Everaldo Pereira: ‘Para mim tudo é dança’

Everaldo em ensaio fotográfico de Flávio Monteiro
Há oito anos o jovem sergipano Everaldo Pereira ganhou um concurso de dança em Brasília, que lhe deu direito a uma bolsa de estudos em Londres. Dedicação, criatividade e muito suor foram alguns dos principais ingredientes para o sucesso deste coreógrafo, que foi para a Europa, com uma passagem só de ida, sem dinheiro e sem falar inglês. Hoje é respeitado entre os mais conceituados profissionais da área. Todos os anos visita Aracaju para matar saudades da família, amigos e do clima. Enquanto Londres, cidade que lhe adotou, está congelando no frio europeu, Everaldo aproveita para curtir a praia e o calor do Nordeste. Apaixonado pela dança, Everaldo vê coreografias em gestos simples, como o levantar de uma xícara. É essa paixão que não o deixa ficar parado. Apesar de estar de férias, o coreógrafo não dispensa o trabalho, e promove até amanhã, 14, o 1° Workshop Internacional de Dança Contemporânea. Este momento é para ele uma oportunidade de se reciclar e pesquisar novos movimentos. Em entrevista ao Portal Infonet, Everaldo Pereira, que volta para Londres no início de março, fala do início de sua carreira, de trabalho, planos para o futuro e critica a falta de uma política de incentivo à dança no Estado.

 

 

Portal Infonet –

Foto: Flávio Monteiro
Como foi o início de sua trajetória?

 

Everaldo Pereira – Aprendi a dançar com Reginaldo Flores, no Auditório Lourival Baptista, depois fui para a Studium Danças, e desde muito cedo eu comecei a coreografar para escolas, para gincanas. Naquela época eu não sabia muito o que eu estava fazendo. Mas hoje eu estou aprendendo a dar valor ao que eu fazia.

 

Infonet – Como foi que surgiu a oportunidade de ir para Londres estudar dança numa das escolas mais conceituadas do mundo, a London Studio Centre?

 

EP – Em 1998 eu participei de um concurso de bolsas de três anos, que aconteceu em Brasília, com feras de toda parte do país. Eu não estava nem um pouco confiante, tinha certeza que não chegaria a final, por isso eu tinha que levar três coreografias prontas, mas acabei levando só duas. Passei nas duas primeiras fases e fiquei para a final, só que não tinha a última peça coreografada. Fiquei sabendo que ia para final às 14h e tinha que apresentar às 18h. Aí eu improvisei uma roupa, coloquei uma música e dancei. O teatro foi à loucura! Todos os outros finalistas estavam muito preocupados com técnica, e eu entrei dançando um afro-contemporâneo. E aí na categoria contemporâneo livre eu fui o vencedor. Só que eu só tinha garantida a bolsa, nada de falar inglês, nem viagem internacional, nem grana para me manter!

 

Infonet –

Foto: Fernando Barbera
E aí, pensou em desistir?

 

EP – Eu nunca desisto das coisas que eu começo a fazer. Aí fiz shows, coreografei peças juntei um dinheirinho, muita gente me ajudou. A passagem eu ganhei de uma amiga, só que era só passagem de ida. Dois meses depois que eu estava lá, lavando muito prato para poder me sustentar, eu pensei em voltar. Foi aí que eu descobrir que não tinha volta.

 

Infonet – Se você tivesse ficado em Aracaju, você acha que estaria fazendo o que?

 

EP – Acho que eu estaria estacionado… ou dando aula numa escola de dança… ou estaria em outro lugar, talvez Rio, São Paulo… Na verdade eu nunca parei para pensar (risos).

Infonet – E você tem vontade de voltar?


EP – Não. São oito anos fora. Lá eles valorizam mais a dança. Eu não consigo viver sem Londres. Mas meu grande sonho é que esse Teatro Tobias Barreto possa ter futuramente uma boa companhia de dança. O teatro é maravilhoso, tem uma sala de dança fantástica, mas falta a companhia da dança do Estado. Eu não tenho a pretensão de ser o coreógrafo, mas eu quero ver nascer essa iniciativa. O governo patrocina tanta coisa, mas sempre deixa de lado a dança. No Projeto Verão mesmo, o palco que ele ofereceu para as apresentações de dança foi uma vergonha. Eu nem consegui ver o espetáculo e fiquei super triste com isso. Investiram tanto dinheiro em show, palco grande para os artistas e colocaram um palco vagabundo para as companhias de dança. Isso é um absurdo. Eu acho que não é por aí. Mas isso depende dos profissionais também.

 

Infonet –

Foto: Fernando Barbera
Como é seu trabalho com a companhia “Nú Tempo”?

 

EP – Como é uma companhia que ainda não tem patrocínio do Reino Unido não dá para trabalhar com dançarinos fixos. Atualmente eu trabalho com pequenos projetos. Se me convidam para coreografar um espetáculo para daqui a dois meses, eu chamo meus amigos que fizeram escola comigo, coreografo com eles e apresento.

 

Infonet – Quais são seus planos para o futuro?

 

EP – Eu fui convidado, em meio a diversos coreógrafos europeus, para apresentar em julho um espetáculo com 25 bailarinos, que farão um curso de quatro semanas e no final serão escolhidos cinco. Imagine a minha responsabilidade!? A pesquisa que eu estou fazendo aqui vai servir de material para esse trabalho que eu vou apresentar em Londres.

Infonet – O que você acha que tem feito seu trabalho se destacar lá fora?

EP – O motivo que me escolheram para coreografar esse show é justamente pelo fato de meu trabalho ser bastante eclético, com muita energia. Além disso uso muita coisa do Brasil, a capoeira, o gingado e jogo na dança dos ingleses. E é muito difícil coreografar para eles, porque o inglês não tem o nosso swing, nossa sensualidade. É por isso que meu trabalho está diferente, porque eu estou desafiando a coisa certinha dos ingleses. Eles são muito técnicos e, para mim, na dança o mais importante é ter alma e conteúdo.

 

 

Infonet – Você acha que a originalidade de seu trabalho, de pegar coisas do dia-a-dia e introduzir na dança, está sendo utilizada por outros profissionais mundo afora?

 

EP – Eu acho que não! Eu faço isso porque sou meio louco (risos). Na dança existe uma outra dimensão, existem outros caminhos para fazer as pessoas dançarem. Eu gosto de trabalhar com quem não dança. Inconscientemente já dançamos todos os dias. Se pararmos para pensar, só o fato de pegar um xícara já é um trabalho coreográfico. Lógico que tem a parte técnica, mas para trabalhar com iniciante acho que tem que ser por aí.

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