Vegetarianismo: Vida consciente e mais saudável?

Victor é vegetariano há oito anos (Foto: Portal Infonet)

O vegetarianismo, segundo a Sociedade Brasileira de Vegetarianos (SBV), é uma prática alimentar que exclui da dieta todos os tipos de carne (boi, peixe, frutos do mar, porco, carneiro, frango e outras aves) e é baseado no consumo de alimentos de origem vegetal com ou sem o consumo de laticínios e/ou ovos. A prática está crescendo no Brasil. As estimativas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam que eles já somam 9% da população. Os proprietários de restaurantes, lanchonetes e vegetarianos percebem que o mesmo está acontecendo em Sergipe.

Victor Balde, fotógrafo e vegetariano há oito anos, diz que começou sendo, somente, vegetariano e hoje é vegano. “Veganismo é o estilo de vida que não explora nenhuma forma de sofrimento animal, utilizando-se dos boicotes aos diversos produtos/serviços que financiem o maltrato com animais, tornando-os meras mercadorias”, explica Victor.

Victor diz que se tornou vegetariano porque buscou se informar sobre os processos envolvidos na comercialização da carne. “Vi o que acontecia por trás da industria da carne e vi que era possível viver sem financiar o maltrato de animais para prazeres fúteis, como a alimentação composta por bichos, uma determinada vestimenta ou determinado cosmético que é testado em animais”, comenta o fotógrafo.

Sâmia Scaranto, vegetariana há três anos (Foto: Portal Infonet)

Para Sâmia Scaranto, administradora e vegetariana há aproximadamente três anos, o vegetarianismo é uma forma de levar a vida baseada na ética e no comprometimento com o bem estar do planeta, das pessoas e dos animais. Ela conta ainda que a adesão à prática alimentar aconteceu gradativamente, retirando primeiro as carnes vermelhas, depois as brancas.

Sâmia conta, assim como Victor, que decidiu aderir ao vegetarianismo após assistir documentários e pesquisar sobre os problemas causados ao planeta, por conta da forma de produção de carne. “Decidi ser vegetariana após assistir o documentário ‘A carne é fraca’, do Instituto Nina Rosa. No documentário, é visto tudo que envolve o consumo da carne, desde o desequilíbrio ecológico, proporcionado pelo desmatamento da mata atlântica e agora da amazônia destruindo habitats, para criar pasto e para o cultivo da plantação de soja, onde a maior parte direcionada para a fabricação de ração de gado ao invés de ser para consumo humano, até as cenas reais desses criadouros de animais usados para consumo humano (frangos, porcos e bois) onde esses animais são tratados como coisas, não podem desenvolver seu comportamento natural”, explica a administradora.

A professora do departamento de zootecnia da Universidade Federal de Sergipe, Ângela Cristina, também tem uma péssima visão dos abatedouros, mesmo sendo carnívora. “A grande maioria dos abatedouros não é fiscalizada, embora todos eles tenham um médico veterinário. A crueldade com os animais é muito grande e é desnecessária. Além da falta de higiene que existe, isso é inadmissível”, diz a professora.

Para Ângela, existem dois viés que precisam ser melhorados nos abatedouros: “um, da higienização, e, o outro, do tratamento que é dado aos animais que são seres que sentem medo, dor, pavor, estresse, que querem fugir diante da situação que se encontram”.

Ela conta que a maneira correta de fazer o abate é utilizando uma pistola pneumática, atirando diretamente na fronte do animal, para que ele seja insensibilizado. “O animal antes de ser abatido tem que ser insensibilizado, porque, na verdade, o animal morre não por conta de uma pancada na cabeça ou por um choque, ele morre por conta da sangria e, para esse animal ser sangrado de forma humanitária, não tem necessidade de sangrá-lo consciente, é muito sofrimento. Após a insensibilização é que ele deve ser sangrando porque, assim, ele não percebe o ato, ele vai morrer inconsciente sem se debater e sem se agonizar”, explica Cristina.

Ela conta que, atualmente, procura saber a procedência das carnes com as quais se alimenta e só compra o produto se souber que os animais são abatidos em locais higienizados e capacitados a fazer o abate humanitário.

Sáude

Danilo: "o vegetarianismo não é saudável para os seres humanos" (Foto: Portal Infonet)

Um grande temor daqueles que planejam se tornar vegetarianos, mas que ainda não deram o “último passo”, é de ficarem com carências nutricionais, já que os alimentos de origem animal possuem nutrientes importantes para a dieta humana. Além do receio de sofrer preconceito, por se sentir “diferente” da maioria, este é um dos maiores medos que se impõe como uma barreira para a transição final.

A desconfiança é maior em relação à vitamina B12, já que este é o único nutriente encontrado exclusivamente nos alimentos de origem animal. Para a SBV, outros nutrientes encontrados de maneira combinada nesses alimentos (como as proteínas da carne) podem ser obtidos com uma alimentação bem planejada por parte do adepto e a boa nutrição dos vegetarianos pode ser perfeitamente alcançada com a ajuda de um profissional especializado.

Sâmia conta que o preconceito mora, em massa, nesse ponto. “Eu sempre tenho que ouvir comentários do tipo: ‘o correto é comer carne’, ‘você vai ficar fraca, vai adoecer’, ‘os animais foram feitos pra gente consumir’, isso é uma das coisas mais difíceis de se enfrentar”, desabafa a administradora.

