras infecções mais conhecidas, o que aumenta o medo. É comum surgirem ansiedade, dúvidas sobre o futuro, tristeza e até mudanças na qualidade de vida e nos relacionamentos. Com informação clara, acolhimento e acompanhamento adequado, esses sentimentos tendem a se reorganizar. Aos poucos, o paciente percebe que é possível viver bem e manter sua rotina, mesmo convivendo com o vírus”, tranquiliza a psicóloga.
No processo terapêutico o profissional vai trabalhar questões como medo, esclarecer dúvidas e fortalecer a autonomia para que a pessoa se sinta capaz de tomar decisões informadas sobre sua saúde. Inclui ainda a psicoeducação, ajudando o paciente a diferenciar fatos de preconceitos e do estigma que geralmente nasce da desinformação — e isso pode gerar grande sofrimento emocional.
“Também auxiliamos na criação de estratégias para lidar com possíveis mudanças no dia a dia e, quando necessário, incluímos a família, para que o ambiente de cuidado seja mais leve, acolhedor e compreensivo. Na terapia, buscamos ressignificar a experiência, para que o HTLV-1 não se torne o centro da identidade do paciente. Ele é alguém com história, planos, vínculos e potencial — muito além da infecção”, completa a psicóloga do Ipesaúde, reafirmando que o apoio psicológico protege a saúde mental, sustenta a autonomia e contribui para que cada pessoa percorra sua jornada com o vírus de forma mais leve, informada e digna.
Fonte: Ipesaúde
