Picada fatal

Eram cinco amigos, todos dependentes químicos. Um deles procura uma veia no braço já marcado por outras picadas. Ele puxa um pouco do seu sangue para diluir a droga dentro da seringa e reinjeta o conteúdo. O colega ao lado espera uma oportunidade e reutiliza a seringa, realizando o mesmo processo anterior. A cena, apesar de fictícia, acontece com muita freqüência entre os usuários de drogas injetáveis. A injeção do conteúdo, além de poder causar flebites, abscessos e endocardites bacterianas, pode servir de porta de entrada para outras doenças, como a Hepatite, Aids e outras doenças. Para evitar a agressão desnecessária ao corpo e a propagação de doenças, muitos grupos trabalham com a chamada política de redução de danos, em que o objetivo se não é evitar o uso de drogas, é o de pelo menos reduzir ao máximo as conseqüências danosas da utilização dessas substâncias. Já se defende a idéia de que um usuário de drogas deve ser treinado para a administração e auto-aplicação do conteúdo. A idéia de redução de danos é uma das proposições do “V Congresso Virtual HIV/AIDS”. Um dos trabalhos do segundo congresso, denominado “Estratégias de Redução de Danos” defende justamente esse tema. O autor do texto é o médico Fábio Mesquita, doutor em Saúde Pública pela Universidade de São Paulo e vice-presidente da International Harm Reduction Association. Reduzir danos ou apoiar o uso? Por redução de conseqüências danosas, entende-se desde os pequenos inchaços decorrentes da má-aplicação até o envolvimento de usuários com grupos ligados ao tráfico de drogas. Em Sergipe, a Coordenação Municipal de DST/AIDS já trabalha com este objetivo. Em uma das campanhas, um texto explica que “o ideal seria que você parasse de usar drogas, mas já que você não consegue, que pelo menos não corra o risco de pegar ou transmitir para alguém que você gosta o vírus da AIDS, hepatite e sífilis”. José Alberto Santana, coordenador do Grupo de Apoio à Prevenção à Aids do Estado de Sergipe – Gapa-SE – tanto os governos Estadual e Municipal já trabalham neste sentido. “Atualmente há vários grupos cadastrando usuários de drogas para uma posterior distribuição de seringas”. Alberto diz que apesar disso, muitos ainda se escondem e não garantem seu acesso ao benefício. “Por medo de serem presos, coisa que não pode acontecer e já está garantida por lei, os usuários não se cadastram e acabam utilizando seringas compartilhadas”. “Até o início do ano passado, os próprios grupos tinham dificuldades de realizar este trabalho. Um grupo acabou sendo preso no Rio Grande do Sul por distribuir seringas”. O coordenador diz que muitos ainda não entendem o verdadeiro sentido do trabalho: “nós não queremos estimular o uso de drogas, mas se nós não podemos impedir, que pelo menos que façamos a prevenção”. Outro ponto tocado por Alberto é a questão das conseqüências indiretas do uso da droga. Algumas vezes, o indivíduo acaba utilizando o álcool ou qualquer outra droga e esquece de se prevenir, seja no ato sexual, seja questão do compartilhamento da seringa. Os dados gerais O Gapa possui um banco de dados em relação à questão do HIV em Sergipe. De acordo com José Alberto, existem 1057 casos relatados de portadores do vírus da Aids. A primeira cidade com maior número de portadores é Aracaju, mas em muitos locais do interior o problema assumiu proporções graves. Um exemplo é Campo do Brito. O município, apesar de não possuir muitos infectados, possui um número bastante grande em comparação à população. Outro local onde o problema é grave é em Itabaiana. “Os dois locais são pontos de parada de caminhoneiros, o que ajuda na propagação da doença”, diz Alberto. Já em Nossa Senhora do Socorro, o problema se dá graças à proximidade da capital. Quanto ao perfil do portador, a maioria é composta por homens heterossexuais situados entre os 22 e 40 anos. Entre as mulheres, a maioria é casada e contrai o vírus dos maridos, que mantém relações sexuais extra-conjugais. “Ainda é muito complicado para uma mulher pedir para o marido colocar a camisinha”, fala o coordenador. Para minimizar o problema, a Secretaria de Saúde do Estado é responsável por acompanhar e dar suporte aos projetos das secretarias municipais e assumir esse papel nos municípios onde não há um programa específico nesse sentido. Além disso, algumas cidades já contam com Centros de Testagem e Aconselhamento – CTAs -, que realizam os exames e encaminham os portadores para o tratamento. Dependência química: doença ou fraqueza?

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