A morte do Senador Antônio Carlos Magalhães priva a Bahia, e por conseqüência, o mundo político nacional de um dos mais experientes profissionais que se conheceu. Era, sem dúvida, uma “raposa”, um termo cunhado com a redemocratização ao final da Segunda Guerra Mundial. Quando ele despontou para a política, na segunda metade dos anos 50, o termo ainda estava no auge. Mas, a sua atuação audaciosa e voluntariosa fez com que ACM ganhasse uma outra denominação: “caudilho”. Não um caudilho à forma do ditador Franco, da Espanha, mas o de um político ágil e sagaz que não via barreiras a sua frente. Sergipe teve também um caudilho, embora mais tímido do que ACM: Leandro Maciel, ex-governador, ex-deputado e ex-senador, por sinal, como o Senador que morreu, ambos de um só partido, a UDN (União Democrática Nacional).
Antônio Carlos Magalhães era um deus para o povo baiano e o diabo para os seus adversários. Amigo das artes (de Jorge Amado, de Glauber Rocha), ACM era também um empreendedor nato: no seu governo, a capital soteropolitana ganhou largas avenidas e o Pelourinho foi otimizado para servir ao povo baiano.
Talvez por isso, por interpretar bem os seus anseios populares, Antônio Carlos Magalhães virou “o dono” da Bahia. Se ideologicamente era instável – procurava sempre se aproximar dos governantes que mandavam no momento, de Fernando Collor a Lula – supria o oportunismo com uma língua ferina e afiada. Era às vezes grosseiro, principalmente com a Imprensa que fazia questão de lhe perguntar coisas que ele preferia se calar. Uma raposa, enfim. “Felpuda”, como toda raposa. Articulador que também atuava nos bastidores, ACM brilhava no Executivo e no Legislativo. Sem nunca largar a sua Bahia querida.
Hoje, Salvador pára para o sepultamento do velho e querido morubixaba. Enterra-se com ele um jeito de fazer político que não deixa sucessor.
Vai-se o homem, fica a fama.
Por Ivan Valença
