Servidores do Samu lamentam agressões às equipes

Ambulâncias estão sendo depredadas (Foto: Arquivo Portal Infonet)

“Nós entendemos a revolta, mas não aceitamos agressão”. O desabafo é do auxiliar de enfermagem do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), Diennis Celetisno, ao comentar os constantes registros de agressão às equipes das Unidades de Suporte Básico (USB). Para o funcionário, fatores como a falta de macas e de motolâncias, além dos longos períodos pelos quais as viaturas ficam em manutenção, contribuem para a demora no atendimento.

Dienis Celestino explica que a falta de macas do Huse impossibilita a saída das viaturas para os atendimentos. “A gente demora para chegar e as pessoas ficam exaltadas”, destaca. “Há também um déficit de viaturas, por conta das bases que estão desativadas, e daquelas que estão em manutenção”, completa.

Ainda de acordo com Dienis, a situação é agravada com o não funcionamento das motolâncias que estão paradas por falta de equipamentos de proteção individual. “A gente deixa um paciente e sai às pressas para fazer outro atendimento. Não há tempo nem para as necessidades. Eu como servidor vejo o emprenho da superintende se esforça para resolver, mas não depende somente deles”, diz.

Dienis Celestino (Foto: Divulgação)

Casos

No último domingo, 19, uma viatura de Rosário foi atender uma ocorrência em Laranjeiras, e após a constatação do óbito da vítima, populares apedrejaram o veículo. No mesmo dia, em Dores, uma equipe que pediu auxílio à polícia para a escolta durante o atendimento, foi ameaçada por três homens até a completa realização do serviço. Na última segunda-feira, 20, No bairro Siqueira Campos, populares também ficaram revoltados com a demora da viatura para atender uma vítima de disparos de arma de fogo. Neste último caso, a equipe foi agredida verbalmente.

SES

O gerente de transporte da Fundação Hospitalar de Saúde (FHS) e responsável pela manutenção das viaturas do SAMU 192 Sergipe informa que já foi feito um cronograma para revisão dos aparelhos de ar-condicionado das viaturas, inclusive 3 já foram entregues com o serviço concluído. Até a próxima, outras cinco devem ser entregues. 

Além disso, a secretária de Estado da Saúde, Joélia Silva Santos, solicitou ao Ministro da Saúde, Alexandre Padilha, durante reunião com o governador Jackson Barreto, em Brasília, a liberação de 17 viaturas para frota reserva do Samu. 

Sobre o episódio ocorrido em Laranjeiras, a superintendência do Samu informa que a unidade chegou em menos de 20 minutos e lamenta, mais uma vez, a atitude da população que depredou uma ambulância que foi retirada de circulação para conserto. Essa já é a segunda ambulância depredada no município, além de diversas ocorrências de ameaça à equipe e registradas em boletim de ocorrência, motivo pelo qual a base do Samu no município de Laranjeiras foi desativada.

Motolâncias

A diretoria Administrativa Financeira da Fundação Hospitalar de Saúde (FHS) esclarece que, já foi realizada a licitação para a aquisição dos Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) dos condutores de motolâncias do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU 192 Sergipe) e já emitidas as ordens de fornecimento. Foram licitados capacetes, luvas, cotoveleiras, joelheiras, conjunto de chuva, coletes, mochilas e óculos de proteção.

Macas

A Diretoria Operacional da Fundação Hospitalar de Saúde (FHS), esclarece que a falta de macas no Hospital de Urgências de Sergipe (Huse) é reflexo da superlotação da unidade que é referência no atendimento para casos de alta complexidade e, na prática, vem recebendo usuários que poderiam ser atendidos em Unidades Básicas de Saúde (UBS) ou nas Unidades de Pronto Atendimento (UPAs).

“Quando se fala em falta de macas, é preciso avaliar o que está provocando isso. O Huse tem que estar focado na assistência de pacientes graves e, no entanto, a maioria dos pacientes que estão na Ala Azul deveria ser tratada na Atenção Básica dos municípios ou UPAs”, comenta Wagner Andrade, diretor operacional da Fundação Hospitalar de Saúde.

O Hospital de Urgências de Sergipe tem em média 180 pacientes no Pronto Socorro, sendo 500 atendimentos por dia. Desses 180 pacientes, 60 são de trauma. Os outros 120 são pacientes de risco azul e verde, que não deveriam estar ali. Quando o caso não é resolvido nas UPAs ou UBS, o paciente vai buscar o Huse. Não é maca que vai resolver o problema de superlotação. O Huse continua sendo a válvula de escape da população que não tem o atendimento que deveria ter na rede básica”, reforça Wagner Andrade.

Para o Silas Lawley, superintendente do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu 192 Sergipe), “o Huse é referência para alta complexidade, mas as falhas constantes nas UPAs de Aracaju faz com que levemos para o Huse. Os casos de baixa complexidade são encaminhados porque as UPAs não recebem.

“Quando faltam profissionais ou quebra algum equipamento nos hospitais da Zona Norte e Zona Sul, o paciente vai direto ao Huse e não vamos negar atendimento. Na manhã desta terça-feira, por exemplo, recebemos a informação que a UPA Zona Norte estava sem película de Raio X, sem ortopedista e sem cirurgião. Logo, os usuários recorrem ao Huse. Essa situação que é recorrente”, Wagner Andrade, diretor operacional da FHS.

Baixa Complexidade

De acordo com os dados do Sistema Integrado de Informatização de Ambiente Hospitalar (Hospub), em 2013, somente no Huse foram atendidos mais de 160 mil pacientes. Desses, 9.965 deram entrada com febre, 4.474 casos foram pacientes com mal estar e vômito, 1.822 pacientes com diarreia, 422 pacientes para troca de sonda e 1.334 pacientes com abcesso. Além disso, o Huse recebeu casos de constipação, conjuntivite, com cólica menstrual, unha encravada, náusea, urticária e até piolho. Além desses casos de baixa complexidade, ainda há pacientes que vêm dos estados como Bahia e Alagoas, em busca de atendimento.

De acordo com diretor técnico do Huse, Manoel Gomes Bisneto, “é importante que as pessoas busquem primeiramente o atendimento na unidade básica da sua região ou um serviço mais próximo de casa respeitando as complexidades dos casos. Isso otimizaria o sistema e desafogaria a porta de entrada do Huse”.

Por Verlane Estácio