A águia e seus dois donos

Num lindo dia de primavera, um bando de águias brincava no ar, algumas se escondiam nas árvores, outras davam piruetas em pleno vôo, algumas arriscavam vôos rasantes sobre a terra e sobre a água de um riacho, que ia de uma ponta à outra daquela bela floresta, até perder-se dos nossos olhos. 

Uma das águias em meio às brincadeiras chocou-se com um galho de uma das maiores árvores de toda a mata.  Ao cair desmaiada sobre um amontoado de folhas, que ficava sob a frondosa árvore, ficou vulnerável. Neste momento passava por ali, um caçador de aves que ao encontrá-la correu e capturou-a, dizendo:

– Nem posso acreditar! Cheguei até a pensar que hoje não seria um bom dia para caçar, mas… Eis que encontro uma águia. Oh! – disse o caçador ao pegar a águia pelas garras já amarradas – Está de bom tamanho, mas… ainda precisa engordar um pouco, a colocarei em meu galinheiro para que possa ficar bem gordinha… hum… e assim poderei fazer um grande negócio ao vendê-la.
Ao chegar em sua fazenda, ele mesmo fez questão de cortar as asas da coitadinha da águia. Logo em seguida, jogou-a no galinheiro e a partir daquele dia a águia fora criada como uma galinha.
Logo que chegou no galinheiro ficou desolada, e surgiram várias fofoquinhas entre todas as galinhas que estavam por lá.

– Ora. Isto aí é uma galinha é? – perguntou Merilu, desconfiada.

– CoCocó. Não reconheces mais a tua laia? Hum? – disse Mafra, meio arrogante.

– Estou sem meus óculos. Não está vendo? Cococó… – disse Merilu desapontada com a resposta da sua vizinha de poleiro. 

– Desculpe-me se a ofendi – retrucou Mafra em tom irônico.

– Agora você há de concordar comigo, que ela deve ser uma bela ave. Tem porte para isso. Mas este infeliz caçador a despenou quase que inteiramente – disse Merilu em tom de preocupação.

– Hum… Nem sequer é uma galinha, Merilu – disse Mafra.

– Isso não importa sua louca. Ela pode não ser bela pra você, mas pra mim é uma ave muito bonita

– disse Merilu irritada com a arrogância de sua colega.

– Cococó me desculpe se fui arrogante. Agora tenho que ensinar aos meus filhotes a ciscar o chão, procurar minhocas etc, etc, etc. Coisas de galinha. Cococó – retrucou Mafra.

– CO-CO-CÓ! – Disse Merilu.

A galinha Merilu ficou super preocupada com a águia, pois ela estava …tão cabisbaixa, com os olhinhos baixos de vergonha, encolhia suas asas despenadas como se a tristeza a corroesse por dentro, ela se destacava no galinheiro, imponente, parecia, até, um rei cativo, mas Merilu nada pôde fazer para animá-la.

Passaram-se vários dias, até, que chegou na fazenda um homem de nome desconhecido e comprou a águia por uma fortuna! Nem sei de certo o valor. Uma coisa era certa: a águia tinha, agora, um novo dono. Que não sei por qual motivo ela não o temia tanto.

Ao chegar na fazenda do seu segundo dono, a águia fora depenada mais uma vez, só que dessa vez, foi depenada por completo. A águia chegou a pensar que seria aquilo o prenúncio dos seus últimos suspiros.  Seu dono, após depená-la, untou-a com mirra. Passaram-se alguns dias e as suas asas cresceram novamente; fortes. A águia voltou a ser o que era antes; esperta, sagaz. Nesta fazenda ela não vivia em cativeiro, porém vivia livre, feliz.

Numa manhã fria, de neblina rala, a águia arriscou alçar vôo pela primeira vez, depois do acidente que sofrera. Voou belissimamente sobre o despenhadeiro, que se localizava no terreno da fazenda onde morava, fazendo piruetas no ar, enquanto o sol despontava no horizonte. De repente avistou das alturas uma lebre e com muito cuidado arriscou-se a fim de caçá-la, ato de que foi privada desde que foi capturada. Mostrando-se vigorosa conseguiu caçá-la facilmente. E então pensou:

– Vou levar esta lebre para o meu dono. Ele merece, afinal de contas foi ele quem me deu a vida de novo. Ele é um homem bom – pensou a águia toda orgulhosa da sua primeira caça depois de sua melhora.

Enquanto levava a lebre para o seu dono, a ave fora surpreendida por uma raposa que a observava.

– Entrega-a pra seu primeiro dono, pois o segundo é bom de natureza. Só assim poderá mostrar ao primeiro que não se iguala a ele.

– Mas logo ao primeiro? Quem me ajudou foi o meu segundo dono. Ele merece uma retribuição – retrucou a águia.

– Deixa de ser boba! Você vai lá, entrega a lebre para seu primeiro dono, fingi-se de amiga atenciosa… Puxa o saco. Entendeu? Só assim ele não vai mais capturá-la e jamais te privará das tuas asas. E você vai poder viver livre sem ter que temê-lo. Sacou?

-Ah! Agora entendi. Mas é claro! 

 

Gustavo Aragão Cardoso
   

                                                                                               


 

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