‘Fridge Magnet’. É assim que o curta-metragem sergipano ‘Ímã de Geladeira’, de Carolen Meneses e Sidjonathas Araújo, é apresentado ao mundo na programação de dois festivais estadunidenses em abril. Gravado e inspirado no bairro Rosa Elze, em São Cristóvão-SE, o filme será exibido no 19º Festival de Cinema Negro de Seattle e no 38º Festival de Cinema Latino de Chicago no próximo sábado, 30.
Desde janeiro de 2022 a produção circula no Brasil em eventos como a Mostra de Cinema de Tiradentes, em Minas Gerais, e o Festival Visões Periféricas, no Rio de Janeiro. No início deste mês a população aracajuana teve a oportunidade de assisti-lo na 7ª EGBÉ – Mostra de Cinema Negro de Sergipe.
‘Ímã de Geladeira’ é um curta-metragem de ficção que transita entre os gêneros cinematográficos terror e fantasia para narrar a vida de um jovem casal preto que vive numa periferia sergipana. Com uma narrativa afro-surrealista, o curta discorre sobre a violentação aos corpos negros e periféricos e sua espetacularização pelos meios de comunicação de massa. Assista ao trailer: https://www.youtube.com/watch?v=F7NYb6xJQLg&t=1s.
Para o co-diretor Sidjonathas, romper as fronteiras nacionais é um indício da potência cinematográfica do estado mesmo diante da escassez de recursos destinados ao setor. “Exibir o nosso filme em um festival que acontece há quase quatro décadas nos Estados Unidos, como o festival de Chicago, convence a nós próprios do quão importantes e válidas são as nossas narrativas”.
Em Chicago, o curta compõe a programação ao lado de outros 85 filmes da América Latina, Espanha, Portugal e Estados Unidos, sendo sete deles brasileiros, como os longas ‘Desejo Particular’, de Aly Muritiba, e ‘Medusa’, de Anita Rocha da Silveira. O evento também já exibiu aclamados filmes brasileiros como ‘Medida Provisória’, de Lázaro Ramos, no ano passado, e ‘Ó Paí Ó’, de Monique Gardenberg, em 2009.
“Por que só agora?”
Carolen Meneses, roteirista e co-diretora do curta, comemora a estreia internacional ao mesmo tempo em que provoca a circulação de mais filmes produzidos fora dos grandes centros. “Fazer o Ímã atravessar o Atlântico para debater questões ligadas ao descaso com a população negra no Brasil através de personagens negros carregados de subjetividade me faz questionar: Por que só agora?”.
O questionamento de Carolen faz parte da iniciativa de realizadores e produtores audiovisuais que buscam romper com a falta de visibilidade das narrativas negras no Brasil e no mundo. “Por esse motivo a exibição de Ímã é tão significativa no Festival de Cinema Negro de Seattle, uma janela que nos conecta com autores e trabalhos provocativos sobre a experiência afro-diaspórica de cineastas independentes de diversos lugares”.
Foi o evento que exibiu os primeiros filmes da diretora, roteirista e distribuidora de filmes norte-americana Ava DuVernay, atualmente reconhecida pela criação da série ‘Olhos que condenam’ e do documentário ‘A 13ª Emenda’, ambos disponíveis na Netflix. Ava foi a primeira mulher negra indicada ao Oscar com seu filme ‘Selma’, abrindo um horizonte para cineastas negras contemporâneas.
Legado cultural
Produzido pela Floriô de Cinema em 2021, o filme leva às telas desde um dos pioneiros do cinema negro sergipano, o griô das artes e do movimento negro sergipano Severo D’Acelino (Zé das Peças), à estreante Solange Bocão (Dona Solange), moradora do Rosa Elze.
Na trama, a atriz e performer Margot Oliveira interpreta a costureira Joyce, par do casal protagonista, e comenta sobre a emoção de ver sua atuação e a cultura do seu povo imortalizadas. “Tô muito feliz que Joyce consegue me levar para outros ares me fazendo acreditar que é possível ser transatlântica de fato, perpassar pelas profundezas de grandes mares e deixar esse legado para nossos descendentes”.
Fonte: Assessoria de Imprensa
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