Nova duração no curso de medicina desagrada estudantes

No dia 25 de maio, estudantes de medicina manifestaram decontentamento com as políticas de saúde (Foto: Arquivo Portal Infonet)

Estudantes e classe médica manifestam seu descontentamento com o anúncio da nova medida que estende a duração do curso de Medicina de 6 para 8 anos. Apresentada pelo Governo Federal no último dia 8, a decisão prevê que os ingressantes no curso a partir de 2015 deverão atuar por dois anos no Sistema Único de Saúde (SUS). Sem o cumprimento da determinação, os estudantes serão impedidos de receber o diploma de médicos.

Concludente do curso de medicina pela Universidade Federal de Sergipe (UFS), Filipe Néri considera que a configuração atual do sistema de saúde não suporta a instalação da medida. “Se tivéssemos um sistema que funcionasse, a medida seria bem vinda. O governo utiliza o argumento de que o estudante deve ter maior contato com o SUS. Não existe em Sergipe nenhum aluno de medicina atuando unicamente em hospital particular. O meu curso e o da [Universidade Tiradentes] Unit são todos feitos dentro do SUS. Esta é uma falácia do governo”, diz.

Sob a ótica de Filipe, a decisão se opõe à política do SUS. “Sempre foi pregada a valorização do SUS, com o emprego de profissionais generalistas qualificados. A medida, portanto, vai na contramão desta dinâmica, por que atrasa a formação de médicos especialistas em atenção básica. É uma forma de utilizar mão-de-obra quase gratuita, já que o valor da bolsa para os estudantes com credencial provisória não foi estabelecido”, defende.

Segundo a estudante do terceiro ano do curso de Medicina da Unit, Marília Ferraz, a medida pode levar a um elitismo da profissão. “Eu sou contra, e acredito que a decisão seja absurda. A presidente Dilma Rousseff e o Ministro da Saúde, Alexandre Padilha, querem passar a noção de que o problema da saúde é a falta de médico, sendo que na verdade é a falta de estrutura. Se os pais já têm dificuldades para manter os filhos no curso pelo período de 10 anos, imagine por mais dois. Assim, o curso se torna ‘de elite’”, expõe.

A estudante aponta que a desvalorização dos profissionais de saúde é uma realidade no país, e que a medida pode acentuar o desprestígio entre a classe médica. “Não somos nós que somos supervalorizados, são as outras categorias que são desvalorizadas demais. O que o governo quer é criar uma reserva de mercado com uma medida imediatista, que não vai resolver nada”, explica.

Consequências

Outra dificuldade identificada por Filipe diz respeito aos preceptores. “A falta de preceptoria, isto é, profissionais que orientem e validem os procedimentos realizados pelos médicos que ainda não tem o diploma, é uma realidade. Com a obrigatoriedade da atuação no SUS, este problema irá se agravar. Meu entendimento é de que essa medida deveria ser discutida junto ao Congresso e à população. Da forma como foi anunciada, torna-se uma medida ‘eleitoreira’, que busca preencher um buraco”, opina.

Para a médica Glória Tereza Lopes, presidente da Sociedade Sergipana de Pediatria (Sosepe), a medida pode levar os jovens à desistência do ingresso na profissão. “Apesar de constitucional, esta medida cerceia o direito do estudante de exercer a medicina, e na verdade só tenta remediar o problema da empregabilidade. Somando o tempo de curso com a residência, o estudante aguarda em média 10 anos para atuar. Se for uma especialização mais complexa, chega a ser 15 anos”, pontua.

“Desta forma, haverá uma fuga de cérebros do Brasil para outros locais como Cuba e Bolívia, onde a duração do curso chega a ser de apenas quatro anos e as mensalidades são baratas. E sem a necessidade da revalidação do diploma, isso se torna ainda mais provável. Começando pelos médicos, a medida pode se estender para outros cursos, como psicologia e enfermagem. Nós contamos com o apoio da sociedade para que esta decisão não progrida”, completa.

Proposta

Válida para universidades públicas e particulares, a medida compõe o programa Mais Médicos, e a estimativa dos Ministérios da Saúde e da Educação é de que cerca de 20,5 mil médicos dêem entrada na atenção básica e nos serviços de urgência e emergência da rede pública. Os estudantes continuarão vinculados às universidades de origem e receberão uma remuneração do governo, além de uma autorização temporária para exercer o ofício de médicos.

Por Nayara Arêdes e Kátia Susanna

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