Sons no SUS alia música e saúde para tocar pessoas

Projeto leva música às unidades de saúde (Fotos: Ana Lícia Menezes)

O motivo que leva um paciente a postos de saúde ou hospitais pode até ser dos mais simples, mas, mesmo sendo aquela gripe leve, muitas pessoas ficam tensas. Tranquilizar a mente e o corpo nesses locais é uma tarefa desafiadora, mas, em Aracaju, tem gente que atua justamente para ser aquele acalento no momento de desconforto, seja físico ou mental. E é por meio de uma das expressões mais democráticas existentes – a música – que esse acalento chega aos diversos locais de prestação de serviço à saúde na capital sergipana por meio do Sons no SUS.

O projeto foi criado em 2012 e, após um período paralisado, está de voltaO Sons no SUS, formado por quatro musicistas, utiliza a música como o único meio de comunicação e é através das canções que chega às Unidades de Saúde da Família (USF), hospitais municipais (Fernando Franco e Nestor Piva), Centros de Atenção Psicossocial (Caps), Centros de Referência da Assistência Social (Cras), entre outros órgãos públicos, com o único intuito de harmonizar os ambientes e estimular uma cultura de utilização da arte como elemento terapêutico. “Nós já chegamos aos locais tocando. Nossa identificação está na camisa que usamos e verbalizamos por meio das letras das canções. É assim que tentamos promover relaxamento, harmonização e um pouco mais de tranquilidade, seja para os usuários, como também para os funcionários das unidades que também não têm uma rotina fácil”, afirmou o coordenador do projeto, Murilo Andrade.

“Não é show, não é concerto, nem tampouco terapia. O projeto Sons no SUS vem trazendo harmonia”. Esse é um trecho de uma das músicas autorais do projeto, uma maneira de explicar que o intuito é acolher. A ideia é entrar nos locais através da música, tocar para os usuários que estiverem no momento. Não é terapêutico, porque um processo terapêutico não dura 30, 40 minutos, que é o tempo que a gente fica nos locais. Trabalhamos a partir de um pressuposto da Política Nacional de Humanização essa questão densa. A gente chega e tenta modificar o ambiente. É para mexer com os afetos, esse é o objetivo”, explicou o coordenador.

(Foto: Sérgio Silva)

O Sons no SUS é um projeto desenvolvido por meio do Centro de Educação Permanente da Saúde (Ceps), da Secretaria Municipal da Saúde (SMS). Neste centro, são trabalhados três eixos: Educação Permanente, Ensino-Serviço e o eixo Inovação em Saúde. E o Sons está inserido neste último eixo que aporta a criação de práticas de saúde pela ampliação da clínica, fomentando a dimensão subjetiva do viver a partir das conexões saúde-arte-educação.

O projeto voltou às atividades há cerca de dois meses, mas, somente há duas semanas retomou as apresentações nas unidades. Com um repertório composto por aproximadamente 20 canções de diversos gêneros nacionais e, principalmente, nordestinos, o Sons no SUS é criterioso ao escolher as músicas que tocam a alma. “Pensamos em músicas que são da MPB e que são conhecidas pelas pessoas. Fazemos uma seleção e escolhemos as músicas, principalmente, a partir do que dizem as suas letras, o que pode provocar. Como a gente já entra tocando, não existe uma conversa, o meio é a música, então, todo o nosso diálogo, toda a nossa mensagem é através da música. Por isso é tão importante ter um cuidado a mais com a escolha das canções”, destacou Murilo.

Tocando pessoas

Foi para cumprir a sua função de agente de saúde que Bernadete Cardoso foi para mais um dia de trabalho na USF Onésimo Pinto, no Jardim Centenário, mas, ao chegar, foi surpreendida pela música que tocava na recepção do local. “Até o semblante das pessoas muda. É impressionante o que a música é capaz de fazer. Como lido diretamente com as pessoas na minha rotina, sei que muita gente está tratando um problema de saúde, mas que, na verdade, tem um fundo emocional, psicológico que a música ajuda a tratar. Então, é muito benéfico receber o projeto na unidade”, considerou.

Maria das Graças é coordenadora da 8ª Região e sabe muito bem como a rotina de um paciente pode ser estressante. Para ela, a música alimenta a alma. “Na sala de espera é onde vemos que a tensão é maior, mas, quando a espera é com música, se torna mais leve. Não existe uma pessoa que não goste de música. De alguma forma, as pessoas são tocadas e isso faz bem para o corpo e para a alma”, frisou.

Do outro lado da cidade, o Caps David Capistrano Filho, no bairro Atalaia, também recebeu o Sons no SUS. Por lá, mesmo a música fazendo parte do cotidiano dos assistidos, a tônica do projeto arrebata pela sensibilidade, a mesma que dona Maria Luiza Santos tem ao receber os visitantes. Há 16 anos ela é usuária do Caps e já conhecia o trabalho desenvolvido pelo projeto. “Amo música e os meninos deixam a gente mais alegre quando chegam. São tantas canções lindas que a gente tem vontade de danças, cantar junto”, contou.

Outro usuário do Caps, Arnaldo César, tem um contato íntimo com a música. Ele toca violão há 15 anos e, inclusive, faz parte do grupo de música do centro. “Considero melhor do que muito remédio. Alimenta o espírito da gente e nos deixa mais leves para encarar os problemas. Tenho a música como parte fundamental da minha vida e ter o Sons no SUS no Caps é mais uma razão para termos força no tratamento”, disse.

Para a psicóloga Mairla Protásio, a música faz muita diferença no tratamento dos usuários e, por isso, o projeto tem efeito importante na rotina das pessoas. “Ajuda até os profissionais a lidar melhor com cada caso. Além de trazer leveza ao ambiente, garante mais sensibilidade no trato, o que reflete muito nos usuários que se sentem melhor acolhidos e, acolhimento é a base de qualquer tratamento”, ressaltou.

Oficina

Com a resposta positiva vista a partir das atividades desenvolvidas, o Sons no SUS passou a desenvolver a oficina de musicalização ‘Sensações Musicais’. Ela foi pensada e desenvolvida como ferramenta de qualificação de trabalhadores da saúde com a intenção de desconstruir o conceito de música como uma realidade distante do nosso cotidiano. A oficina se constrói a partir do encontro dos elementos rítmicos, melódicos e de improvisação.

No projeto, assim consta a ideia da oficina: “Todos os exercícios propostos são eminentemente práticos e a partir deles somos convidados a fazer analogias com o modo de estar no mundo, de nos relacionarmos com os outros e consequentemente com o processo de trabalho ao qual estamos envolvidos diariamente. O incentivo é para que os participantes experimentem as possibilidades criativas do universo musical, seja executando algum som ou apenas apreciando-o”.

De acordo com Murilo Andrade, o projeto irá percorrer todas as USFs de Aracaju e, depois desse contato, abrirá agenda para a oficina. “Ela será ofertada para trabalhadores e usuários. Durante um turno, a ideia é que as pessoas sintam um pouco a música e percebam que a música faz parte da nossa vida. Programamos uma por mês, mas, vai depender da demanda. Tudo vai passar primeiro pela unidade e, depois, chegará até nós para vermos as possibilidades de agendamento. Nossa prioridade será ofertar a oficina para os grupos que já existem dentro das unidades, como grupo de idosos, por exemplo, ou os que já fazem parte de algum programa”, salientou.

Fonte: PMA

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