Opinião médica

Para o médico nutrólogo, Danilo Valadares, o vegetarianismo não é saudável para os seres humanos. A carne, leite, ovos e derivados possuem proteínas que são mais ricas em aminoácidos essenciais (os que não são produzidos pelo corpo humano) e esses são mais facilmente absorvidos pelo organismo que a proteína vegetal.

O médico diz que para que se possa ter uma alimentação mais saudável, o vegetariano primeiro deve consumir, pelo menos, leite e ovos, pois são boas fontes de vitaminas, mineirais e proteínas de alto valor biológico. “Eles precisam variar bastante as cores dos vegetais da dieta, isso fornecerá mais tipos vitaminas e minerais diferentes. Ingerir vegetais ricos em ferro (o ferro vegetal é muito pouco absorvido, apesar de presente) com sucos de frutas ricos em vitamina C (laranja, limão, tangerina, goiaba, acerola, caju, etc). Fazer uso de polivitamínicos geralmente é indicado”, considera Danilo.

Contestando estas informações, que são maioria entre os médicos brasileiros, está o também médico nutrólogo, Eric Slywitch, que em vários de seus artigos defende a dieta vegetariana e contesta a ideia de que o uso de suplementos seja necessária.

“Existem inúmeros trabalhos científicos publicados sobre atletas vegetarianos que não usam suplementos de proteínas e apresentam excelente desempenho nas atividades físicas, mesmo nas mais exaustivas. Afirmar que o vegetariano vive às margens da deficiência protéica é um erro conceitual, além de não estar baseado em evidências científicas”, opina Slywitch em um dos seus artigos.

Narayádnie e gabriel, proprietários do Empório Naturista (Foto: Portal Infonet)

Para Narayádine de Souza, proprietária do restaurante vegetariano Empório Naturista, e seu filho Gabriel Domingos, vegetariano desde que nasceu, a dieta vegetariana é extremamente saudável. “Meu filho nunca comeu carne, ele cresceu bem e saudável, nunca quebrou um osso e dificilmente tem gripes ou resfriados, ele tem uma saúde de ferro, nunca precisou de suplementos. Eu também estou muito bem, e nem quando estava grávida precisei tomar sulfato ferroso que é bastante comum na maioria das mulheres” conta Narayádine.

Os demais vegetarianos entrevistados na matéria também se sentem bem com relação à saúde. Mas o nutrólogo Danilo insiste na opinião de que “o mais saudável é se consumir carnes e vegetais juntos, o consumo de ambos é o que é realmente saudável. O ideal é consumir frutas, carnes magras cozidas (de preferência peixe e frango), saladas, leguminosas, cereais, óleos de boa qualidade e evitar sal, açúcar, conservas, embutidos, alimentos ricos em gordura saturada, aves com pele e gorduras trans”.

Restaurantes

Ivo e Daniela, proprietários do restaurante OmShanti (Foto: Portal Infonet)

Outra preocupação constante, não só para os adeptos do vegetariano, mas também dos médicos, é onde encontrar a variedade de alimentos que possa suprir, ou chegar o mais próximo disso, a necessidade de vitaminas, minerais e proteínas que o corpo necessita.

Os vegetarianos sempre tiveram dificuldades em encontrar ambientes onde comer bem. Hoje, eles contam que a situação melhorou por conta de receitas que são trocadas online, mas há algum tempo a pesquisa era feita com muita dificuldade.

Daniela Rodrigues, proprietária e responsável pela parte culinária do restaurante OmShamti, conta um pouco da trajetória das suas receitas. “De início eu ia trocando receitas com amigos em reuniões, onde cada um levava um pratinho, depois passei a pesquisar em livros internacionais, onde a literatura sobre o assunto é mais vasta e também consegui muitas coisas experimentando”, diz.

Ivo Delmondes, marido e sócio de Daniela, conta que o restaurante existe desde fevereiro de 2011, e que foi feito para ser uma opção pros amigos do casal, que sempre buscavam um lugar para se reunir e comer bem. “Foi um empreendimento corajoso, porque nós somos o único restaurante vegano do Nordeste, tínhamos medo de não atingir um público suficiente, mas até agora tudo está dando certo, sempre temos clientela, sempre aparece mais gente que traz mais gente”, diz Ivo.

Daniela lembra que o restaurante recebe vários nichos, como pessoas que precisam cortar gorduras da dieta, que precisam cortar sal, e também crianças com alergia a lactose, que encomendam doces e salgados para suas festas.
Narayádine e Gabriel também recebem esses pequenos nichos no seu restaurante, o Empório Naturista, e contam com uma loja de produtos vegetarianos e naturais e uma lanchonete funcionando no mesmo espaço do restaurante. Eles contam que o empreendimento tem 22 anos e foi um dos primeiros restaurantes do ramo no estado.

Narayádine acha que o crescimento da procura por produtos da sua loja, ou por comida no restaurante e lanchonete se dá não só pelo crescimento do vegetarianismo, mas por uma maior preocupação das pessoas com relação à saúde. “As pessoas precisam mesmo ter consciência de que o corpo é feito de alimentos e precisam se preocupar com a melhoria da alimentação”, opina a proprietária.

Por Janaina de Oliveira

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