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(Foto: Divulgação GET) |
(…) Boa noite. Esta noite, posso informar ao povo americano e ao mundo que os Estados Unidos conduziram uma operação que matou Osama bin Laden, o líder da Al Qaeda e um terrorista responsável pelo assassinato de milhares de homens, mulheres e crianças inocentes (…).
Foi numa noite de domingo (02 de maio de 2011) que o presidente Barack Obama anunciou para a comunidade internacional o encerramento de uma implacável perseguição ao homem mais procurado do mundo: Osama Bin Laden. Acusado pelo governo americano de ter sido o líder do maior atentado sofrido pelos Estados Unidos ocorrido, no histórico 11 de setembro, o nome Bin Laden foi, sem sombra de dúvida, por muito tempo o sinônimo do terror. No entanto, os meios utilizados pelo governo estadunidense durante a perseguição tornam a palavra terrorismo, na melhor das hipóteses, discutível.
É sobre essa temática que a premiada diretora Kathryn Ann Bigelow retoma as discussões sobre terrorismo iniciadas em Guerra ao Terror (The Hurter Locker – 2008). Marcado por um profundo processo de desconstrução dos princípios mais básicos dos Direitos Humanos, o filme A Hora mais escura (Zero Dark Thirty – 2012) remonta os principais momentos da perseguição a Bin Laden até a sua execução sumária pelo exército americano. Sua protagonista, a personagem Maya (Jessica Chastain) representa uma agente da C.I.A determinada a utilizar quaisquer meios para capturar o líder da Al Qaeda. E é aqui que o filme inicia o seu debate.
Legitimado pelo Patriot Act, o uso da força e práticas de tortura foram comumente utilizados pelo governo americano em interrogatórios de prisioneiros em Abu Ghraib e Guantânamo. Desrespeitando todos os princípios aprovados pela Convenção de Genebra (1949), o pragmatismo e a política externa americana foram ainda mais além ao empreender guerras e invasões contra o mundo mulçumano, em especial Afeganistão (2001) e Iraque (2003), nem mesmo a O.N.U foi capaz de deter a sede por vingança dos E.U.A contra os seus supostos inimigos. Ao se intitular defensores do bem e anunciarem uma cruzada contra o Eixo do Mal (Irã, Iraque e Coreia do Norte), os americanos iniciaram a sua Guerra ao Terror e após 11 anos de combate ao terrorismo o que se percebeu é que os Estados Unidos se assemelharam ainda mais aos seus algozes: violentos, autoritários e em alguns aspectos, dotados de uma concepção de defensores de uma causa.
Ao longo do filme essa metamorfose é personificada pela protagonista, que abdica de todos os seus valores humanos, para obter informações necessárias. O uso da força se torna um veículo e o mal uma conveniência. Ainda assim, como seria possível um indivíduo defensor da democracia e da liberdade aceitar participar de torturas e execuções sumárias? Uma das respostas pode ser obtida através de Hannah Arendt (1999). De acordo com ela, violência poderia ser interpretada como o resultado da interação entre a autoridade e a subordinação, isto é, seriam ações de homens comuns que buscam atender e cumprir as obrigações patrióticas. A ausência de questionamentos morais ou éticos possibilitaria a execução de atos responsáveis pelo massacre de inúmeras vidas, o que na visão da autora configura-se como a conclusão de um processo de banalização do mal.
Evidentemente, não pretendemos afirmar que a Al Qaeda ou Bin Laden são inocentes ou muito menos que seus atos tenham sido justificáveis. Muito pelo contrário, suas ações foram desumanas e destrutivas, mas as atitudes estadunidenses também o foram. Portanto, no momento em que o governo americano resolveu utilizar o terror, tortura e todos os meios possíveis para encontrar Osama Bin Laden, aproximou-se ainda mais daquilo que ele se comprometera a destruir e de fato, nesse momento os Estados Unidos vivenciaram a sua Hora mais escura. O mal não se combate com o mal.
Paulo Roberto Alves Teles é membro do Grupo de Estudos do Tempo Presente (GET/ CNPq/UFS) e integra o Programa de Mestrado do Núcleo de Pós-graduação e Pesquisa em Ciências Sociais (NPPCS/UFS).
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